Após pescadores e marisqueiras que vivem no entorno da Lagoa Mundaú denunciarem o aparecimento de uma grande quantidade de peixes mortos e boiando às margens da laguna, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que tentam auxiliar na elucidação do fenômeno, afirmam que trabalham com a hipótese de algum produto ter sido lançado na água e estar causando a mortandade.
A informação foi divulgada no site da universidade. No texto, o pesquisador Emerson Soares, coordenador do Laboratório de Aquicultura (Laqua) e pesquisador da qualidade da água e da Ecotoxicologia Aquática, afirma, inclusive, que o acúmulo de matéria orgânica na água foi praticamente descartado enquanto causa.
As análises da água começaram na manhã desta segunda-feira (14) e o resultado deve ser divulgado na quinta (17). Além das análises físico-químicas, que serão realizadas pela Ufal, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) informou que fará um rastreio microbiológico. De acordo com o instituto, inicialmente, não é possível indicar uma causa provável.
Um filme de óleo que teria aparecido sobre a água e apontado por alguns pescadores como causa, não aparenta ter relação direta com o incidente, considerando que os animais que apareceram mortos não são de superfície.
O professor Emerson Soares convidou outros pesquisadores da Ufal para auxiliar na investigação. São os integrantes do Laboratório de Sistemas de Separação e Otimização de Processos (Lassop), coordenado pelos professores João Inácio Soletti e Sandra Helena Carvalho; e o Laboratório de Instrumentação e Desenvolvimento em Química Analítica (LInQA), coordenado pelo professor Josué Carinhanha. Esses pesquisadores já atuaram juntos na força-tarefa que investigou o derramamento de óleo no litoral nordestino, em 2019.
“Ainda vamos aprofundar as investigações nos três laboratórios, e vamos analisar também os peixes. A princípio, não parece ser um problema de matéria orgânica acumulada na laguna. a hipótese é que seja realmente algum produto lançado nas águas. Mas só poderemos confirmar com mais alguns testes e em breve estaremos divulgando os laudos”, avisa o pesquisador.
POPULAÇÃO TEME CONTAMINAÇÃO
De acordo com Maurício Sarmento, morador da região e integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), quem vive dos pescados na região está com medo e em busca de respostas. “Agora, a maré alta já encobriu os peixes e a situação. Mas a água estava com um aspecto oleoso, com bolhas”, conta.
Ele vive na região desde que nasceu, há 43 anos. Ele diz que muitas coisas já ocorreram na lagoa nesse período, mas que nunca tinha visto algo do tipo.

“Foram vários peixes, muitos ainda vivos, mas boiando perto da beira da lagoa. Pescadores do entorno coletaram caixas e mais caixas de peixes, que estavam lá, boiando. Ainda vivos, mas boiando, como se tivessem algum problema", relata o morador.
Já a pescadora Betânia Ferreira diz que a quantidade de pescado foi tão grande que era possível pegar na mão sem qualquer dificuldade. “Pegamos uns 10kg, 11kg. Siri, camarão também (...) tava tudo bom. A gente vendeu e comeu. Não podemos jogar comida fora”, afirmou.
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Para Maurício, não poder consumir ou vender os pescados é uma preocupação da população que vive no entorno da laguna Mundaú.
“Eu não utilizo a lagoa como minha fonte de renda, mas esperamos todos que as amostras não tragam contaminação como resultado e que isso prejudique o consumo dos pescados. Já temos problemas demais por causa do afundamento do solo e sem os pescados, que são o meio de sobrevivência das pessoas aqui, será um caos”, diz ele.