O artista plástico Carlos Bracher, de 80 anos, já pintou mais de 300 retratos. Maria Bethânia, Chico Buarque, Tony Bennett e Henry Kissinger estão entre os famosos que ganharam obras do mineiro. Mas um quadro em especial desapareceu junto com o retratado.
Onde está o retrato de Belchior?
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“Esse quadro sumiu na mesma época em que Belchior desapareceu. Será que nas andanças dele, esse retrato não foi trocado? Doado? Será que está em um hotel? Restaurante? Na casa de alguém? É um mistério”, disse Carlos Bracher.
O cantor e compositor cearense, autor dos clássicos “Como Nossos Pais”, "Sujeito de Sorte", "Alucinação", "Coração Selvagem", "Apenas Um Rapaz Latino Americano", morreu em Porto Alegre (RS), em 2017.
Ele não tinha paradeiro certo desde 2008. Em 2007, a família reclamou do sumiço do artista, que abandonou a carreira; e nem mesmo seu produtor musical conseguia contato. A partir daí, foram surgindo boatos a respeito do paradeiro do cantor.
Belchior chegou a abandonar ao menos dois carros, sem explicação. Um deles, deixado no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, acumulando milhares de reais em dívidas de estacionamento. Outro veículo, uma Mercedes Benz do cantor, foi largado em um estacionamento também em São Paulo, onde ele morava antes de ir para o Uruguai.
Belchior chegou a ser procurado pela polícia em 2012 devido a uma dívida de US$ 15 mil em um hotel na cidade de Artigas, no Uruguai, por seis meses de diárias.
'Ele bateu aqui em casa'
Neste período de sumiços e desencontros, Belchior bateu na porta de Bracher, na cidade histórica de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais. A data certa, Bracher não soube dizer. Detalhe: eles nunca tinham se falado antes.
“Não éramos amigos, muito menos conhecidos. Foi a coisa mais maravilhosa e louca essa história. Ele bateu aqui em casa, tomamos cerveja, vinho, nos ‘intoxicamos poeticamente’. Aí ele disse que tinha decorado o livro ‘A Divina Comédia’. Você imagina uma mente dessas? Incrível”, contou Bracher.
Durante o encontro, o artista plástico pintou o retrato de Belchior. Ele ficou com a obra. A partir daí, não há pistas de seu paradeiro.
Quem acompanhou a pintura foi uma das filhas de Bracher, a atriz Larissa Bracher.
“Eu tive a honra de presenciar esse momento e estou ali do lado esquerdo da foto. À época, Belchior estava traduzindo a bíblia do aramaico para o português e escrevendo num livro sem pauta, com caligrafia medieval, em bico de pena e tinta. Um cara genial, culto, generoso, do bem. Infelizmente ninguém sabe o paradeiro do retrato”, contou ela em uma rede social.
Larissa disse que entre os anos de 2014 e 2015, quando a exposição “Bracher: Pintura & Permanência” estava em turnê pelo CCBB, a curadoria tentou encontrar o retrato, mas a busca foi em vão.
“Fizemos de tudo para inseri-lo na mostra. O retrato sumiu tão misteriosamente quanto o próprio Belchior” falou a atriz.
O jeito agora é ficar atento às paredes. Quem sabe o rapaz latino americano não está pendurado bem aí, atrás de você?