A Polícia Federal acompanhou, na manhã desta sexta-feira (7), o secretário nacional do audiovisual substituto, Helio Ferraz de Oliveira, em uma operação na Cinemateca Brasileira, que há meses se encontra no centro de um imbróglio entre o governo federal e a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, que a administra.
Segundo integrantes de grupos de apoio à Cinemateca e funcionários da instituição, eles chegaram por volta das 9h, de forma "ostensiva" ?havia duas viaturas da PF e da Guarda Civil Metropolitana no local.
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Após reunião na qual participaram também coordernadores da Cinemateca, representantes da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual e Roberto Gervitz, da Associação Paulista de Cineastas, as chaves da instituição foram entregues ao poder público. Manifestantes protestaram contra o governo em frente ao local.
Procurado, o Ministério do Turismo disse que não comentaria o caso por telefone. A assessoria de imprensa do órgão também não respondeu aos emails da reportagem.
"É uma irresponsabilidade muito grande, eu caracterizo como crime de responsabilidade administrativa, uma improbidade", afirma o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL), que passou a manhã no local e acompanhou parte da reunião.
Ele diz ainda que acionará os órgãos públicos para questionar a maneira como o processo foi feito que a entrada da Polícia Federal na Cinemateca é "execrável e deplorável". "Me parece que o governo só pretende mesmo fazer guerra ideológica, não tem compromisso com a preservação do nosso patrimônio histórico."
O secretário especial da Cultura, Mário Frias, havia enviado, nesta semana, um ofício à Roquette Pinto pedindo a "entrega das chaves" da Cinemateca até esta sexta. O pedido aumentou as tensões entre o governo e a Roquette Pinto, que há meses estão numa disputa envolvendo a insituição.
O governo federal argumenta que o contrato da associação se encerrou no fim do ano passado. Ela, por sua vez, afirma que o acordo vale até 2021. O impasse se deve a um adendo ao documento, cuja validade jurídica é questionada.
Um dos principais acervos audiovisuais da América Latina, a Cinemateca Brasileira está há meses sem receber repasses financeiros do governo. Seus funcionários estão sem receber salário e a sede da instituição deixou de contar com serviços essenciais para seu funcionamento.
No mês passado, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil contra a União devido aos impasses em torno da gestão da Cinemateca, alegando que o Poder Executivo é responsável pelo "estrangulamento financeiro e abandono administrativo" do órgão.