Um estudo divulgado
sugere que os antimaláricos cloroquina e hidroxicloroquina podem
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aumentar o risco de morte e arritmias em doentes hospitalizados com
covid-19, defendendo que o seu uso como antivirais deve ser devidamente
testado antes de tratar pacientes.
O estudo, divulgado pela revista
médica britânica The Lancet, baseou-se na observação de dados de 14.888
doentes hospitalizados com covid-19 (infecção respiratória viral) que
foram tratados com um ou ambos os medicamentos para a malária,
combinados ou não com a administração dos antibióticos azitromicina e
claritromicina, utilizados no tratamento de infecções pulmonares
bacterianas.
Os dados foram comparados com os de 81.144 doentes
com covid-19 que foram igualmente hospitalizados, mas sem receber
tratamento com estes medicamentos.
Em Portugal, o uso de
cloroquina e hidroxicloroquina, medicamentos aprovados para a malária,
está autorizado para o tratamento de doentes com covid-19 internados nos
hospitais que manifestem, por exemplo, insuficiência respiratória e
pneumonia.
Os doentes que foram alvo do estudo publicado em The
Lancet -- ao todo 96.032 - estiveram internados em 671 hospitais entre
20 de dezembro de 2019 e 14 de abril de 2020.
Todos estavam infectados pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 e, à data de 21 de abril, tiveram alta hospitalar ou morreram.
No grupo de controlo, o dos 81.144 doentes que não receberam tratamento com antimaláricos, um em cada 11 morreu no hospital.
Em contrapartida, em média, quase um em cada seis doentes medicados com um dos antimaláricos morreu.
Segundo
o estudo, mais de um em cada cinco doentes tratados com cloroquina e um
antibiótico (azitromicina ou claritromicina) morreu e quase um em cada
quatro doentes morreu quando medicado com hidroxicloroquina em
combinação com um dos antibióticos.
Apesar dos dados, os autores
do estudo ressalvam que poderá haver outros fatores, não avaliados, na
origem da possível ligação entre o tratamento de doentes com covid-19
com medicamentos para a malária e uma diminuição da sua sobrevivência.
Neste contexto, pedem para que sejam realizados com urgência ensaios
clínicos aleatórios para aferir a eficácia e segurança do uso destes
fármacos como antivirais antes de serem administrados a doentes com
covid-19.
"Ensaios clínicos aleatórios são essenciais para
confirmar danos ou benefícios associados a estes agentes. Até lá,
propomos que estes medicamentos não sejam usados como tratamentos para a
covid-19 fora dos ensaios clínicos", afirmou, citado em comunicado pela
publicação The Lancet, o primeiro autor do estudo, Mandeep R. Mehra,
médico e diretor-executivo do Centro para a Doença Avançada do Coração
no Hospital Brigham, nos Estados Unidos.
O estudo concluiu, ainda,
que 8% dos doentes medicados com hidroxicloroquina e um antibiótico
(azitromicina ou claritromicina) desenvolveram arritmia (alteração no
ritmo cardíaco), por comparação com 0,3% dos doentes do grupo de
controlo (sem qualquer medicação antimalárica).
Contudo, os
autores advertem que não é possível inferir uma relação de causa e
efeito entre o tratamento de doentes com covid-19 com medicamentos para a
malária e o aparecimento de arritmias, uma vez que não foram avaliados
outros fatores, e insistem para que se façam ensaios clínicos robustos,
apesar dos efeitos antivirais dos fármacos cloroquina e
hidroxicloroquina demonstrados em testes laboratoriais anteriores.
A
nível global, a pandemia de covid-19 já provocou quase 330 mil mortos e
infectou mais de 5,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 1,9 milhões de doentes foram considerados curados.
Em
Portugal, morreram 1.289 pessoas das 30.200 confirmadas como
infectadas, e há 7.590 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral
da Saúde.
A covid-19, doença respiratória aguda, é causada por um
novo coronavírus (tipo de vírus) detectado no final de dezembro, em
Wuhan, uma cidade do centro da China.