De acordo com matéria publicada no site da Revista Veja, o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, rachou no Senado. A causa é um tema caro ao governo e põe em lados opostos o senador Flávio Bolsonaro (RJ), o Zero Um, e os demais senadores da legenda bolsonarista.
Flávio estaria empenhado em impedir a instauração de uma comissão parlamentar de inquérito destinada a investigar o poder judiciário. Segundo a revista, ele estaria "à beira de um ataque de nervos". Juíza Selma Arruda (MT), Soraya Thronicke (MS) e Major Olimpio (SP), expoentes do PSL, apoiam a criação da chamada CPI da Lava-Toga.
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"A senadora Juíza Selma esclarece que, devido a divergências políticas internas, entre elas a pressão partidária pela derrubada da CPI da Lava-Toga, está avaliando a possibilidade de não permanecer no PSL", dizia o texto publicado nas redes sociais da senadora na última terça-feira. "Selma confirma, ainda, que não vai retirar sua assinatura da CPI para investigar integrantes do Supremo." Curta e insípida, a nota não reflete nem de longe o grau de tensão dentro da bancada.
MEDO QUE INVESTIGUEM

Em suas conversas, Flávio Bolsonaro bate na mesma tecla: a CPI da Lava-Toga pode causar ruídos na relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, prejudicar a governabilidade e implodir uma relação harmônica construída entre os chefes dos três poderes.
A dita harmonia entre os poderes tem alguns custos: em julho, o Supremo Tribunal Federal arquivou dois inquéritos contra o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), a pedido da Procuradoria-Geral da República. Ele segurou todas as tentativas de instalação da CPI da Lava-Toga. No mesmo mês, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, suspendeu o processo sobre Flávio Bolsonaro e, ainda, todas as investigações criminais que usam os dados do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), extinto por Bolsonaro depois de explicitar transações suspeitas do Zero Um.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro indicou para o cargo de procurador-geral da República Augusto Aras, que conta entre os seus padrinhos justamente Flávio Bolsonaro e Dias Toffoli. "É muito claro hoje em Brasília que foi feito um acordão. O que temos aí é um pacto entre autoridades, e não entre os poderes", afirma o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), autor do requerimento de criação da comissão parlamentar de inquérito. Os chefes dos poderes negam a existência do acordo.

"Eu estou recebendo bastante pressão. Me disseram que eu iria ficar sem chances de absolvição. Não acredito que o tribunal vá ceder a uma pressão dessa", declara Selma, que está negociando sua filiação ao Podemos.
O líder do PSL no Senado, Major Olímpio, também recebeu um telefonema do senador Flávio Bolsonaro. "O tom foi muito ruim. Para mim, o Flávio não existe mais." Assim como seus colegas de bancada, Olímpio alega que uma das bandeiras do PSL na campanha era o combate irrestrito à corrupção. Blindar o Judiciário seria uma espécie de estelionato eleitoral.
"Cada um com seus problemas. Não vou fazer nada para agradar ao Flávio. Ele é tão senador quanto eu. Quero que se dane o fato de ele ser filho do presidente", afirma Olímpio. Ele também aponta para a existência de um acordão, só que prefere chamá-lo de outro nome: "Recebo com muita tristeza as manifestações de que essas investidas são para apaziguar o ânimo entre os poderes. Isso é, na verdade, um quebra-galho geral".
Desde o início da legislatura, em fevereiro, houve três tentativas de criação de uma CPI sobre o Judiciário ? mesmo sem qualquer fato concreto que justifique a medida e com o claro objetivo de constranger os ministros do Supremo Tribunal Federal. Todas foram arquivadas. Agora, o plano é esquadrinhar a decisão do ministro Dias Toffoli de instaurar um inquérito para apurar as chamadas fake news e as ameaças feitas contra os integrantes do Supremo. Os parlamentares temem que esse inquérito, que corre em sigilo, seja usado para coagir a classe política. Na dúvida, os Bolsonaro, pai e filho, acham melhor não cutucar o vespeiro.
*Com informações da Revista VEJA