Alagoas é o estado mais perigoso para a população negra no País. Pelo menos essa é a conclusão do Mapa da Violência 2016, divulgado nesta quinta-feira (25). De acordo com o estudo, coordenado pelo professor e sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, a cada 13 vítimas de homicídio nos municípios alagoanos, 12 são negras.
Em 2014, segundo o mapa, foram mortos no Estado 60 brancos e 1.702 negros, uma taxa de Homicídios por Arma de Fogo (HAF) de 6,4 para o primeiro grupo e 71,7 para o segundo. O estudo mostra ainda mais: a vitimização por aqui chega a 1.028,2% - morrem assassinados, proporcionalmente, acima de 11 negros por cada branco.
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Depois de Alagoas, o maior índice é o do Rio Grande do Norte, com HAF da população negra fixada em 52. Logo abaixo vêm Sergipe, Espírito Santo e Paraíba. Apenas três estados, Tocantins, Acre e Paraná, matam mais brancos que negros. O Mapa da Violência compara dados de 2004 a 2014.
Mas, além disso, o estudo revela ainda que Alagoas é a unidade federativa mais violenta do Brasil como um todo. Também em 2014, a taxa de homicídios ficou em 56,1 para cada cem mil habitantes - na outra ponta aparece Santa Catarina, com 7,5 para cada cem mil. Em 2004, foram 754 mortes violentas contra 1.818 há dois anos.
Entre as capitais, Maceió aparece em segundo lugar, vindo atrás apenas de Fortaleza. Há 12 anos, a cidade alagoana estava na quarta posição no ranking geral e a situação não melhora com relação aos demais municípios. Entre os 150 mais violentos do País, 27 são de Alagoas, ou 26,5% do total.
Murici, aliás, é o segundo colocado na lista, vindo depois de Mata de São João, na Bahia. Também figuram aí Satuba, Pilar, Marechal Deodoro, Rio Largo, Arapiraca, Coruripe, Santana do Ipanema, Piaçabuçu, São José da Laje, São Miguel dos Campos, Joaquim Gomes, Viçosa e Capela, entre outros.
Depois de Alagoas, a maior incidência é de Ceará e Sergipe, cada um com 10% de seus municípios neste quadro. No outro extremo, Acre, Amapá, Amazonas, Piauí, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins e Distrito Federal não têm cidades incluídas entre as 150 com maiores índices de Homicídios por Arma de Fogo.
Nacionalmente, o estudo coordenado pelo diretor de pesquisa do Instituto Sangari e coordenador da Área de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO) também destaca que o Brasil registrou 57 mil homicídios em 2014. O dado corresponde a 6,5 assassinatos por hora.
O Nordeste apresentou as maiores taxas de HAF em quase todos os anos da década analisada. A taxa média em 2014, de 32,8 por 100 mil habitantes, fica bem acima da região que vem a seguir, Centro-Oeste, com 26,0. Outras unidades federativas que na virada de século ocupavam os primeiros lugares tiveram queda, como Rio de Janeiro e São Paulo.
Publicado pela primeira vez em 2005, o levantamento conclui que "ficou evidente o progressivo, sistemático e ininterrupto incremento das taxas de homicídio por arma de fogo". A pesquisa engloba o período de 1980 a 2014 e avalia números de mortes não só por homicídio, mas também por acidente e suicídio.
O Mapa da Violência tem como base informações coletadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Saúde.