Está chegando a hora de sacudir a fantasia e treinar o frevo no pé. Já tradicional quando o assunto é a prévia carnavalesca, a capital alagoana se prepara, agora em 2018, para mais uma rodada de folia. As festas acontecem, principalmente, nos dias 2, 3 e 4 de fevereiro, com o Jaraguá Folia e o desfile do Pinto da Madrugada.
Juntando os três dias, cerca de 40 blocos devem ir às ruas alegrando os foliões principalmente com o ritmo pernambucano - mas não só ele, já que há espaço também para o axé saído da Bahia. Por volta de 300 mil pessoas são esperadas para brincar a chegada do carnaval.
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O agito começa no dia 2 de fevereiro, com o Jaraguá Folia, que este ano traz uma novidade: a mudança de percurso. Em vez do desfile na já tradicional Sá e Albuquerque, ele vai passar agora pelas Avenidas da Paz e Industrial Cícero Toledo, contornando o Estacionamento do Jaraguá, e com concentração entre o Museu Théo Brandão e a ponte sobre o Salgadinho.
Apesar de ter dividido opiniões, a alteração tem como objetivo melhorar a segurança e a fluidez do evento, como diz o diretor da Liga Carnavalesca de Maceió, Edberto Ticianeli. Uma das situações cruciais para a medida foi o fechamento das escadarias da Associação Comercial, ocorrido em 2017.
"Já vinhamos com algumas dificuldades. Por conta do pavimento irregular, alguns foliões reclamavam de torções no pé. Outro ponto é que a rua é estreita. Em frente à Associação Comercial se estabeleceu um espaço de apoteose, porque a escadaria funcionava como uma arquibancada, mas no último desfile colocaram tapumes para preservar o patrimônio e isso estreitou ainda mais, atrasando muito os desfiles".

O crescimento de participantes foi outro aspecto. "No ano passado tivemos de 50 a 70 mil foliões e essa multidão assustou um pouco. É uma rua estreita, sem grandes áreas de escoamento, e que tem o problema do trânsito, porque, no formato anterior, fechávamos 40 esquinas", acrescenta Ticianeli.
A decisão de mudar o percurso foi tomada em uma assembleia com os blocos, realizada anualmente, e, com isso, apenas 15 intersecções de vias serão bloqueadas para o tráfego de veículos. No estacionamento, poderão ser colocadas barracas e três lances de arquibancadas serão montados no final.
"Sinto que perdemos o espírito boêmio de Jaraguá e seus prédios históricos, mas é um sacrifício que vale a pena. Esse percurso é melhor", afirma o presidente, acrescentando que a concentração foi retirada da Praça Sinimbu. "Preferimos não correr riscos de um acidente na Sá e Albuquerque", completa ele.
Assim como no ano passado, o Jaraguá Folia acontece das 20h às 02h. Cerca de 110 blocos devem participar do desfile, que fará o sentido Centro-Pajuçara e será encerrado por trás do Museu da Imagem e do Som de Alagoas (Misa), na praça 18 Do Forte De Copacabana.
Filhos da Pauta

Entre os blocos da noite de sexta-feira está o Filhos da Pauta, que reúne integrantes da comunicação alagoana. Carinhosamente apelidado de "FDP", o grupo desfila a partir das 22h, com concentração ao lado do Memorial à República - a escolha lembra o tema deste ano, "FDP pra Presidente", uma alusão às eleições de 2018.
Antes da saída, acontece, das 20h às 21h30, o bailinho. A animação vai ficar a cargo da banda Terremoto do Frevo. Os abadás já estão sendo vendidos e começarão a ser entregues no "Filhos da Pauta dá um Caldo", evento que marca o lançamento oficial e será realizado no dia 28 de janeiro, na orla de Ponta Verde.
"No lançamento, quem comprar a camisa já tem direito a um caldinho. E não fica apenas nisso. Também teremos banda de frevo tocando marchinhas tradicionais e atuais do legítimo frevo", diz o jornalista Rafael Maynart, responsável pela iniciativa junto com Thiago Correia, Nigel Santana, Kaká Villa Verde, Jonathas Maresia e William Rocha.
A volta do bloco, que passou alguns anos sem desfilar, aconteceu no ano passado, quando centenas de foliões desfilaram no Jaraguá Folia ao som do tema "Ói nós aqui de novo". Na oportunidade, foi homenageado o tituleiro Claudionor Medeiros da Silva, conhecido como "Macarrão", uma das figuras icônicas da trupe, que faleceu em 2016.
"Nossa expectativa para este ano é superar o desfile de 2017. Ano passado vendemos mais de mil camisas, mas por onde o bloco passava, as pessoas se juntavam a nós e chegamos a ter mais de três mil pessoas nos acompanhando", aponta Rafael Maynart.
Pinto da Madrugada
Já no sábado (3), é a vez do Pinto da Madrugada, que volta à avenida depois de um ano de hiato. Com concentração às 6h no início da Pajuçara e saída às 9h, o bloco pretende levar com ele mais que os 200 mil foliões do último desfile, em 2016. Para alcançar esse número, têm sido feitas uma série de reformulações.

