Com uma participação cada vez maior no mercado, as mulheres administram hoje quase metade dos pequenos negócios no Brasil. Durante a pandemia, de acordo com uma pesquisa do LinkedIn, a quantidade de mulheres que começaram a empreender aumentou 41% em 2020, enquanto os homens que iniciaram o próprio negócio no mesmo período somam 22%.
Esse aumento é visto como uma consequência dos muitos desafios enfrentados por elas em suas vidas profissionais. Muitas mulheres precisam cuidar da casa, dos filhos e do trabalho, o que as faz buscar mais flexibilidade do que o mercado costuma oferecer. E foi justamente em busca de liberdade que a alagoana Joyce Nobre resolveu apostar nas próprias ideias e no próprio negócio.
Joyce é pós-graduada em Administração e Marketing e viu seu primeiro empreendimento ruir na pandemia. Ela também enxergou ali uma oportunidade de iniciar uma desejada transição de carreira e recomeçar. “Eu trabalhava na área de gestão pública, após muitos anos de estudo e dedicação. Mas fui demitida em um momento delicado e não consegui uma realocação na área”, conta Joyce.
Com um filho para manter, ela resolveu fazer flaus gourmet e ir vender na porta de uma faculdade de Maceió. Usando sua expertise, ela fortaleceu a marca ao ponto de os clientes falarem dela nas redes sociais, o que chamou a atenção do empresário carioca Rick Chester, que começou vendendo água mineral nas praias do Rio. Ela entrou em uma seleção nacional de empreendedores e conseguiu um aporte financeiro de Chester para escalar o negócio de flaus gourmet. Mas aí, veio a pandemia.
“O negócio prosperou por quase cinco anos, eu estava prestes a virar fornecedora, expandindo a venda para restaurantes e estabelecimentos. Mas veio a pandemia, fecharam os estabelecimentos e o negócio praticamente quebrou. Quem ia querer saber de flau naquele momento?”, recorda a empreendedora.
Foi aí que ela resolveu dar vazão a um sonho antigo: empreender com arte. Joyce abriu a empresa Nobre Viver de Arte, com peças autorais e originais, pintadas por ela.
“Comecei a ver o povo morrer e ficava sempre olhando para a minha própria vida. O que eu estava fazendo? Por que eu não estava realizando os meus sonhos? Eu vou ficar a vida inteira vendendo flau? Eram pensamentos como esses que tomavam conta de mim, eu me perguntava se eu seria a próxima a morrer e se eu morreria daquele jeito, pintando escondido no quintal de casa”, relata.
“A hora certa de mudar é quando a gente começa a se incomodar com a própria vida. Sabe quando uma roupa tá apertada? Você precisa comprar outra. As pessoas estavam morrendo o tempo inteiro, era um tapa e acabou, pronto, acabou a vida. Fiquei pensando se aquelas pessoas que morreram fizeram tudo aquilo que queriam enquanto existiam na terra. A gente não costuma parar para pensar nisso”, diz Joyce.
A artista, que é a própria empresa, recentemente foi contratada para colorir espaços públicos de Maceió. Um dos locais pintados por ela é a fachada do Mercado do Artesanato.
EMPREENDEDORISMO FEMININO
Joyce Nobre é uma das palestrantes confirmadas no Trakto Show 2022, evento que ocorre entre os dias 18 e 20 de agosto, em Maceió, e reunirá mais de 100 nomes nacionais e internacionais para falar sobre tecnologia, inovação e empreendedorismo. Além dela, outras lideranças femininas estarão presentes, como Carina Oiticica, Gabriela Prioli, Luana Araújo, Maria Paula, Ana Fontes, Andréa Bertoldo, Juliana Fraccaroli, Mariah Morais, Rivkah, Gabô Pantaleão, Manu Melo, Juliana Fazio, Ludmilla Figueiredo e Maria Gabriella.
“Sou uma mulher, mãe e preta. Ser empreendedora sendo quem eu sou é conviver com desafios e preconceitos. Quantas vezes, no universo corporativo, precisei resolver uma coisa do meu filho e, por essa razão, não pude esticar o meu horário? Sabe como isso é visto? Como perda de foco na carreira. Sim, por causa da criança. As mulheres precisam passar por esse tipo de coisa e, uma saída de tudo isso é empreender. Deveriam ver o papel de mãe com mais respeito, separar as coisas. Não é porque somos mães que deixamos de ser competentes”, afirma Joyce, que pretende levar sua história para o palco do Trakto Show e inspirar mulheres que querem empreender ou realizar uma transição de carreira.
“Não acho que Alagoas tem hoje um ambiente amistoso para as mulheres empreenderem. Os desafios ainda são gigantescos. As mulheres é que estão se empoderando mais. Não é o ambiente que está mudando, as mulheres estão. Elas estão mudando o jogo, se apoiando, fazendo uma rede que, por sinal, ainda é pequena”, opina a empreendedora.
“Precisamos ocupar esses espaços de liderança. Quanto mais mulheres reais estiverem no palco, nos lugares, mais mostraremos que não é romântico passar por tudo isso, não é necessário sofrer tanto, mais do que administrar um negócio já impõe, apenas por ser mulher e mãe”, continua.
“Espero falar com mulheres que podem estar em um processo de transição de carreira, pensando no que fazer, e fazer com que elas vejam no empreendedorismo uma oportunidade de mudar as coisas. Empreendedorismo feminino é transformador, é libertador, é forte. Tira você de um lugar de dependência e medo, para lhe oferecer um lugar de independência e protagonismo”, finaliza Joyce Nobre.
TRAKTO SHOW
No palco do Trakto Show, ideias e histórias de empreendedorismo têm espaço garantido. No evento, cinco palcos e arenas operarão de forma simultânea, com temas específicos como metaverso, criatividade e design, negócios e inovação, sociedade, futuro, crescimento, entre outros. A expectativa é integrar conteúdo de alta qualidade para empresas e profissionais, inovações impactantes, negócios, tecnologia, arte, música e experiências surpreendentes para os mais de 6 mil participantes que são esperados.
Mais informações sobre o Trakto Show podem ser encontradas no site: www.traktoshow.com.