Presos em operação contra a milícia em sítio em Santa Cruz, começaram a deixar o Complexo Penitenciário de Bangu, localizado na Zona Oeste do Rio, na tarde desta quinta-feira (26).
Entre os 159 detidos na operação, que aconteceu no dia 7 de abril, 137 tiveram a prisão preventiva revogada pelo juiz Eduardo Marques Hablitschek, da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz.
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Por volta das 19h20h, 50 detidos tinham saído da prisão. Mais cedo, a assessoria de comunicação da Defensoria Pública informou que os 137 vão ser liberados com alvarás individuais. A expectativa é que sejam liberados em ordem alfabética.
Alex Sandro Silva de Paula foi o primeiro a sair do presidio de Gericinó. "Alívio, muito alívio! Foram quase 20 dias de sufoco. A gente ficou mais preocupado com nossos familiares aqui fora", disse. Nove presos já tinham deixado a prisão antes das 14h15. Os agentes do presídio disseram que só receberam, até o momento, nove alvarás e que todos foram cumpridos.
Alexandre Mourão, que também estava na lista dos primeiros a sair do presídio, disse que os detidos na operação foram maltratados pela Polícia Civil.
"Foi uma festa em que as pessoas entraram e pagaram o ingresso. A polícia foi muito cruel, tanto no sítio quanto na Cidade da Polícia. Fomos agredidos a socos, pontapés, há relatos de agressões até mais sérias", disse Mourão. "O estado está nos deixando sequelas que jamais serão apagadas", acrescentou.
Outro dos presos soltos, Anderson dos Santos, disse que "entre os 21 ainda tem inocentes", referindo-se aos 21 que vão permanecer em prisão preventiva.
Durante a saída dos presos, os familiares aplaudiam e comemoravam muito. O local de espera foi preenchido pelos gritos de "Justiça, Justiça". Muitos parentes chegaram cedo ao presídio para aguardar o alvará de soltura dos presos. Camila Silva, de 27 anos, é esposa de Fábio Pereira da Silva, um dos detidos. Apesar de terem sido apreendidos 24 fuzis, Camila conta não ter visto nenhum dos membros da festa com fuzis no sítio Três Irmãos, em Santa Cruz, e que também não viu nenhuma movimentação de milicianos no local.
"Era um show como vários que já fui. Quando a polícia chegou, as mulheres foram separadas e foram sendo liberadas em grupos de 10. Pediram para a gente não olhar pra trás", afirmou ela.
Ela diz que o marido é motorista de um caminhão de coleta de lixo que presta serviços à Comlurb. Quando ele for solto, ela diz que irão até o RH da empresa para ver se ele poderá manter o emprego. Com Fábio, Camila tem um filho de 6 anos, para quem inicialmente não disse a verdade sobre o destino do pai.
"Eu disse que ele estava viajando, mas ele é muito esperto. Na escola, os amiguinhos falaram pra ele; e eu fui lá, conversei com a coordenadora pedagógica. Ele ficou com febre todos os dias", lamenta ela.
Segundo investigações da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, no local foi realizada uma festa para celebrar a aliança entre o chefe da milícia de Campo Grande, Wellington da Silva Braga, o Ecko, e Danilo Dias Lima, o Danilo dos Jesuítas, um dos responsáveis pela expansão do grupo para Nova Iguaçu e Seropédica, na Baixada Fluminense. Os dois conseguiram fugir do local, mesmo sob intenso tiroteio, e são considerados foragidos pela Polícia Civil.
Laudo de preso aponta 'retardo leve'
Um dos presos é Renato da Silva Moraes Júnior. Familiares contestaram a prisão e disseram que ele tinha deficiência mental. Um laudo da avaliação psicológica, feita pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), apontou "retardo mental leve a moderado". Inicialmente, a Seap informou que um exame clínico indicou que Renato tinha 'perfeitas condições de saúde'.
A auxiliar de serviços gerais Célia Maria Da Cruz chegou com a família em Bangu por volta das 8h. Segundo Célia, o filho dela, Emilio Neto trabalha há dois meses como chapeiro em uma rede de fast-food. Na sexta-feira (6) antes da prisão, Emilio foi eleito funcionário do mês. No sábado (7), ganhou folga e decidiu ir ao evento de pagode comemorar o aniversário, que seria no domingo (8).
A mulher de Matheus da Silva, de 27 anos, também esperava ansiosa pelo marido em frente ao complexo penitenciário. Suzi Souza da Silva estava com Matheus, comemorando 12 anos de casados, no evento que terminou com a prisão dele.
Artista circense preso como miliciano
O artista circense Pablo Dias Bessa Martins deixou o presídio de Bangu no sábado (21). Ele foi o primeiro do grupo a ser solto. Na decisão, o juiz Eduardo Marques Hablitschek escreveu que Pablo é "réu primário, não possui antecedentes criminais, tem residência fixa e é profissional circense".