A constituição de Esparta durou séculos. Foi atribuída pelo escritor romano Plutarco a Licurgo.
Se Licurgo existiu mesmo e se a constituição do estado de Esparta foi escrita por ele ainda é motivo de polêmicas e debates.
Da mesma forma que Homero. Muitos acreditam ser impossível um só homem ter escrito a Odisseia e a Ilíada, pelo simples fato de que abarcam, essas obras, período de tempo muito superior ao da sua vida terrena.
A constituição de Esparta, no Peloponeso, conformava uma organização institucional e social muito similar ao das sociedades primitivas, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, ainda desconhecidos naquele tempo.
Não existia a propriedade privada de terras, mulheres- pelo casamento- ou de escravos. Dirigida por um conselho de anciãos foi uma sociedade socialista, similar às que conheci na África, ainda no século XX, e que existiram nas Américas e no Pacífico, antes das “missões civilizadoras” da Europa cristã.
A terra era repartida igualmente por lotes a todos os cidadãos. Prisioneiros de guerra transformavam-se em “hilotas”, equivalentes aos “meeiros” que tivemos; ainda hoje temos, no Brasil.
Não eram eles propriedade de ninguém mas tinham que lavrar e cultivar as terras dos espartanos para oferecer parte substancial da produção de alimentos aos donos dos lotes. Lotes que não podiam ser vendidos mas apenas doados ou legados. Proibido ouro, prata e acumulação de qualquer tipo de riqueza. Dinheiro só de ferro. Vida “espartana” para todos.
Já na infância e até atingir a idade adulta “militar”, meninos e meninas conviviam juntos, brincavam juntos e aprendiam juntos Todos nus. Sempre nus.
Eram filhas e filhos de todos os adultos da cidade. Não sabiam quem eram seus pais. Pais biológicos não tinham propriedade de filhos. Filhos de Esparta. Exatamente como acontecia com as “famílias alargadas”, das tribos africanas.
Quando dava “match” entre menino e menina o Estado determinava o “casamento”. O casamento não implicava na posse da mulher pelo marido. As mulheres poderiam continuar a procriar com vários outros homens para dar filhos à Esparta.
Principalmente se os maridos já estivessem em idade avançada e as mulheres em idade reprodutiva. Ninguém era de ninguém.
Homens mais velhos responsabilizavam-se pela educação sexual e militar dos mais jovens. Relações homossexuais eram normais e habituais.
As mulheres, fortes, saudáveis e bonitas geralmente terminavam por serem exceções à proibição de acumulação de riqueza, até certo ponto. Conseguiam mais doações e legados de lotes do que os homens. Mestras nas artes militares e do amor.
Os únicos privilégios do “Conselho de Anciãos”, dirigente do Estado, era a maior quantidade de comida e bebidas que recebiam e maior extensão dos seus lotes e número de “hilotas”.
Todos deveriam comer juntos à mesma hora e eram repartidos por refeitórios mistos na cidade. O reconhecimento social e identificação se dava pelo pertencimento a esses refeitórios. Assim foi, por séculos, Esparta, sob a constituição atribuída a Licurgo.
Platão era fascinado por Esparta. Projetou sua ideia de República a partir dessa constituição. Estragou tudo. Aristocrata rico que era não concebia possibilidade de Republica sem escravos, sem ouro, prata, propriedades e acumulação de riquezas.
Muitos teriam que trabalhar para os melhores terem tempo para pensar, refletir e criar. Gerar riquezas diriam hoje os cinco por cento da população mundial que controlam e tem a posse de quase tudo no planeta.
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Miguel Gustavo de Paiva Torres
Sou alagoano de Maceió, cursei direito na UFAL, trabalhei como jornalista e tomei posse como diplomata de carreira em fevereiro de 1976, no Rio de Janeiro, servi por diversas vezes em Brasília, na sede do MRE, na Costa do Marfim, Alemanha Federal, México, Lisboa, Praga, Jakarta, Havana, Panamá e Santa Lúcia. Embaixador na República do Togo, aposentado em 2018.