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Alagoano que decidiu "mudar o mundo" terá história contada hoje na Globo

Carlos Jorge e Thalisson Carvalho participam do Caldeirão do Huck e tentam construção de polo tecnológico no Vergel do Lago

A vontade e coragem para mudar a própria realidade e a do lugar onde se vive são os destaques do Caldeirão do Huck deste sábado (24), com a participação dos alagoanos Carlos Jorge e Thalisson Carvalho. Os embaixadores do projeto Mandaver, Organização Não Governamental (ONG) que atua no bairro Vergel do Lago, em Maceió, terão suas histórias de vida contadas no programa e participarão do quadro The Wall, no qual os participantes tentam a sorte para conseguir dinheiro e financiar seus projetos.

O Mandaver atende diretamente 320 jovens da periferia, com ações sociais, culturais e de qualificação profissional. Na atual epidemia do novo coronavírus, o projeto contabiliza mais de 7 mil atendimentos e continua desenvolvendo ações para minorar os impactos da crise na comunidade. A participação dos alagoanos no Caldeirão do Huck busca viabilizar um sonho: a construção de um polo tecnológico capaz de atender mil crianças e adolescentes do Vergel. O programa vai ao ar hoje, a partir das 16h.

História de alagoano que idealizou o projeto Mandaver é marcada por violência, generosidade e superação

FOTO: Reprodução/Instagram

"Meu sonho é tornar o Vergel o lugar mais inovador e empreendedor de Alagoas"

A frase é de Carlos Jorge, jovem de 33 anos, nascido e criado no Vergel do Lago. A história do maceioense começa em um contexto assustador, mas que -infelizmente- é mais comum do que se imagina nas periferias brasileiras.

Aos 6 anos de idade, ele viu os pais se separarem em decorrência do alcoolismo do pai e viu a mãe tentar sustentar a casa sozinha, com o trabalho de empregada doméstica.

Com a mãe fora de casa na maior parte do tempo, o menino era deixado com um tio, que também trabalhava e, por essa razão, amarrava a criança na cama até voltar do serviço. A situação durou até os 9 anos, quando a mãe se envolveu em um novo relacionamento que, de acordo com Carlos Jorge, resultou em uma condição insustentável de violência doméstica, sexual e de espancamento. "Então comecei a delinquir, a roubar", conta.

Ele diz que sair daquela "tragédia pessoal e social" era um desafio que parecia impossível e que, para provar o contrário, contou com a ajuda de uma vizinha, Dona Maria.

"Ela me resgatou. Eu dava muito trabalho e quanto mais eu dava trabalho mais ela me incentivava, mais investia em mim. Eu fui vencido pelo constrangimento, porque ela era o tipo de pessoa que não falava, porque a vida dela era um exemplo vivo de perseverança e resiliência", afirma.

Aos 17 anos e com a morte de Dona Maria, o jovem já começava a imaginar o que se tornaria o projeto Mandaver. "Eu comecei a participar de projetos sociais, tentando seguir em frente e levar o legado dela, fazer pelas outras pessoas o que ela fez por mim".

Mandaver

Já adulto, Jorge Carlos trabalhava como motoboy, mas resolveu sair do emprego em 2014. "Fiz um acordo com a empresa, recebi a rescisão, cheguei em casa e disse para minha mulher - amor, vamos mudar o mundo?"

Apesar da condição precária em que viviam, ele conta que convenceu a esposa e alugaram um quartinho, onde colocaram uma barra de ferro na parede e começaram a oferecer aulas gratuitas de balé. Começava ali o projeto Mandaver.

"Dois anos depois teríamos a Lívia, que saiu da nossa aula de balé para fazer teste no Bolshoi", relata.

"No começo, eram 60 crianças atendidas, aí perdemos o nosso espaço porque o dinheiro acabou, ficamos mais de dois anos em espaços emprestados, trabalhando dentro da favela, perseverando como podíamos. Aí, em 2018, veio a parceria com a rede Gerando Falcões e a Fundação Lemann. E conseguimos sair de 60 para 320 crianças e adolescentes", conta, orgulhoso.

Atualmente, a Ong promove ações socioeducativas, aulas de futebol, balé, teatro, percussão, além de cursos de qualificação profissional, que, de acordo com Carlos Jorge,  encaminha pelo menos 10% dos participantes diretamente para o mercado de trabalho. Apesar de estar feliz com suas escolhas e com a dimensão que o sonho de mudar o mundo está tomando, Carlos diz ainda há muito a se fazer.

"Preciso responder como tornar o Vergel o lugar mais inovador e empreendedor de Alagoas. Nosso sonho é ter um polo tecnológico, fazer com que os jovens se interessem por tecnologia e educação. E também um polo sociocultural, com atividades, uma política pedagógica consistente, trabalhando todo o ciclo de vida dessas crianças e jovens do Vergel", diz.

"Hoje tenho certa maturidade, pois tudo isso é um aprendizado de gestão emocional e de gestão profissional também. Tenho ainda mais clareza de que não podemos desistir de algo ou de alguém porque dá trabalho, mas persistir", conclui o alagoano.

Vergel do Lago

No dia 1 de abril, Luciano Huck relatou sua passagem por Maceió e como conheceu o trabalho da Ong Mandaver. "As favelas na região do Vergel do Lago - Mundaú, Sururu de Capote, Torre, Peixe e Muvuca - deveriam ser visitadas por todos, principalmente pela elite inerte deste país", disse Huck, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo. A visita, feita ao lado de Carlos Jorge, foi descrita como alarmante pelo apresentador.

"A realidade imediata era mais grave. Meu único registro de algo semelhante remetia à visita que fiz anos antes à Cité Soleil, a maior favela de Porto Príncipe, capital do Haiti. Na época, saí de lá convencido de que a humanidade não havia dado certo. Como era possível pessoas viverem naquela condição a meros 40 minutos de voo da Flórida?", questionou.

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