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Mulheres definem espaços no universo 'masculino' do futebol

Com oito mulheres no quadro, Comissão de Arbitragem da FAF espera aumentar número de profissionais e contar com uma árbitra central

São em média 90 minutos. Corre para um lado e para o outro. É preciso ter atenção a cada detalhe dentro e fora de campo. Os técnicos e jogadores cobram e os torcedores gritam, soltam xingamentos, palavras de baixo calão. O cenário já é bastante desafiador, some a isso alguns conceitos machistas, como "futebol não é lugar de mulher". Mas rompendo todas as barreiras e enfrentando as opiniões alheias, elas têm marcado o universo "masculino" do futebol e mostrado que "lugar de mulher é onde ela quiser".

Alagoas, além da hexa melhor jogadora do mundo, a Rainha Marta, conta com oito mulheres no quadro de arbitragem da Federação Alagoana de Futebol (FAF), sendo que quatro delas também estão no quadro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e podem atuar nos jogos nacionais.

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Apesar de cenas como a registrada no jogo CSA x Murici, no dia 31 de janeiro, no Estádio Rei Pelé, ainda estamparem as redes sociais, o presidente da Comissão de Arbitragem da FAF, Charles Hebert, destaca que a atuação das mulheres em Alagoas é de extrema importância.

A história da mulher na arbitragem, segundo Charles, teve início entre as décadas de 80 e 90, com nomes como Maria Edilene, de Pernambuco, e Silvia Regina. Alagoas seguiu os exemplos nacionais e realizou o primeiro curso de árbitras femininas em 1998.

No período, a arbitragem alagoana passou a contar com a árbitra assistente Ticiana Falcão, que também pertenceu ao quadro da Fifa. "Atualmente, são oito mulheres no quadro, sendo quatro no quadro da CBF, que podem atuar nos jogos nacionais, e quatro no quadro local, que só podem atuar no estado. No entanto, na escola de formação de árbitros há três mulheres fazendo o curso. E, com isso, poderemos chegar a 11 mulheres no quadro".


			
				Mulheres definem espaços no universo 'masculino' do futebol
FOTO: Arquivo Pessoal

O preconceito

É comum árbitros e juízes serem incompreendidos pelos jogadores, pela equipe técnica e xingados pelos torcedores. Até os familiares recebem algumas "pragas". Quando o erro é cometido por uma árbitra, a reação pode ser bem exagerada, já que para muitos "mulher não entende de futebol".

Para lidar com as mais diferentes situações de pressão, o presidente da Comissão de Arbitragem da FAF destaca que homens e mulheres são recebem orientações para estarem preparados. "Desde 2017, a FAF tem uma psicóloga esportiva no quadro. Ela faz um trabalho com todos do quadro de arbitragem, independente do gênero. Os árbitros são preparados para sofrer qualquer tipo de pressão dentro do campo".

Entre as orientações da Comissão está que tudo que acontecer de anormal, qualquer tipo de conduta antidesportiva, agressão verbal ou moral, deve ser relatada na súmula da partida para que os tribunais e entidades envolvidas no evento possam adotar as punições cabíveis. "E dentro de campo, que seja aplicado os cartões quando forem necessários, sendo o cartão amarelo quando for conduta antidesprotiva e cartão vermelho para agressão", explica Charles.

O presidente destaca ainda que nos dois últimos anos da atual gestão da Comissão de Arbitragem denúncia de machismo foi registrada. "Nem nos jogos e nem no ambiente fora dos jogos, nenhum tipo de denúncia", conta Charles.

Há ainda que critique a atuação das mulheres na arbitragem de futebol alegando que elas não conseguem acompanhar o ritmo dos jogadores. Segundo o presidente da Comissão, para atuar em jogos masculinos, as mulheres enfrentam o mesmo nível do teste físico dos homens e a mesma prova teórica. Charles defende que não há isonomia, não há diferença no tratamento dos profissionais femininos ou masculinos e que não há nenhum tipo de falta de respeito.

O espaço na Comissão de Arbitragem

Dentro da Comissão, a relação entre homens e mulheres é extremamente profissional. "Com os árbitros, assistentes, comissão de arbitragem, jogadores e técnicos, não há diferença em relação ao tratamento dado aos homens. Nas escalas dos jogos, sempre há mulheres participando", destaca Charles.

A Comissão de Arbitragem reconhece o papel primordial das mulheres no quadro do futebol. "Em 2017, os melhores árbitros assistentes do Campeonato Alagoano foram Raquel Barbosa e Ana Paula. Isso mostra que não há diferença nenhuma e que elas são iguais ou muitas vezes superiores no trabalho que elas são designadas".

