Charles III assume o trono britânico também como chefe de Estado de 14 nações fora do Reino Unido – 19 a menos do que sua mãe, Elizabeth II, liderava em 1952, quando foi proclamada rainha. O premiê de Antigua e Barbuda sinalizou neste fim de semana que pretende fazer um referendo para torná-lo república, em mais um indício do movimento que cresce, entre esses países, para manter distância da Casa Real.
Foi o que fez Barbados, país insular de 300 mil habitantes no Caribe, ao romper em novembro passado os laços com a monarquia britânica, depois de quatro séculos. Então príncipe de Gales, Charles esteve presente à cerimônia que promoveu a representante da rainha, Sandra Mason, de governadora-geral a presidente da nova república. Era a primeira vez em quase 30 anos, depois da ilha de Maurício, que um reino optava por remover a monarquia britânica da chefia de Estado.
Leia também
O premiê de Antigua e Barbuda, Gaston Browne, ressaltou que a sua proposta de referendo não significa um ato de hostilidade; tanto que o governo se apressou a ratificar Charles III como chefe de Estado. “É o passo final para completar a independência e garantir que sejamos verdadeiramente uma nação soberana”, alegou.
Outros países, como Jamaica e Belize, reavaliam suas relações com a monarquia. Palco de protestos durante a visita dos príncipes William e Kate, em março passado, a Jamaica pede reparação financeira pela colonização. Um grupo de ativistas ostentava faixas com os dizeres "seh yuh sorry", exigindo que o Reino Unido se desculpe pela escravidão no país, independente desde 1962, mas ainda ligado à monarquia.
Charles terá que lidar com a insatisfação alimentada nesses 14 países distantes em que é rei e também manter o seu papel como chefe da Comunidade das Nações, que engloba 56 membros. À exceção de Moçambique e Ruanda, os demais faziam parte do Império Britânico.
No entender do professor Philip Murphy, diretor de História e Política do Instituto de Pesquisa Histórica de Londres, entre os desafios enfrentados por Charles III está o de ajudar a garantir a sobrevivência dessa entidade num momento em que a própria monarquia, mesmo como símbolo, parece cada vez mais anacrônica.
Em artigo na revista americana “Foreign Affairs”, ele observou que a rainha Elizabeth II mostrou habilidade em reinventar a monarquia num mundo pós-imperial. “Mas, ao fazê-lo, ela também mostrou as limitações da influência real”, escreveu o autor de “Monarquia e o fim do Império”.
É interessante assinalar ainda que o Reino Unido vive na realidade pós-Brexit, que ressuscitou feridas antigas como a independência da Escócia e do País de Gales, assim como questionamentos sobre o status da Irlanda do Norte.
Trata-se de mais um sinal de que, além de trabalhar pela manutenção da Comunidade das Nações e evitar que ela se deteriore, Charles deverá reforçar os laços para, internamente, manter unido o reino de Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.