A primeira delas foi a transição na diretoria, que permitiu à agremiação voltar às prévias de Maceió. Saem de cena os criadores para que possam entrar os filhos deles, agora responsáveis pela empreitada. Segundo Hermann Braga, agora diretor, a essência construída ao longo de 20 anos, porém, continua mantida.
"A mesma filosofia será mantida, de bloco aberto, sem cobranças, mas, ao mesmo tempo, a nova geração está chegando com algumas novidades, como a nova marca e os canais de comunicação", aponta ele, lembrando que uma das mudanças é na mascote do bloco - em vez de uma sombrinha de frevo, ela tem agora um chapéu de Guerreiro.
O Pinto também terá atividades ao longo de todo o ano. "Quando acabar o carnaval faremos outras festas ligadas à tradição cultural. Agora temos o slogan 'guerreiro por natureza' e queremos divulgar a cultura alagoana de forma mais ampla. Somos conhecidos por nossas belezas naturais e nem sempre a cultura tem espaço".
Mas, enquanto isso, o foco é mesmo no desfile do dia 3 de fevereiro, que vai contar com 15 orquestras no chão mais a Pintoca, o carro com uma banda cantando frevo. A mascote estará num carro alegórico diferente, já com nova estrutura, e estão mantidos passistas e os clarinetes de abertura.
Para conseguir custear o evento, os organizadores estão visitando empresas - algumas já fecharam parceria - e órgãos do poder público. De acordo com Hermann, a ideia é mostrar a força da marca.
"O trabalho é de dar visibilidade à força do Pinto da Madrugada, declarado patrimônio imaterial da cultura alagoana em 2011. Somos considerados a maior festa de pré-carnaval do Brasil e estamos entre as cinco maiores festas ao ar livre do País. São dados importante e queremos mostrar para parceiros e foliões que é possível todo mundo se envolver para que essa força não morra".
Mas ele também destaca a importância da tradição. "A troca da diretoria foi conversada com os diretores, nossos pais. Eles estavam cansados e as dificuldades ao longo desse tempo fizeram com que entregassem a nós a continuidade. Eles fizeram tudo, criaram a tradição. O que estamos fazendo agora é dar mais visibilidade", diz.
Pecinhas

No mesmo sábado, mais um que vai para a avenida é o Pecinhas de Maceió, completando 35 anos de existência - além dele e do Pinto, outros blocos desfilam nesse mesmo dia, como a Turma da Rolinha. Nas prévias desse ano, o grupo sairá com um trio elétrico com as bandas Amoda e Xatrez.
Segundo Dinho Lopes, um dos organizadores, uma inovação este ano é a troca de camisas por 2 kg de alimentos não perecíveis. É preciso pegar um voucher numa empresa parceria e realizar a troca, em dia e horário que ainda serão divulgados aos foliões. Mais informações podem ser encontradas na página do Pecinhas no Facebook.
A concentração acontece às 11h e a saída, às 13h. O bloco é aberto. "É o bloco que tem a maior renovação de seus foliões. Já chegamos a ter três gerações desfilando, o avô, o pai e o filho, na época em que a turma saía vestida de mulher. Depois a turma nova colocou o desfile com camisa, mas ainda tem muita irreverência, porque ele é aberto e muita gente ainda vai vestida assim".
Apesar de ser um dos mais antigos dessa festa, Dinho aponta que a agremiação vem se confirmando como o espaço da juventude - principalmente por oferecer outros estilos de música, o axé e a swingueira, em meio ao frevo. Ele ressalta que a cada ano a trupe vai crescendo mais.
"O Pecinhas foi o fundador do desfile de orla. Só 15 anos depois vieram o Pinto, a Turma da Rolinha. Era outra época também, começamos com 15 pessoas. Saíamos com uma escola de samba, uma batucada. Com o Maceió Fest, trouxemos inovações, como o trio elétrico. O bloco cresceu muito com isso e vem se mantendo e evoluindo".
Apoios
Diretor da Fundação Municipal de Ação Cultural, Vinicius Palmeira destaca que a participação da Prefeitura de Maceió durante as prévias será com a infraestrutura necessária para os desfiles. Isso inclui iluminação, recolhimento de lixo e o controle do trânsito nas ruas do entorno.
"Em anos passados fizemos um edital de blocos, quando estávamos com mais possibilidades financeiras. Mas, de regra, o que fazemos é fornecer a infraestrutura, as autorizações, parceria para trânsito, iluminação. Nosso papel é a parte regulamentadora", explica o gestor.
Segundo ele, realizar investimentos é mais difícil. "Investir muito é complicado, até porque as pessoas têm dificuldade de se adaptar aos editais, um baile quer que a gente pague R$ 20 mil, outro R$ 10 mil. Não temos como investir dessa forma, até porque temos os festejos de carnaval".
Para os dias de momo, a administração municipal vai montar oito polos na capital - nos bairros do Pontal da Barra, Ponta Grossa, Bebedouro, Fernão Velho, Benedito Bentes, Jacintinho, Ipioca e Pajuçara. Um edital selecionou instituições para a produção das festas e cada uma vai receber R$ 10 mil.
Vinicius também rebate as críticas dos blocos que saem nas prévias com relação à falta de apoio. "Às vezes os grupos desdenham do apoio em infraestrutura, o que é um absurdo, porque as operações de iluminação, trânsito, requerem de nós esforço e recursos. Saímos da rotina e nossa obrigação é trabalhar nas coisas rotineiras da cidade. Mas nossa atenção será nessa infraestrutura para que tudo aconteça bem".
A Secretaria de Estado da Cultura (Secult) informou que ainda está definindo a participação da instituição nas festas. Já o bloco Filhinhos da Mamãe, tradicional no Jaraguá Folia, destacou que ainda não bateu o martelo se vai ou não às ruas em 2018, decisão que só deve ser tomada após reuniões na próxima semana.