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Universitários relatam não ter o que comer em meio a cortes de verbas

Estudantes que dependem de auxílios se viram em desespero após governo bloquear recursos das instituições

Eles são universitários, estudam em graduações como psicologia, direito e história. E passam fome. Não é algo eventual, não é por um dia. Alguns recorrem até a uma mistura de farinha com água para sobreviver.

Essa realidade está, por um lado, ligada ao avanço da fome no Brasil -6 em cada 10 brasileiros sofrem atualmente algum tipo de insegurança alimentar, sendo que 33 milhões passam fome, segundo dados da Rede Pensam (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).

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Por outro, o drama dos universitários é relacionado à ampliação do acesso da população socioeconomicamente vulnerável ao ensino superior. O país que criou mecanismos para que jovens de baixa renda entrem na universidade não fez programas suficientes para mantê-los. Os que existem estão ameaçados por cortes e bloqueios de verba na educação que atingem bolsistas e beneficiários de auxílios estudantis.

Na última semana, universitários foram às ruas em protesto contra medida do governo Bolsonaro que congelou pagamentos do MEC (Ministério da Educação), deixando instituições federais com caixa negativo para despesas como assistência para transporte e manutenção de seus restaurantes. O repasse para mais de 200 mil bolsas de pós-graduação, única fonte de renda para muitos pesquisadores, foi paralisado –após a repercussão, a pasta anunciou que o dinheiro deve entrar na conta dos bolsistas até terça (13).

Mas o problema não é novo. "Quer saber como é a vida de um universitário pobre que faz ensino superior em outra cidade ou outro estado? É uma vida de fome", escreveu em julho de 2018 o estudante Rodrigues Silva em um desabafo no Facebook que ganhou repercussão entre alunos e professores.


			
				Universitários relatam não ter o que comer em meio a cortes de verbas
Bruno Santos/Folhapress

O subsídio ao preço da refeição é possível graças ao Pnaes (Plano Nacional de Assistência Estudantil), do MEC. O orçamento anual gira em torno de R$ 1 bilhão e precisa ser dividido entre 69 universidades. O auxílio não é exclusivo para alimentação, mas também para moradia, transporte, esporte e saúde.

Em 2021, em plena pandemia, o Pnaes sofreu corte de 20%, e está desde 2019 sem reajuste, apesar da alta da inflação de alimentos e da ampliação do acesso da população mais pobre às universidades -em 2018, no último levantamento realizado pelas federais, já eram 70% os alunos de famílias com renda mensal de até 1,5 salário mínimo.

Nos últimos anos, restaurantes universitários chegaram a elevar em até 270% o preço das refeições. "Além disso, nem todas as universidades possuem um bandejão", lembra Ricardo Marcelo Fonseca, presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior). "A verba federal para o auxílio aos estudantes é insuficiente. A pobreza aumentou no país e, como o ensino superior se deselitizou, o drama da fome nas universidades se tornou maior", afirma.

O problema não está restrito a universitários de instituições públicas. Estudantes de baixa renda que cursam faculdades particulares com bolsas da própria instituição ou via Prouni, do governo federal, também sofrem com a insegurança alimentar, entre outras dificuldades.

"Nas universidades públicas há chance de haver um bandejão e bolsas, mas, nas particulares, não há nada, o aluno se sente abandonado", afirma Bruna Tsarbopoulos, diretora de educação do Instituto Semear, ONG que combate a evasão universitária com bolsas e mentoria para estudantes.

"E mesmo nas universidades que possuem bandejão, eles podem estar disponíveis em alguns campi e em outros não. Além disso, há os que oferecem só almoço e não jantar ou que não abrem no fim de semana", exemplifica. "As moradias no campus nem sempre têm geladeira, fogão, e os alunos não têm opção para comprar comida por um preço razoável nas redondezas."

O problema da fome entre universitários vem aumentando nos últimos anos, ela diz. "Não temos dados específicos, mas é algo que percebemos com os nossos bolsistas", afirma.

O Semear hoje tem 200 bolsistas, que recebem em torno de R$ 4.200 por ano, além de orientação para procurar moradia e estágio, entre outras questões.

Zacarias Ferreira da Costa Neto, 25, estudante do último semestre de arquitetura da Fiam Vila Mariana, próximo à avenida Paulista, em São Paulo, conta que é comum que universitários tenham de escolher entre almoçar ou comprar um livro ou outro material do curso. Natural do interior do Ceará, ele mora com a mãe, que é diarista, em Santo André (região do ABC) e entrou na universidade com bolsa.

O primeiro ano foi o mais difícil, e muitas vezes ele passava o dia só com um lanche. Quando tinha mais dinheiro, dividia com uma amiga um prato-feito, que na época custava R$ 20 -hoje custa pelo menos R$ 30. "Eu sou vegetariano, então ela ficava com a carne e eu, com a salada." E o arroz com feijão, ele conta, era metade para cada um.

"Não é que eu não tivesse dinheiro naquele dia, mas eu tinha que fazer um balanço e decidir em que gastar. Não podemos deixar de pensar no custo dos materiais, ainda mais no curso de arquitetura", diz o jovem, que é da diretoria da Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura. "É um esforço que fazemos para estudar", explica.

Também estudante de arquitetura, Karine Reis, 24, enfrenta as dificuldades emocionais pós-pandemia, que se somam aos outros desafios de uma aluna cotista da USP (Universidade de São Paulo).

Como não conseguiu vaga no Crusp, o conjunto residencial da universidade, e não tem como pagar por moradia na região, ela mora com a família no Jardim Peri Alto, na zona norte da capital. Leva duas horas para ir e mais duas para voltar, e fica na USP das 8h às 22h -o curso é integral, e ela prefere fazer os trabalhos e estudar no campus, em vez de deixar para quando chega em casa, tarde da noite. Assim, almoça e janta no bandejão. "Resumindo, eu moro no campus, só não tenho onde dormir lá."

O grêmio fornece os principais materiais para os alunos, e Karine conta com bolsas da USP, num total de R$ 1.000 mensais. Além do auxílio para alimentação e transporte, há o apoio para pesquisa, e a estudante está em um projeto de arquitetura dentro de quilombos. "Quero entregar o que a sociedade está esperando, e não o que eu, como membro futuro de uma elite, espero."

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