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Professora Trans diz que fala de ministro desconstruiu luta

Ela lembrou que falta de informação amplia preconceito e gera desrespeito

"Eu ouvi o desmonte de tudo que foi construído e historicamente foi lutado em relação à cidadania trans e travesti. [...] Precisamos entender primeiro que a escola é um espaço da diversidade, é um espaço de pluralidade, é um espaço que deve pautar o respeito".

A declaração é da professora e mestre em educação Dayanna Louise, sobre a declaração do ministro da Educação, Milton Ribeiro.

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Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", o gestor afirmou, entre outras coisas, que discussões sobre gênero não deveriam ocorrer na escola, que "não concorda" com quem "opta por ser homossexual" e que tem "certas ressalvas" sobre professores transgêneros, além de afirmar que gays são frutos de "famílias desajustadas".

Formada em história e serviço social, com mestrado na área de educação, Dayanna Louise enfrentou um longo processo até se reconhecer como trans. Desde o medo de aparecer, nos tempos de escola, até ir lecionar em sala de aula, a professora encarou diversos desafios.

"Na educação básica, eu gostaria de fazer qualquer curso que eu não precisasse aparecer publicamente, que eu não tivesse visibilidade, porque eu já sentia que haveria uma forte rejeição a minha forma de ser e de existir. É muito perverso você ter sonhos ceifados por medo de ser violentada", contou.

Segundo Dayanna, o medo de ser julgada permaneceu quando pensava em fazer faculdade. Também queria cursar qualquer graduação em que não fosse necessário aparecer publicamente ou que houvesse, para ela, o mínimo possível de visibilidade.

"O processo da transfobia é diário. O fato de você ocupar determinados papéis não lhe coloca imune. A transfobia não olha sua carteira de trabalho, não olha seu contracheque, não olha a sua posição. Ela desconhece qualquer desses instrumentos. As pessoas não sabem o lugar que você ocupa", disse.

Em 2008, Dayanna passou num concurso público e acabou, posteriormente, ingressando no curso de história, mas sem pensar em dar aula. Para ela, era como "atravessar cerca de arame farpado diariamente". Quando começou a dar aula, os desafios se intensificaram.

"Eu ingressei [na docência] numa escola de periferia e meu medo inicial era qual seria a reação dos estudantes em relação ao meu corpo, à minha imagem, à minha presença. Eu estava me reconhecendo [como trans], porque na minha educação básica não tive acesso. Eu me via como um corpo estranho no mundo. Passei por várias crises, eu não conseguia me entender nesse mundo", afirmou a professora.

Antes de se reconhecer como mulher transsexual, Dayanna se via como gay. Somente quando terminou a universidade e já estava lecionando na educação básica, a jovem conseguiu se compreender melhor. O trabalho de conclusão de curso dela foi sobre pautas de travestilidade e, ao ter acesso à discussão, ela disse que conseguiu, "além do meu diploma, um encontro comigo mesma".

"Considerar a homossexualidade, a transexualidade como uma opção é fechar os olhos para a própria realidade nacional. Nós somos um dos países que mais mata população LGBT no mundo. Então, quem, em sã consciência, optaria fazer parte de um grupo que sofre um processo de extermínio muitas vezes legitimado pelo estado? Nós temos uma institucionalização da violência contra os corpos LGBT. Quem, em sã consciência, escolheria fazer parte desse grupo que tem sofrido perseguição e opressão nesse país?", questionou.

Para Dayanna Louise, que sente na pele, diariamente, esse tipo de preconceito, ter uma pessoa trans entre os estudantes é desafiador para uma escola, mas isso se intensifica quando se trata de uma professora.

"As pessoas naturalizam que os corpos trans e travestis podem estar na esquina seminus. Quando esse corpo trans e travesti ocupa um lugar na docência, isso causa estranhamento. A gente está em pleno ano 2020 naturalizando que certos corpos podem estar na prostituição e não no espaço escolar, e faço um diálogo com a fala do ministro, dizer que é nocivo a experiência da docência trans no espaço escolar é extremamente perverso e uma lógica de genocídio", declarou.

A escola, para Dayanna Louise, é um espaço de disputa, uma arena de conflitos e interesses. Ela acredita ser do estado a obrigação de garantir o direito de acesso e permanência de todos no ambiente escolar.

"Ela também é atravessada por discursos neoconservadores. Declarações como a do ministro da Educação é dar crédito a uma história de opressão, de exclusão, de segregação. E, ao mesmo tempo, é um salvo conduto para que a escola continue amolando a faca para que pessoas lá fora terminem esse serviço. É muito grave, é muito sério, ver essa institucionalização da violência, ver a escola como um não lugar para determinadas experiências e de ser e existir. É também um desrespeito às várias conquistas legais que garantem essa pluralidade na escola", afirmou.

"Quanto mais nós tivermos escolas plurais, diversas e diversificadas, mais a escola vai estar cumprindo seu papel de pautar o respeito às diferenças. Então, é muito nocivo quando temos entes institucionais dizendo que a escola é não lugar para essas pessoas. A escola é o lugar da diversidade, é o lugar do respeito, ao menos deveria ser", afirmou.

Da mesma forma, na experiência de Dayanna Louise, o acolhimento aos corpos trans é mais simples entre os próprios estudantes que entre outros professores. Isso se deve, segundo ela, à existência de uma geração de discentes que, por ter acesso a discussões sobre diversidade, é mais aberta a respeitar e compreender a existência da diferença.

"Escola e família deviam estar em constante diálogo. Ao mesmo tempo em que a escola é um espaço de exclusão, violência e segregação, ela pode também ser um espaço de acolhimento, de apoio, de reconhecimento, um espaço de potencialização de ser e de existir. Temos diversos relatos de estudantes que se sentem muito melhor no espaço escolar do que em sua casa, porque em sua casa, muitas vezes, a opressão e violência se tornam ainda mais presente", declarou.

"Então, a nossa luta, digamos assim, é para que mais pessoas possam estar ocupando esses lugares. Para que meninos e meninas possam sonhar e ver que isso é possível. E que isso é possível por caminhos menos dolorosos do que eu enfrentei e do que os que vieram antes de mim enfrentaram", contou.

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