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CRM considera 'grave episódio' morte de paciente suspeito de Covid-19 em UPA

Conselho de Medicina deve apurar caso que levou a óbito primeiro paciente com sintomas de coronavírus em Alagoas; Estado segue abaixo em leitos de UTI

Após a divulgação pelo governo Renan Filho (MDB) da notícia da morte do idoso supostamente vitimado pela Covid-19, em Alagoas, nessa terça-feira (31), especialistas e entidades como o Conselho Regional de Medicina (CRM) classificaram como "grave episódio" o fato de o paciente ter permanecido na UPA, e prometeram apuração.

O óbito foi confirmado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), segundo a pasta, após sair o resultado de exame realizado no Laboratório Central de Alagoas (Lacen/AL). Trata-se de um homem de 63 anos, que estava internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Trapiche da Barra, em Maceió, e fazia uso de respiração artificial.

De acordo com a Sesau, o homem, identificado como José Dagmar Xavier da Rocha, tinha 63 anos de idade e era natural do estado do Acre, morava em Maceió e não havia histórico de viagem para fora do Estado. Familiares da vítima utilizaram as redes sociais, durante o dia, para apontar o que consideravam descaso na assistência que o idoso recebeu e revelar que ele tinha peregrinado por locais de atendimento da rede estadual, antes de ser internado na UPA e falecer.

A morte também causou grande repercussão nas redes sociais, e algumas pessoas que se diziam próximas a vítima, apontavam falha no atendimento, além de terem questionado a causa da morte, por se tratar de um paciente diabético. A morte se transformou numa "guerra" de informações", mas a Sesau manteve a causa da morte como provocada pela Covid-19. Uma das internautas no Twitter, identificada como Belly, ao responder alguns questionamentos de outras pessoas, afirmou ser neta do paciente que faleceu na UPA e disse que ele chegou a ser transferido do local por três vezes, antes de ser internado no local onde faleceu.

A jovem, inclusive, chegou a postar resposta ao governador Renan Filho, o primeiro a noticiar a morte, declarando que "a negligência e a irresponsabilidade (sic) foi grande e custou caro, mas um dia a verdade aparece". Belly finalizou a mensagem com "se cuidem todos e cuidem de suas famílias", e até a tarde desta terça-feira permanecia sem resposta do gestor estadual.

Para o médico infectologista Marcelo Constant, profissional que atua na área há mais de 48 anos, casos que necessitem de atendimento mais "sofisticado", como os quadros da Covid-19 com gravidade, devem ser encaminhados para hospitais que dispõem de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Para ele, na rede pública de saúde, em Maceió, o local mais adequado é o Hospital Escola Hélvio Auto, antigo hospital de doenças tropicais, por contar com estrutura e equipe de profissionais capacitados para socorrer pacientes graves com coronavírus.

"Ninguém sabe o porquê de esse paciente ter sido internado numa UPA, se ele entrou com um quandro grave e não teve tempo de transferência", pontuou o especialista, ao fazer referência ao fato de que ainda não se sabe publicamente como se deram os procedimentos até chegar à morte do paciente.

À medida que a pandemia da Covid-19 avança em Alagoas com o surgimento de novos casos cada dia, dados do Ministério da Saúde (MS), divulgados pela Folha também nesta terça-feira, mostravam que a estrutura para casos graves na rede pública de saúde em Alagoas com 0,86 leito por 10 mil habitantes está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 1 para 10 mil. Na rede privada, entretanto, a situação é diferente com 5.18 leitos por 10 mil habitantes.

Diante da situação, Renan Filho chegou a anunciar a instalação de dois hospitais de campanha, ambos em Maceió. Um no Centro de Convenções e outro no Ginásio do Sesi, com capacidades, respectivamente, para 150 e 30 leitos, mas todos para pacientes com quadros intermediários da doença.

