Era 15 de setembro de 2001 quando Alessandro Zanardi, em um brutal acidente na Fórmula Indy, perdeu as duas pernas e, por muito pouco, não perdeu também a vida. E exatos 15 anos após o episódio que quase o vitimou, o italiano de 49 anos conquistou nesta quinta-feira sua segunda medalha na Rio 2016- a primeira foi no dia anterior, a quinta na carreira, contando as outras três de Londres 2012. Em uma chegada emocionante, decidida na bandeira quadriculada, o ex-piloto da F1 e da Indy conquistou a prata na prova de 60km do ciclismo de estrada, categoria H5, disputado na praia do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes. O ouro ficou o sulafricano Erns van Dyk, de 43 anos. O holandês Jetz Plat completou o pódio e levou o bronze.
- Eu sabia que hoje era o aniversário do acidente. Mas não pensei muito nisso, preferi focar em outras coisas, e nem me veio à cabeça durante a corrida. Esse dia me faz lembrar que tive muita sorte de sobreviver, de ter uma segunda chance, e acredito que tenho feito bom uso dela. É um bom dia. E terminar em segundo e conquistar mais uma medalha o torna melhor ainda - disse o italiano.
Ouro na mesma prova em 2012, Zanardi não era franco favorito à competição deste ano. O italiano é especialista em subidas, enquanto o circuito da Rio 2016 era totalmente plano.Mesmo assim, por pouco Zanardi não levou a prova. Eram quatro voltas de 15 km. Na primeira, o italiano passou em segundo, a 23s do líder Stuart Tripp. O australiano, porém, perdeu ritmo e foi caindo posições, deixando a prova equilibradíssima. Zanardi completou a segunda e terceira voltas em quinto. Dos dez competidores, nove abriram a última volta no mesmo segundo. O ex-piloto da F1 manteve-se no pelotão da frente durante todo o último giro, tentou colocar do lado na linha de chegada, mas não foi capaz de superar o sulafricano Ernst van Dyk.
- Essa pista era muito técnica e era tudo menos minha especialidade. Quando ganhei o ouro ontem por 2s achei que ia acordar e descobrir que era um sonho. Hoje eu sabia que era possível, mas sabia que seria difícil. O pelotão inteiro ficou muito próximo. Ernst é um atleta fantástico, e sua especialidade é o sprint. Hoje ele foi incrível e simplesmente não foi possível superá-lo. Quando a mim, fiz o melhor que pude, mas não foi o suficiente. Acho que fiz uma boa corrida, estou muito satisfeito. Ser segundo lugar é um sonho para todos que estão aqui. Foi muito bom ter feito isso em minha prova individual, porque amanhã é a prova por equipes e o segundo lugar não vai ser o suficiente! - brincou o italiano, que volta a competir nesta sexta-feira, às 15h30, na prova de revezamento por equipes.
Relembre a história de Alex Zanardi
Nascido em Bolonha, na Itália, em 1966, Alessandro Zanardi teve uma passagem discreta pela Fórmula 1 no início da década de 1990, correndo por equipes pequenas. O italiano brilhou mesmo foi na CART, uma das categorias na qual a Indy se dividiu naquele período. Foi bicampeão em 1997 e 1998 e terceiro colocado em 1996. Nesse período, conquistou 15 vitórias e subiu ao pódio 27 vezes. Em setembro de 2001, porém, viu a vida virar de cabeça para baixo em um violento acidente em uma corrida em Lausitzring, na Alemanha.
Zanardi liderava a prova quando bateu no muro e ficou atravessado na pista. Ele foi atingido em cheio pelo carro do canadense Alex Tagliani. No choque, Zanardi teve as pernas severamente comprometidas no acidente, foi submetido a diversas cirurgias de emergência e precisou amputá-las acima do joelho. Ele chegou a perder ¾ do sangue corporal e correu sério risco de morte, precisando ser reanimado sete vezes.
As dificuldades não impediram Zanardi de se afastar de sua paixão, o automobilismo. Em uma recuperação surpreendente, em menos de dois anos após o acidente, o italiano voltou ao volante. Em um carro adaptado, com alavancas manuais para aceleração e freio, competiu no Campeonato Europeu de Turismo e no Campeonato Mundial de Turismo, obtendo quatro vitórias e dez pódios nesse período. A volta por cima valeu a ele o Prêmio Laureus, considerado o Oscar do esporte.
Em 2007, descobriu uma nova paixão: o paraciclismo. Nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, em circuito montado no autódromo de Brands Hatch, conquistou as medalhas de ouro nas provas contrarrelógio e de estrada e a medalha de prata no revezamento por equipe, todas na classe H4. De vez em quando, o italiano ainda mata saudade do automobilismo, como em 2014, quando disputou a temporada do Mundial de Gran Turismo, em em 2015, quando participou das 24 Horas de Spa.