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Sururu some da Lagoa Mundaú e afeta mais de mil famílias ribeirinhas

Desaparecimento está relacionado ao aumento do volume de chuvas em Alagoas

Silvaneide da Silva é uma trabalhadora que sustenta os quatro filhos com a venda de sururu. Isso acontece há oito anos, ou melhor, acontecia. Entre os meses de abril e maio não consegue mais retirar da Lagoa Mundaú um quilo sequer do molusco e agora depende da ajuda do governo para colocar comida no prato.

O sururu sumiu da lagoa e causou forte impacto socioeconômico para mais de mil famílias ribeirinhas. “A situação é desesperadora. Hoje está horrível. Agora não tem nem sururu e nem peixe. Não tiramos nada da lagoa mais. A situação estava ruim e quando teve aquela chuva toda piorou”, conta Silvaneide, moradora do Vergel do Lago, em Maceió.

De acordo com a pescadora, o lucro por semana ficava em torno de R$ 750 e atualmente nada é arrecadado. “Hoje a gente conta com ajuda para viver, passando necessidade mesmo e ninguém faz nada. Ninguém diz nada”, lamenta. Por dia, Silvaneide conseguia tirar da lagoa de 30 a 35 quilos do sururu. “Agora não estamos nem indo mais pescar porque não tem nada”, diz.

Patrimônio imaterial de Alagoas, o sururu desapareceu da Lagoa Mundaú, situação que pode ter ligação com a salinidade reduzida por conta do excesso de chuvas

“Desde quando começou o período da chuva já houve uma baixa no sururu porque ele precisa da salinidade da água para sobreviver e naturalmente no período da chuva já existe uma baixa. Porém, com as fortes chuvas e deslizamento de terra dentro da lagoa, o sururu morreu. Então não está tendo sururu em Maceió. O que está sendo produzido hoje no Vergel é feito por um pequeno grupo de marisqueiros e pescadores que está conseguindo comprar em Roteiro, mas isso faz com que o valor de revenda fique maior e o que eles ganham fique menor”, declara Lisania Pereira, presidente do Instituto Mandaver.

“Algumas famílias conseguiram o auxílio chuva, liberado pela Prefeitura de Maceió e outras pelo Estado. O Instituto Manda Ver e outras organizações também têm dado suporte na questão de segurança alimentar e alguns já estão buscando atividades alternativas na parte de empreendedorismo, da forma como elas podem para tentar se virar”, explica a presidente do Instituto Mandaver.

Lisania acrescenta que “o maior desafio é que muitos pescadores e marisqueiros são analfabetos ou semianalfabetos, que dificulta a inserção no mercado de trabalho, além da dificuldade das mulheres que são mães de crianças na primeira infância por não ter creche para deixar os filhos e procurar trabalhos alternativos”, explica.

“Primeiro ponto que tem que considerar é o que os pescadores retratam para a gente. Então, de fato, eles reportam que durante os anos a quantidade de sururu que está tendo na lagoa está reduzindo. Isso pode estar relacionado a diferentes fatores. Mas comumente nessa época do ano o desaparecimento parcial ou total de sururu está relacionado diretamente a quantidade de chuva que vai alterar o equilíbrio do sistema, principalmente em relação ao valor de PH, que é um parâmetro muito importante. A água se torna mais doce, numa linguagem mais simples”, explica Josué Carinhanha Caldas Santos, do Instituto de Química e Biotecnologia da UFAL.

Segundo o professor, para que o sururu sobreviva e tenha formação de sua concha, da sua casca, essas condições são muito importantes. Então quando chove muito e também com a entrada na lagoa de esgoto proveniente das chuvas, isso muda o perfil de salinidade, muda o pH (escala numérica que indica acidez ou basicidade de uma solução aquosa) e o sururu não consegue desenvolver.

“De fato isso reduz ou mata dentro dessa época de fortes chuvas. Outro ponto está relacionado ao assoreamento da lagoa e a própria contaminação por diferentes espécies. A poluição que está desencadeando a mudança daquele ambiente. E por fim mais recentemente tem se reportado o aparecimento de uma nova espécie, não é o sururu, que os pescadores denominam de ‘sururu branco’ . Não tem as mesmas características em relação ao sabor, a forma de preparo e também a forma de se proliferar no meio", disse Josué Carinhanha.

Segundo o professor, trata-se de uma espécie invasora, parecida com o sururu. "Então o conjunto desses fatores está contribuindo para a redução do sururu no meio. Sobretudo, destaca-se que essa redução é muito um retrato do que os pescadores nos passam e a gente acredita neles em função de serem as pessoas que estão ali obtendo uma forma de vida, de sustento”, finaliza.