"São leitos de retaguarda para pacientes graves, ao ponto de não poderem ficar em casa; mas menos graves do que os que precisam ficar internados em UTI. Essa é uma estratégia que está sendo utilizada em vários lugares do mundo e aqui, no Brasil, também", justificou o governador.

Além de não atender a necessidade de mais leitos de UTI no Estado, a atuação do governador tem provocado críticas por parte de moradores de cidades do interior, que consideram as medidas voltadas apenas para a capital, quando o gestor deveria pensar em toda a Alagoas.

Também, após postagem do governador no Twitter, para anunciar ele mesmo a morte da primeira pessoa vítima do coronavírus, outra internauta, identificada como Kamylla Lisboa, rebateu o chefe do Executivo estadual, ao declarar que "aqui em Arapiraca duas pessoas morreram com suspeita, caixão lacrado e sem velório. Porém sem realizar teste!"

No último domingo, ao comemorar que o estado não havia registrado nenhum novo caso da doença - até está terça-feira eram 17 casos confirmados -, o governador Renan Filho pedia que todos permanecessem em casa e esperava que "boas-novas venham". A postagem, novamente, acabou rebatida pela internauta Rodrigo Cruz, que se apresentou como médico ao governador e o questionou, mas ficou sem resposta.

"P...q...p? Vocês me desculpem a descompustura, mas como é que vocês têm coragem de publicar uma notícia dessas, sabendo que não está se testando quase ninguém? Que a gente, médico, liga para o CIEVS [Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde] pra testar paciente com tosse há três dias, febre, evoluindo no 4º dia com insuficiência respiratória e sendo entubado e o pessoal do Cievs não vai porque o paciente é do interior?", questionava.

CRM classifica como grave episódio do paciente fatal na UPA

O infectologista Fernando Pedrosa, presidente do Conselho Regional de Medicina de Alagoas (Cremal), classifica o episódio como grave. "UPA não é lugar para internar ninguém", afirmou. "É um espaço para pronto atendimento".

"Vamos solicitar a documentação à UPA e apurar. Se houver um médico responsável, seja do lado da UPA, que não solicitou transferência, ou do HGE [Hospital Geral do Estado], que negou os leitos, ele será penalizado", afirmou.

Segundo fontes próximas ao caso revelaram à Gazeta, sob condição de anonimato, o paciente estava internado fazia dias e a transferência foi solicitada para o HGE, onde uma ala especializada para receber pacientes com quadros mais severos da doença foi montada. Apesar de a ala estar aparentemente vazia, o leito foi negado.

As UPAs do estado, criadas para atendimentos de saúde básica, estão tendo que se adaptar para receber os pacientes com a nova doença. "Pode chegar um paciente com um quadro mais grave e, nesse caso, tem de ser prestado o socorro", disse o infectologista.

Com isso, algumas unidades, como a UPA do Benedito Bentes, transformaram suas alas amarelas em uma zona de isolamento para os casos suspeitos. Uma profissional de saúde que trabalha na unidade, mas não quis se identificar, contou que as mudanças foram feitas para resguardar os demais pacientes, mas que ainda há riscos envolvidos.

Ela pontua que não é adequado deixar o paciente por um longo período de tempo nas unidades, como parece ter ocorrido com o acreano que faleceu. A transferência para unidades de referência deve ser feita, especialmente em casos de agravamento. Por serem pequenas e com estrutura simples, e, devido à grande circulação de pessoas, elas podem ser pontos de propagação do vírus.

"Estou falando faz tempo: temos que nos preparar, a responsabilidade é do estado e estamos vendo esse vírus crescer desde janeiro", opinou Pedrosa.

Infectologista, o médico atuou em pandemias no Estado de Alagoas, nos últimos 30 anos. Na epidemia de cólera, que teve 16 mil infectados no estado, Alagoas conseguiu manter uma taxa de letalidade de apenas 0,3%. Crítico da atuação do governo Renan Filho (MDB) na Saúde, Pedrosa não foi convidado a compor o comitê que gerencia a crise.

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