Eles conjugam o verbo "espionar" em todos os tempos e modos. É câmera, máquina fotográfica, gravador ultramoderno, relógio que só falta andar, binóculo que enxerga o oculto, óculos que vê tudo e mais um pouco. É caneta que filma. É o que você possa imaginar. Todo esse emaranhado de equipamentos persegue até a equipe que manuseia a parafernália, quanto mais o marido que trai a mulher, a pessoa que desaparece, o animal que some, o sequestrador, a empresa que frauda e o filho que se droga.
Os profissionais que comandam seus olhares e os dos outros são os chamados detetives particulares, que chegam a todo e qualquer tipo de caso e desconfiam da própria sombra. Os serviços mais recorrentes são os voltados para o relacionamento extraconjugal, que representa 50% dos contratos; fraude e furtos cometidos por empresas (20%); roubo de carro e moto (15%); desaparecimento (10%); rastreamento (10%); uso de drogas pelos filhos (5%); investigação de processo antigo (4%); sumiço de animais (2%); e sequestro (1%), além de outras demandas.
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AGazetawebconversou com alguns detetives vinculados à Agência de Investigadores Civil do Brasil (Adeic), que realiza um trabalho de âmbito nacional e é a única existente no estado. Criada em 2013, a agência é composta por 12 detetives em Alagoas e outros seis distribuídos nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, que trabalham em parceria com a equipe alagoana.
De acordo com a diretora da agência, Denise Monteiro, o solicitante que necessita de uma investigação de qualquer caso será ouvido em uma entrevista de forma presencial pelos profissionais, relata as suspeitas e os indícios, e detalha todas as informações sobre aquela pessoa que será investigada. O contrato é assinado com o pagamento de metade do valor acordado para o caso em questão, sendo a outra parte paga ao final dos trabalhos, quando se chega à conclusão dos fatos alegados pelo solicitante ou ainda que não atinja essa finalidade.
Denise explica que os investigadores conseguem desvendar 100% dos casos, mesmo que demore dias, semanas ou meses. Os custos são altíssimos e isso se comprova na própria fala da diretora. "Só contrata os serviços do detetive quem tem dinheiro, porque disponibilizamos toda a estrutura pessoal e material, o que leva tempo e gastos. Temos diárias de R$ 300, por exemplo, e pacotes de R$ 15, R$ 20 mil e outros valores maiores", comenta.

Desconfiança total
Questionada sobre os primeiros passos da equipe, a diretora explica que, de posse das informações repassadas pelo solicitante - sejam elas abrangentes ou não -, ela se reúne com sua equipe, monta um mapa, se vai precisar de carro, de moto, quantos investigadores, faz todo o estudo e aí eles vão a campo, onde montam as campanas. "É um trabalho minucioso, pois perseguimos a vida do indivíduo e seus rastros. Devemos desconfiar de tudo, até da própria sombra. Para nós, tudo é suspeito, nada é confiável".
Diariamente, a equipe recebe várias ligações. Por ano, são 80 casos em média, ou seja, desde o surgimento da agência, mais de 300 situações foram sanadas pelos investigadores. Como em algumas ocorrências, principalmente as de crime, a equipe sofre ameaças, inclusive de morte, havendo a necessidade de recorrer à Polícia Civil (PC). Ambos trabalham em parceria, podendo até o delegado solicitar o apoio dos investigadores para finalizar o inquérito.
"Às vezes somos ameaçados pelos investigados, por exemplo, no caso de traições. O marido que foi pego no motel com a amante descobre que fotos e vídeos foram registrados e chegaram ao conhecimento da esposa. Além disso, há brechas deixadas no processo investigativo da polícia judiciária e que são preenchidas por nós. Portanto, nosso trabalho não é atrapalhar o da Civil, mas sim, atuar de forma conjunta. As únicas diferenças é que o pagamento da Polícia Civil é feito pelo Estado, eles podem usar arma de fogo, contam com sistemas de investigação social, como o Sispol e o Infoseg, e elaboram um inquérito. Nós somos pagos pelo particular, nossas armas são gravador, papel e caneta, contamos com as informações do solicitante e fazemos um relatório detalhado com texto, áudio, foto e vídeo em resposta à solicitação do cliente acerca do investigado ou do material investigado", expõe um dos agentes entrevistados e que não quis se identificar.
Ele acrescenta que, nos casos de traição, algumas mulheres pedem para assistir o flagrante.

A agência de investigação tentou contato com diversos clientes, mas nenhum quis dar entrevista. O sigilo é total. "A maior parte deles não quer se expor e expor a própria família. Tudo é muito sigiloso. É lamentável, mas este é o nosso trabalho", pontuou Denise Monteiro, que é formada em Administração e tem cursos de Medicina Legal, Direitos Civil e Penal, além de formação na área de Perícia.
Requisitos
O investigador lamenta que a profissão de detetive particular ainda não seja regulamentada em lei, mas apenas amparada pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). O projeto de lei que busca regularizar a profissão foi aprovado pelas duas Casas do Congresso Nacional e, hoje, depende da assinatura do presidente da República, Michel Temer.
Para se tornar um detetive particular é necessário matricular-se em um curso, seja online ou presencial. Em breve, a entidade que representa a categoria, o Sindicato dos Detetives Profissionais de Alagoas (Sindespal), abrirá o curso juntamente com a Adeic.
"Atualmente, Alagoas conta com os detetives particulares que trabalham por conta própria e os que são vinculados à agência. Nossa equipe é fechada, porém, podemos abrir vagas no futuro e quem desejar ser membro da equipe deve apresentar o certificado de conclusão do curso. Vamos rastrear a vida do indivíduo porque, se tiver qualquer suspeita de irregularidade, ele já não entra. Além disso, tem que ter vocação, tem que gostar de ir além, ultrapassar os limites da busca, ser astuto, insistente, ousado e corajoso", destaca a diretora, mencionando que o detetive "deve se valer de todos os olhares possíveis, imagináveis e inimagináveis".
Quem desejar contratar a equipe pode acessar o sitewww.adeic.com.brou entrar em contato pelo telefone(82) 99979-3302.

