A Câmara dos Vereadores de Maceió realizou, nessa segunda-feira (17), uma audiência pública para discutir a segurança nas escolas. A medida ocorre após a repercussão de diversas denúncias de ameaças às unidades de ensino na capital. Representantes da Educação em Maceió estiveram na sessão em busca de discutir possíveis soluções para o problema que tem assustado alunos, pais e professores, a exemplo das portas giratórias.
De acordo com o vereador João Gabriel (PSD), autor do pedido da audiência pública, a sessão tem o objetivo de ampliar a discussão sobre o assunto para a sociedade. O intuito é o de ouvir também as instituições e o próprio município de Maceió para a propositura de ideias.
"Recentemente apresentamos a proposta de portas giratórias nas escolas e detectores de metais. Estive em Chapecó (SC) e estou convencido de que é uma medida que funciona. Mas é claro que vamos também incentivar outras necessidades, como núcleos interdisciplinares de apoio aos estudantes para ser instalado nas entidades educacionais", disse o parlamentar.
O presidente do Sindicato dos Professores da Rede Privada de Ensino do Estado de Alagoas (Simpro), Eduardo Vasconcelos, contrapôs ao discurso do vereador João Gabriel. Para o representante de classe, as portas giratórias não seriam ideias para combater esse tipo de violência. Ele atribui a responsabilidade para além dos muros escolares.
"Educação não é feita apenas dentro da instituição. A educação não é um ato do professor. Mas de todo um corpo escolar, que tem a família que cumpre um papel importante. Educação não se faz sem afeto, que muitas vezes os alunos não têm em casa. Vamos ter que se juntar ao poder público e a Câmara Municipal de Maceió, que cumpre um papel importante. Nos juntamos com o vereador que propôs o projeto das portas giratórias, mas infelizmente não é o ideal. Proporcionalmente, porque quem mais está morrendo é o professor. A educação está sendo colocada em xeque", destacou Eduardo.
Durante a audiência pública, o Secretário Municipal de Educação de Maceió, José Neto, afirmou que a Prefeitura de Maceió vem atuando no sentido de acalmar a comunidade escolar. Segundo ele, Educação e Convívio Urbano e Social têm trabalhado conjuntamente para melhor monitorar os estabelecimentos de ensino. Durante o discurso, ele enfatizou que o órgão municipal está licitando a contratação de porteiros escolares com formação em segurança.
"A princípio a gente trabalha para acalmar, porque a situação ficou um pouco fora do controle, muita pressão para a população, muita fake news. A gente tem trabalhado de forma preventiva junto com a Semscs, para que consiga acalmar a comunidade escolar. Já tinhamos alguns planejamentos, como por exemplo, a contratação de porteiros escolares com formação em segurança. Isso já estava em nosso radar antes de ter esse acontecimento. Já há um processo em fase de licitação para contratação desses profissionais para controlar o fluxo e identificar a entrada de pessoas estranhas às escolas", expôs o gestor da pasta municipal.
Ainda pelo município de Maceió, a secretária-adjunto da Secretaria Municipal de Segurança Comunitária e Convívio Urbano (Semscs), Talyta Nobre, enfatizou que o órgão intensificou as rondas escolares e tem mantido constante contato com os diretores das unidades de ensino.
"Além disso, também estamos ministrando palestras em caso de situações de risco. E estamos conversando com o Executivo Municipal para abordarmos outras estratégias. Tudo isso para tornarmos o ambiente escolar mais seguro", disse Talyta Nobre.
O ex-secretário da Semscs, coronel Bolivar, destacou que os EUA são uma referência no combate a atentados em massa. Ele relembrou o caso de Columbine, que deu início a todo o processo de segurança coletiva, pois o tipo de perfil do agressor pode ocorrer em qualquer lugar.
"A palavra da vez chama-se educação. Temos que dar responsabilidade aos pais, já que eles precisam saber o que os filhos olham na internet e com quem conversam. Têm que saber os passos do filho. O perfil desse tipo de agressor acontece aos nossos olhos. A educação tem que ser dada pelos pais. Na escola vamos buscar o conhecimento. Ele tem que ir educado para a escola. Temos que ter esse viés e essa preocupação", disse Bolivar, defendendo que os sindicatos dos trabalhadores da educação apoiem trabalhos preventivos como os que são desenvolvidos pela Polícia Militar de Alagoas, a exemplo do programa Proerd.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal), Izael Ribeiro, citou o bullying, a alienação parental, as vulnerabilidades dos jovens e ideologias extremistas que circulam na internet como pontos importantes dos quais devem ser levados em considação quando se quer combater esses tipos de ameaças.
"Tudo sem reseponsabilidade das próprias plataformas. A mídia noticiou a existência de grupos no WhatsApp e Telegram. Essa questão do ódio, racismo e misoginia evoluiu muito nos últimos quatro anos e agora chegou com mais força em nossas escolas. Isso foi construído de fora para dentro das escolas. E ainda vem a espetacularização da mídia e isso tem sido colocado para pensarmos de como esses casos devem ser noticiados. Por isso, é importante discutirmos o assunto com várias frentes", afirma.
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O presidente do Sinteal também não acredita em algumas medidas que vêm sendo adotadas pelas instituições de ensino. "Não acreditamos que a presença de pessoas armadas nas escolas seja a solução. Assim como as portas giratórias, monitoramento com câmeras e outros. Precisamos ir além disso e pensarmos um conjunto de políticas públicas com monitoramento dos grupos extremistas e que a população seja desarmada com o desenvolvimento de ações para os grupos de tiro. Que se impeçam crianças de treinar em grupos de tiro. Isso precisa ser barrado", disse o presidente do Sinteal.
O vereador Leonardo Dias (PL) disse que começou a ver os casos a partir do episódio de Blumenau e defendeu que não sejam noticiados os casos com a imagem dos autores dos atentados.
"Entendo que toda a segurança que dermos as crianças e professores ainda é pouco. Mas isso não vai acabar com os casos que temos presenciados. Armas não tem nada a ver com o que estamos vendo agora. Foram usadas armas de fogo, mas sim facas e machadinhas. Temos que tratar as coisas como elas são", defendeu Leonardo.
O parlamentar se posicionou contra a segurança armada nas escolas por acreditar que, ao invés de supreender, ele pode ser supreendido e sua arma ser usada contra os estudantes. Leonardo Dias defendeu que o debate seja feito com as famílias que estão com os pais doentes e, por consequência, os filhos também adoecem.