Imagem
Menu lateral
Imagem
Imagem
GZT 94.1 | Maceió
Assistir
Ouvir
GZT 101.1 | Arapiraca
Ouvir
GZT 101.3 | Pão de Açúcar
Ouvir
MIX 98.3 | Maceió
Ouvir
Icone Hora do Enem

A maior plataforma de revisão para o ENEM

Clique e Acesse

Hora do ENEM Alagoas

Imagem
Menu lateral Busca interna do GazetaWeb
Imagem
GZT 94.1
Assistir
Ouvir
GZT 101.1
Ouvir
GZT 101.3
Ouvir
MIX 98.3
Ouvir
X
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no facebook compartilhar no linkedin
copiar Copiado!
ver no google news

Ouça o artigo

Compartilhe

Atração do Rock in Rio, MC Carol relembra pobreza: ‘Morava em barraco'

Funkeira, que já passou fome na adolescência, conta que se emocionou com o convite para se apresentar no festival


				
					Atração do Rock in Rio, MC Carol relembra pobreza: ‘Morava em barraco'
MC Carol levou o público à loucura no Rock in Rio em 2022 e promete repetir a energia lá no alto em 2024!. Fabio Cordeiro/gshow

Quando sobe ao palco, Carolina se transforma na MC Carol bandida, destemida e pronta para encarar qualquer confusão. Mas pouca gente sabe que a funkeira de letras polêmicas, atração do Rock in Rio no Espaço Favela no próximo dia 21, criada no Morro do Preventório, em Niterói, odeia gritaria.

Carol não fala palavrão, é fã de Roberto Carlos e não manda seu marido “lavar suas calcinhas”, como diz a letra de “Meu namorado é mó otário”, música preferida dos seus fãs.

Leia também

Com a voz baixa e ponderada, a artista surpreende ao revelar seu lado doce e explica que para sobreviver sozinha na comunidade aos 14 anos, quando seu bisavô morreu e sua bisavó foi morar de favor, precisou vestir a capa de "boa de briga". Em uma casa sem portas, fechada apenas por cortinas, ela estava sempre alerta para se proteger de todo o mal que pudesse surgir.

“Ali no palco, sou a bandida, agressiva, que bate em homens. Precisei criar essa capa para me defender. Era uma menina morando sozinha. Aconteceu de um cara falar para mim que ia entrar de madrugada na minha casa e me estuprar. Eu respondi: ‘Beleza, se chegar lá, vou te esfaquear’. Se olhar foto minha aos 15 anos, você fala: ‘Essa menina tinha coragem.’”

A dona de hits como “Minha vó Tá Maluca” e “Não Foi Cabral” está animada para se apresentar pela terceira vez no Rock in Rio. Pesando menos 54 quilos, após fazer uma bariátrica há dois anos, ela promete um show animadíssimo:

“Estou menos ofegante e com mais disposição para ficar em pé. Fico emocionada quando o convite chega, só que sou muito durona, nunca vou admitir isso na frente de ninguém. Um dia você está no morro, não tem esperança de nada. No outro, está simplesmente no maior festival”, reflete.

Carol diz como aprendeu a se amar e ser amada pelo marido, Cosme Santiago, e explica ao gshow como lida com dinheiro, fama e dificuldades: "Tive todas as oportunidades de fazer coisas ruins, nunca fumei, nunca fui pela cabeça do outro. Não consigo me sentir foda, mas me sinto merecedora."

Onde nem imaginava...

“O Rock in Rio para quem canta é como se você tivesse cinco reais no bolso e o sonho de ir para Disney. Você só tem 5 reais, vai para onde? Cheguei onde nem imaginava. Nunca pensei em cantar nos Estados Unidos. Minha primeira viagem internacional foi em 2017. Uma vez fui dar uma palestra no exterior e recebi muitos elogios. Às vezes vou fazer uma coisa que nem sei direito e chegando lá consigo desenrolar.”

“Tive sorte e oportunidades, não igual pessoas brancas, magras e homens. Fui chamada no São Paulo Fashion Week com quase 200 quilos para desfilar. Suava frio de medo. Aí pensei: ‘Quando vou ter outra oportunidade?’ Pessoas como eu nem têm oportunidade e quando ganham devem agarrar com unhas e dentes.”

