'Descobri que era adotada aos 14 em ligação anônima', diz Thelma Assis
Filha de pais amorosos, Thelma Assis descobriu com um telefonema anônimo, aos 14 anos, que era adotada
Cada novo ciclo da vida de Thelma Regina Maria dos Santos Assis, a Thelminha, chega com uma grande mudança. A primeira foi bem cedo, aos três dias de vida, quando foi adotada pelo casal Yara, uma funcionária pública, e Carlos Alberto, que sempre trabalhou em gráfica. Dedicada, a família foi suporte para todas as revoluções que estavam por vir. A mais recente, aos 35 anos, foi deixar a chefia da residência do Hospital das Clínicas em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, para participar de um reality show. De lá para cá, outras grandes viradas entraram para a conta da história de sucesso de uma mulher que não vê barreiras para conseguir o que quer.
Em entrevista para sua primeira capa de Marie Claire, Thelminha contou detalhes do drama _que você lê nas bancas a partir de 5 de novembro. Aqui, dois trechos da entrevista para abrir o apetite!
A adoção
"Sou filha única, fui uma criança muito paparicada. Meus pais trabalhavam muito, ficavam praticamente o dia todo fora de casa, e quem cuidava de mim era minha avó Ordalina, uma mulher extremamente forte. A gente não tinha uma condição financeira muito boa, mas eles faziam questão de duas coisas: que eu tivesse uma infância lúdica e que estudasse. Fui adotada com três dias de vida, mas só soube disso aos 14 anos, depois de um telefonema anônimo. Minha mãe queria me contar quando eu fizesse 18. Achava que, com essa idade, eu teria maturidade para reagir à situação. Mas eu desconfiava desde os 7. Na minha certidão de nascimento estava escrito ?nasceu em casa?. Sempre perguntava como tinha sido, se chamaram parteira... Minha mãe dizia que eu havia nascido do coração dela - o que eu entendia como uma maneira de ela dizer o quanto me amava. Só depois soube que minha progenitora não podia cuidar de mim e acabou me doando. O telefonema anônimo era para me deixar rebelde, mas sou uma pessoa muito resiliente. No dia, sentei com minha mãe e falei que o que eu mais precisava era de amor e carinho e isso eles me deram."
O racismo
"Fui criada para viver em uma sociedade estruturalmente racista, com minha mãe dizendo que eu tinha que ser a melhor em tudo. Sempre precisei provar minha capacidade e foi minha determinação que fez com que eu me formasse em medicina com bolsa integral pelo Programa Universidade para Todos (ProUni). Era a única negra da turma de 100 alunos, e fui a única durante meus 15 anos de balé clássico. Só no Miscigenação, grupo de passistas da escola de samba Mocidade Alegre, de São Paulo, divido a cor e os sonhos com meus colegas. É triste estar sozinha em todos esses lugares. Em meu discurso de entrada no BBB, disse que estava na hora de um negro ganhar. Sou uma médica totalmente fora do perfil do programa, que antes só tinha mostrado o estereótipo do médico homem e branco. Não entrei para levantar bandeiras, mas essas causas que fazem parte da minha vida."
A profissão
"Existe uma responsabilidade muito grande em estar na TV aberta, ainda mais falando sobre saúde em meio à pandemia. Mas eu amo desafios, sou uma esponja para aprender e sempre busco o feedback do diretor e do Manoel [Soares, repórter]. É muito importante continuar me colocando como médica, mas também faz parte do meu papel ser uma comunicadora. O Drauzio Varella já faz isso há tantos anos, por que não uma mulher fazendo o mesmo? Ainda mais porque as pessoas se identificaram comigo. Percebo isso com meus 6 milhões de seguidores do Instagram. No começo, achei que era só admiração, mas agora entendo o verdadeiro significado da palavra representatividade. Meus fãs se identificam com a minha história e os sonhos que compartilhamos, e meu maior orgulho é ter tantos seguidores acadêmicos de medicina. Claro que tem uma parte ruim, infelizmente alguns acham que a internet é terra de ninguém e saem me ofendendo nas redes. Isso causa um impacto psicológico grande."
Receba notícias da GazetaWeb no seu WhatsApp e fique por dentro de tudo! Basta acessar a nossa comunidade:
https://4et.us/rvw00p