O presidente destaca ainda que as quatro árbitras assistentes alagoanas que integram o quadro da CBF - Raquel Barbosa, Ana Paula dos Santos, Maria de Fátima Trindade, Brígida Cirilo - representam o estado nas competições nacionais.

"Elas têm desempenhado um papel de muita importância para a arbitragem e para o futebol alagoano. Agora temos o objetivo de ter uma árbitra central no estado. A gente torce para que alguma das novas árbitras, que estão no curso de arbitragem da FAF, possa seguir como árbitra central".


			
				Mulheres definem espaços no universo 'masculino' do futebol
FOTO: Pei Fon / TNH1

Experiência no jogo CSA x Murici

A partida entre CSA e Murici, além do placar de 2 a 1, ganhou destaque a atitude dos jogados do Murici. Após o ataque do CSA fazer uma jogada, o goleiro Léo e o zagueiro Adalto acabaram se chocando. E, assim, a bola ficou livre para Patrick Fabiano, que marcou o segundo gol do Azulão. Naquele momento, José Jaini Bispo, árbitro da partida ficou com alguma dúvida e demorou para validar o gol. Foi então que os jogadores do Murici foram para cima da assistente Raquel Ferreira.

A cena foi registrada pela fotógrafa Pei Fon e repercutiu nas redes sociais.

No quadro nacional da CBF desde outubro de 2012 e formada há 10 anos no curso de assistente, Raquel explica que nesse tipo de situação procura ser o mais profissional possível. "Temos uma preparação específica para lhe dar com esse tipo de situação exposta na foto e que é acompanhada por um profissional da psicologia. Esse treinamento é constante e precisamos colocá-lo em prática sempre que vamos atuar em jogos".

Raquel destaca que o futebol ainda conta com uma porcentagem maior de profissionais masculinos. Ela atrela isso a histórica cultura, que definia o esporte como praticado por uma quantidade maior de homens. "Porém, com muita persistência, as mulheres vêm ganhando espaço pela sua capacidade profissional".

Mesmo com cenas como a registrada na partida, Raquel diz que a família apoia a profissão, no entanto, algumas situações eles preferem evitar. "Meus pais estão cientes de que os xingamentos são constantes, principalmente a minha mãe. Porém, ela nunca foi a um jogo de futebol para ver na prática como ocorre".


			
				Mulheres definem espaços no universo 'masculino' do futebol
FOTO: Cortesia

A mulher dentro do estádio

O machismo no futebol é recorrente, e torna-se ainda mais duro quando a mulher vai ao estádio assistir ao jogo do time que torce. A probabilidade de ouvir comentários maldosos é de quase 100% durante os 90 minutos. Se ela faz alguma análise sobre algum lance da partida, logo é surpreendida por um algum comentário maldoso, como, por exemplo, a clássica pergunta: "você sabe o que é impedimento?", que vai além, "cala a boca, você não entende nada", "tá aqui por causa do seu namorado, né?". São diversas as "brincadeiras" que machucam as torcedoras, que estão ali por um bem comum: o amor pelo time do coração.

Além do machismo estampado, é possível presenciar cenas de assédio nas arquibancadas. A torcedora alagoana, Carla Santiago, conta que em todos os jogos é fácil encontrar homens que soltam comentários de mau gosto e olhares diferenciados que constrangem as mulheres.

Da partida entre CSA x Murici, a torcedora lembra os muitos gritos que ouviu em meio à torcida durante a cena com a assistente da arbitragem Raquel Barbosa. "Eram muitas palavras de baixo calão direcionadas a ela, eu fiquei assustada e indignada, pedi respeito aos torcedores que estavam aos gritos. Naquele momento eu estava pensando que poderia ser eu. Gritos com frases machistas, 'vaca', 'p*', 'você deveria estar em casa cozinhando e lavando roupa, não entende nada', 'bandeirinha burra do c***', além tantos outros de xingamentos. Tudo isso me deixou extremamente triste", disse.

Diante das cenas e comentários preconceituosos, ela garante que mulheres estão criando consciência de que podem frequentar e torcer em um ambiente que ainda é considerado por muitos como somente masculino. "O futebol não é só dos homens, nunca foi, e nós estamos encarando com mais firmeza do que antigamente. Acontece sempre. Não vamos nos calar, só queremos igualdade", ressalta a torcedora.

* Colaboradora

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