Fôlego

“Perdi 54 quilos. Continuo gordinha, porém menos ofegante e com mais disposição no palco para ficar em pé. Vai ser um show com mais fôlego. Eu não danço, mas vou cantar melhor e a coluna não vai doer por conta do peso.”

Autoestima

“Minha autoestima vem de cedo, da minha criação. Meu bisavô sempre me enalteceu, falava que eu tinha um rosto muito bonito, cantava músicas com Carolina, que era uma mulher bem difícil de esquecer. Me mostrava a realidade do mundo."

“Meu bisavô era um cara machista, porém me educou para ser uma mulher feminista. Estranho, né? Ele me deixava brincar com meninos da rua, sempre me respeitou e me deu liberdade para escolher o que eu queria.”

Fome

“Meu bisavô morreu quando eu tinha 14 anos. O filho dele tomou a casa, minha avó foi para um lado, eu para o outro. Foi a época em que eu passei fome. Na escola era o único lugar onde eu fazia refeição. Batia na casa da minha melhor amiga aos sábados e domingos. Ela tinha muito pouco e dividia comigo."

"Teve um dia que não tive o que comer e tive que esperar até segunda-feira para me alimentar no colégio. Minha bisavó estava sofrendo também. Ela não tinha como me ajudar, porque ela estava sendo ajudada e também foi roubada.”

Merecedora

“Não consigo me sentir foda, mas me sinto merecedora. O que faz você ser merecedor, não é o que passa e sim o que transforma com isso. E eu transformei em arte. Nesses 15 anos que estou no funk, passei por muita coisa que vejo as pessoas hoje e penso: 'Cara, essa pessoa não passaria por isso'. Tive que fazer muito show de graça para ter minha música tocando."

Racismo

“Um dia cheguei em casa dizendo que queria mudar de cor igual ao Michael Jackson. Foi horrível, meu avô brigou muito feio comigo. Ele falou que da porta para fora eu não tinha que me importar, nem com amor e ódio de ninguém. Só com ele e com minha avó que me criaram. Cresci com isso na cabeça."

"Era uma menina de 15 anos, preta, gorda, com um cabelo que, na favela, chamam de pão careca. Era muito curtindo e sem cuidados, não tinha dinheiro. As pessoas me vaiavam, tacavam latinha e copo de cerveja em mim nos shows."

Carol bandida

“Morava em um barraco que não tinha porta nem janela, era de cortina. Virar a ‘bandida’ foi sobrevivência. Fui criando um personagem agressivo e mostrava para as pessoas na rua que tinha disposição para brigar."

“Algumas coisas eu tive que passar e me fizeram uma pessoa muito forte. Usava roupa de homem, cabelo para trás, não botava unha grande. Parecia que eu estava preparada para um problema a qualquer momento."

Forte por fora, tremendo por dentro

“A única coisa que me fazia chorar era o medo que sentia dos lugares que eu trabalhava. As pessoas diziam que eu ia acabar estuprada, morta, presa por associação ao tráfico por cantar no baile, morrer de bala perdida. Ninguém me ajudou e eu sempre ouvi coisas ruins."

“Eu era muito mais forte antes, aos 15, nada me machucava. Nessa época não amava ninguém, era sozinha. Hoje me sinto mais flexível, uma pessoa que se importa. Sinto quando falam mal de uma pessoa que eu amo. O amor acabou me amolecendo um pouco.”

Cabeça feita

“Tive liberdade e todos os ingredientes para ir para rua, roubar, me envolver com tráfico, fazer coisa errada, mas eu fugi de usar drogas. Meus amigos me chamavam de careta. Trabalhava em baile funk, tinha acesso a tudo, mas nunca fui pela cabeça do outro. É um bagulho que tem um cheiro horrível e não vou fazer porque tem 30 amigos fazendo. Levei isso para o palco. Nunca pisei em ninguém e trilhei meu caminho.”

Fora do palco, Calmaria

“Todo mundo leva um choque quando me conhece pessoalmente. É uma decepção. As pessoas perguntam se eu estou passado mal. Sou séria, falo baixo, não xingo, gosto de Roberto Carlos, Dalva de Oliveira, Cartola, não gosto de festa.”

