A próxima semana será decisiva para as pretensões do Inter no campo e na esfera jurídica. À beira do rebaixamento, enfrenta o Cruzeiro no domingo com a missão de vencer para se manter vivo no Brasileirão. Ao mesmo tempo, se cerca de informações e analisa documentos para entrar com notícia de infração contra o Vitória, por suposta irregularidade no caso Victor Ramos.
O departamento jurídico do clube gaúcho prepara o texto para dar entrada no STJD, o que só deve acontecer na segunda-feira. A direção do Inter também afinou o discurso em relação ao caso, embora ainda não garanta o ingresso no Tribunal. E como argumento para se utilizar do "tapetão", lembra até de 2005, quando uma virada de mesa mudou a história do Brasileirão.
- É feio entrar no tapetão, dá margem a deboche, mas se há um clube no Brasil que tem direito de recorrer ao STJD é o Inter. Perdemos um campeonato no tapetão por coisas que não fizemos. Não tivemos nada a ver com a corrupção do árbitro. Perdemos um campeonato no tapetão e temos a justificativa ética de mencionar a irregularidade - comenta o vice de futebol do Inter, Fernando Carvalho, ao GloboEsporte.com.
Em São Paulo, Carvalho se reuniu com o presidente Vitorio Piffero e com um advogado com "conhecimento da causa", segundo o vice de futebol. Conforme apurado pelo GloboEsporte.com, o encontro foi com Alessandro Kishino, advogado do Bahia no "caso Victor Ramos".
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Enquanto isso, no Rio, o corpo jurídico do clube solicitou cópia do processo do julgamento do caso Victor Ramos, que foi arquivado.
- Ainda não estou dominando essa matéria. Não é hora ainda de bater boca. Vamos deixar entrar o processo, se entrar - acrescenta Carvalho.
Inter quer voltar à Fifa
O Inter quer voltar à Fifa, onde existe um processo em aberto ainda do Campeonato Baiano, e também pode acionar a Justiça Comum indo adiante no caso que começou com ações no Tribunal de Justiça Desportiva da Bahia - com o Flamengo de Guanambi e o Bahia - e que já foi arquivado e desarquivado pelo STJD.
O clube gaúcho vai levar carta da Fifa de 24 de maio deste ano endereçada ao diretor de registros e transferências da CBF. No parecer, a entidade máxima do futebol mundial dizia que o uso do TMS (sistema de transferências da Fifa) é obrigatório em transações internacionais.
- Não tem nada irregular. Se existe irregularidade na transferência internacional quem tem que julgar é a Fifa. No Brasil não tem nada errado. O Vitória não fez nada errado - disse Reinaldo Buzzoni, diretor de registro e transferência da CBF.
A CBF reforça que não há irregularidade no registro de Victor Ramos. Buzzoni reconhece que o procedimento não foi o correto, mas afirma a irregularidade existiria pela falta do ITC (o certificado internacional de transferência), o que não aconteceu. Por sua vez, a direção do Inter entende que o documento comporta interpretações divergentes.
Entenda o caso
A suposta irregularidade decorreria da transferência do defensor para o Vitória após o término de seu empréstimo ao Palmeiras, clube no qual atuou em 2015. Ramos tem seus direitos ligados ao Monterrey, do México. Ocorre que o atleta estava registrado no TMS (Transfer Matching System) da Fifa comojogador do Palmeiras, com contrato ativo com o clube paulista. Tal transação teria sido feita sem seguir os passos recomendados pela entidade numa negociação internacional.
Em nota enviada ao GloboEsporte.com na quarta-feira, o diretor executivo do Vitória, Anderson Barros, mantém a mesma posição adotada meses atrás. Nega qualquer irregularidade.
- O Vitória já comprovou que não há qualquer irregularidade. Não cabe mais nos dias de hoje esse tipo de movimentação, o futebol não merece mais isso. Mas caso eles façam essa movimentação, todas as justificativas legais já foram feitas - disse.
Não foi a primeira vez que o assunto entrou em pauta. A primeira polêmica surgiu ainda durante a disputa do Campeonato Baiano. À época, oFlamengo de Guanambi entrou com uma ação na qual pedia a eliminação do Leão do Campeonato Baiano. O texto diz que, em caso de transferência internacional, o atleta tem que ter o nome publicado no Boletim Informativo Diário (BID) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) até o dia 16 de março. Victor Ramos teve o nome publicado no dia 18 de março. O Vitória, no entanto, garantiu que a negociação foi nacional.
À época, o argumento do Leão foi de que, após o fim do empréstimo de Victor Ramos ao Palmeiras, em dezembro do ano passado, o certificado de transferência internacional (ITC) não saiu do Brasil, assim seria umanegociação nacional. A Federação Baiana de Futebol (FBF) teve a mesma visão sobre o caso e afirmou que a CBF confirmou o caráter da negociação. No sistema de transferências da Fifa, o atleta aparecia com contrato ativo com o Palmeiras.
A máfia do apito
Em 23 de setembro de 2005, a revista Veja revelou o esquema de Máfia do Apito, que resultou na prisão dos árbitros Edilson Pereira e Paulo José Danelon, além do empresário Nagib Fayad, o "Gibão". As suspeitas fizeram com que os 11 jogos apitados por Edilson no campeonato fossem anulados e disputados novamente.
Anunciada por Luiz Zveiter, presidente do STJD, a decisão beneficiou o Corinthians, que pode enfrentar novamente Santos e São Paulo. Nas novas partidas, o Timão mostrou nova cara e superou o Peixe por 3 a 2, enquanto empatou com o tricolor paulista em 1 a 1. Ou seja, recuperou quatro dos seis pontos perdidos. Enquanto isso, o Inter precisou voltar a enfrentar o Coritiba e conseguir manter os três pontos do jogo.
- O resultado do tapetão em 2005 foi válido. Nós perdemos e nos conformamos. Agora, surge o outro lado. O Inter pode recorrer - finaliza Carvalho.