Apesar das muitas perguntas feitas durante audiência de instrução, Agnaldo Lopes de Vasconcelos, acusado de atirar contra o capitão da Polícia Militar, Rodrigo Moreira Rodrigues, fato ocorrido em abril do ano passado, decidiu ficar em silêncio no Fórum do Barro Duro, em Maceió, onde a Justiça começou a decidir se ele vai a júri popular. A audiência teve início por volta das 9h desta sexta-feira (17) e foi encerrada às 15h, devido à inclusão de um novo advogado no grupo de defensores do investigado.
Com isso, o juiz Geraldo Amorim, que conduziu a sessão, anunciou que irá definir uma data para a retomada da audiência. Acusação do réu, por sua vez, foi contra o adiamento da sessão. Hoje, as partes já iriam debater o crime, com o juiz a decidir se Agnaldo Lopes poderá, por exemplo, ser absolvido.
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Mais cinco testemunhas, arroladas pela defesa, foram ouvidas durante a audiência desta sexta. Houve também uma acareação entre dois depoentes (a namorada de Agnaldo e um vizinho dele). O interrogatório do acusado era o mais aguardado do dia, mas, como se manteve em silêncio, Agnaldo frustrou os presentes.
Já o promotor José Antônio Malta Marques destacou, na acareação, "as contradições observadas nas duas testemunhas", que se dizem presenciais da abordagem policial que culminou na morte do capitão Rodrigues. O representante do Ministério Público Estadual (MPE) tinha a esperança de pronunciar o réu ainda nesta sexta tarde, o que não aconteceu.
A namorada do acusado, Karollyne Monteiro de Almeida, também esteve presente e informou que estava na casa de Agnaldo no momento do episódio, contando ao juiz que duvidou da presença da polícia à porta da casa. Segundo ela, a guarnição estava com o giroflex da viatura desligado, além de não ter se identificou como tal. "A todo momento a gente duvidava. Não sabíamos se era de fato a polícia quem estava ali; Quando ele [policial] chegou, identificou-se, por diversas vezes, como sendo segurança do condomínio", disse.
Ainda ao magistrado, ela afirmou que os policiais não foram agressivos "de início", no instante em que teriam se identificado como seguranças do condomínio. Porém, na sequência, um deles chegou a gritar para que abrissem a porta: "Abra a porta, filho da p*ta, é a polícia!", teria dito o militar.
Já Fernando Antônio Mangueira Gomes, vizinho de frente de Agnaldo no condomínio localizado na Santa Amélia, parte alta de Maceió, disse que não viu a chegada dos policiais porque estava dormindo. Relatou também que acordou com os tiros deflagrados pelo acusado, ouvindo apenas o que aconteceu na sequência. "Ouvi o grito do rapaz pedindo socorro porque havia um policial ferido", contou.
Nesta sexta-feira, também foi ouvido José Romão da Silva Júnior, que assumiu o roubo do celular que a polícia buscava no momento em que o militar foi baleado. Ele contou que cometeu o crime, voltou para casa e, em seguida, saiu para lanchar com a namorada, deixando o aparelho no imóvel. Segundo ele, somente quando voltou é que soube do acontecido com o capitão Rodrigues.
"Família destroçada"
Já a viúva do capitão, Klarita Omena Rodrigues, disse que a família está destruída, afirmando esperar que o réu seja submetido a júri e, consequentemente, condenado pelo crime. "Estou sozinha com um filho de 1 ano e sete meses. Meu marido era filho único e precisamos, no mínimo, de um conforto pela perda que tivemos. Ele foi assassinado a sangue frio. Esperamos que o julgamento aconteça ainda este ano porque os fatos estão bem claros no processo", comentou.
Soltura
O advogado Joanísio Júnior, que atua na defesa de Agnaldo, diz aguardar que o juiz acate o pedido de concessão da liberdade.
"Um dos exemplos recentes é o jovem que acabou solto após ser acusado de matar o avô e delegado aposentado da Polícia Federal [em referência ao crime ocorrido em Paripueira]. Se é por equivalência de autoridade, estamos no mesmo patamar. Não há motivos para manter o Agnaldo preso na instrução do processo. Isto caracteriza a antecipação de um cumprimento de pena e um julgamento antecipado do mérito. Somente o Tribunal do Júri pode decidir se o réu é culpado ou não. Agnaldo não saiu de casa e não procurou policial algum para assassinar", alegou.
O defensor acrescentou que Agnaldo imaginou se tratar de um assalto, assegurando não saber que se tratava de uma abordagem policial. A arma utilizada no crime, segundo ele, era registrada pelo réu há 26 anos - ou seja, o mesmo tinha autorização legal para portar o revólver calibre 38 dentro de casa.