“Aconteceu agora há pouco, fui a um aniversário e uma parente chegou e falou: ‘Você está bem?’ Sou assim mesmo, caladinha no meu canto. As pessoas acham que tenho que ser o personagem o tempo todo. Mulher que grita, xinga e bate.”

Quando desliga a Carol e entra a funkeira

“Eu tento lembrar alguma frase de música minha que vou cantar daqui a pouco e não consigo. A letra vem quando estou no palco. Prestes a entrar, eu desligo e ligo outra pessoa. Parece que não estou ali.”

“Já aconteceu de perder um parente antes do show e eu ter que subir ao palco. Não lembro de nada da minha vida pessoal quando estou lá e, quando desço, vem tudo. A gente tem que trabalhar e aprendi a me desligar.”

Inspiração

“Me inspirei na Tati Quebra Barraco. É a mesma postura que tenho. Ela não dança, é cara fechada. E também curtia o Vuk Vuk, que fazia um funk cômico. Ele já faleceu, era um cara que colocava fantasia de índio, árabe e cantava engraçado. Eu queria que as pessoas me vissem assim. Tem funk ostentação, tem o proibidão, mas queria falar de coisas reais de maneira cômica.”

Roubo

“Quando você vira artista, as pessoas acham que tem obrigação de emprestar dinheiro para todo mundo. Eu achava que não podia deixar meus amigos para trás. Fui sendo roubada na minha casa. Levaram tênis, chinelo de 200 reais, máquina profissional. Roubaram um celular e um ar-condicionado na caixa."

"Até você entender que não tem dívida nenhuma com amigos de infância, é um processo. Familiares apareceram do nada. Apareceram três homens falando que eram meu pais. Um até é e a gente está próximo desde o Natal.”

Pé no chão

“Tenho uma vida confortável, vivo na casa do jeito que queria, toda branquinha de vidro, tenho um CRV, que era o carro dos meus sonhos. Dei uma casa para a minha avó toda rosa. Posso fazer uma viagem a hora que quero. Uma pessoa que mora na favela vai me considerar rica.”

“Ainda não estou onde eu queria. Não ostento, quando me comparo com outros artistas. Eu nunca dei R$ 20 mil numa bolsa, R$ 10 mil em um tênis, R$ 100 mil em um cordão. Mas já gastei R$ 20 mil em uma viagem internacional, mesmo assim economizando.”

Casamento

“O Santiago foi uma coisa muito boa que aconteceu na minha vida. Primeiro ele mandou uma mensagem no Facebook, demorei um ano para responder e, quando respondi, a gente começou a discutir. Um queria ser mais que o outro, dois malucos. Do nada a gente se encontrou pela primeira vez no viaduto de Madureira [na Zona Norte do Rio]. Não teve discussão nenhuma no nosso primeiro encontro e pareceu que éramos amigos de anos.”

“Começamos a namorar e ele me colocou na parede. Disse que não ia ficar escondido. A gente se casou no dia em que fez um ano que havíamos nos conhecido, em janeiro de 2024. Eu era muito ciumenta, mas depois do casamento ele ficou mais. Fiz cirurgias para tirar a pele da barriga, comecei a me cuidar e quem ficou enciumado foi ele.”

Quem manda?

“Na minha casa não tem líder. Ele agora lavou a louça, fiz a comida e ele ficou na parte da limpeza. A gente divide as tarefas. Quando você conhece uma pessoa legal que não disputa, tudo é diferente, não tem com quem lutar.”

“Perguntei se ele tinha noção da responsabilidade que era namorar comigo, que iam caçar tudo da sua vida, expor de todas as formas. A vida de todo artista é um inferno, o dinheiro é a parte boa, a fama é consequência. Eu vivo há 15 anos isso. Mas o que ele fez antes de mim não me interessa. Não sou perfeita. A gente se ama, mas os ataques não pararam e a vida dele virou um inferno.”

App Gazeta

Confira notícias no app, ouça a rádio, leia a edição digital e acesse outros recursos

Aplicativo na Google Play Aplicativo na App Store
Aplicativo na App Store

Relacionadas

X