Imagem
Menu lateral
Imagem
GZT 94.1
GZT 101.1
GZT 101.3
MIX 98.3
Imagem
Imagem
GZT 94.1
GZT 101.1
GZT 101.3
MIX 98.3
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no facebook compartilhar no linkedin
copiar Copiado!
ver no google news

Ouça o artigo

Compartilhe

HOME > notícias > CULTURA

Ísis Florescer é a primeira mulher trans a ter uma obra publicada em Alagoas

Livro "Segunda Pele" foi lançado na sexta-feira (26), em sessão com entradas esgotadas na Livraria Leitura, em Maceió

Um convite ao abismo e à primavera. Assim pode ser descrito o lançamento “Segunda Pele”, primeiro livro da escritora e atriz Ísis Florescer, lançado na sexta-feira (26), em evento com reservas esgotadas. A obra reflete a condição existencial da autora, que entra para a história como a primeira mulher trans a publicar um livro em Alagoas.

Nas entrelinhas dos poemas, uma existência marcada por processos complexos e, muitas vezes, dolorosos. O grito de resistência de uma mulher que teve que derrubar as próprias barreiras, enquanto escalava os muros que a sociedade inventou de por em seu caminho.

Leia também

“Uma forma de escrever no mundo outras narrativas e possibilidades para mulheres como eu, que apesar dos desafios e discriminações do cotidiano não desiste de fazer sua voz ecoar e ampliar a pluralidade e diversidade que existe nesse mundo”, diz a autora.

Ísis é uma voz poderosa no meio cultural alagoano, que apesar de mais aberto à diversidade, não escapa da estrutura machista e transfóbica do país que mais mata mulheres trans e travestis no mundo.

Formada em Artes pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), foi no teatro que ela alicerçou sua carreira, que floresceu quando ela se afirmou Ísis e deixou que seus versos, ligados ao seu eu e a temas como o transfeminismo, ganhassem o mundo.

“Segunda Pele é porque eu sou uma mulher trans. Há quatro anos eu reconheci e afirmei esse processo. Foi quando fui retirando essas camadas que me foram impostas pela sociedade, pela religião, pela família, pelo Estado. Nesse processo de descoberta, foi surgindo esse processo de escrever sobre isso, de dar voz. Me dar voz. A escrita sempre foi um meio de expressar o que eu sentia, percebia e o que me inquietava”, explica Ísis.

Imagem ilustrativa da imagem Ísis Florescer é a primeira mulher trans a ter uma obra publicada em Alagoas
| Foto: Reprodução

Como atriz, ela participou dos curtas-metragens Aquarius e Susanna e os Velhos. Como escritora, teve sua voz fortalecida no SLAM das Minas, organizado pelo Ateliê Ambrosina em Maceió. O evento estimula a oralidade poética de mulheres através de batalhas de poesia falada.

“Foi no SLAM das Minas que eu conheci a Bruca Teixeira [editora do livro] e a Ticiane Simões [que assina o prefácio]. Bruca fez a proposta: Ísis, vamos fazer o seu livro?”, relata a autora, que costumava compartilhar poesias em seu perfil no Instagram (@isisflorescer).

Os poemas, explica Ísis, nascem de maneira orgânica e sem a pretensão de virar livro ou qualquer outra coisa. “É a minha forma de ser no mundo”. Mas, ao ser provocada, ela observou que os poemas que ela já possuía se conectam e acabam contando uma história: o processo de Ísis.

“Segunda Pele é sobre se descobrir, se revelar, encontrar outras texturas da própria existência. São poemas que falam sobre dor, solidão, sobre opressão, são poemas que também me colocam como protagonista ao dizer que existem outras realidades para nós, mulheres trans e travestis, do que aquela que é marcada na sociedade, o estigma de ser uma prostitua e viver na marginalidade”, adianta ela.

A primeira autora trans da literatura alagoana chega ao mercado por meio da editora Sapatilhas de Arame, que aposta em artistas e temas que abordam a diversidade de gênero, raça, física e de orientação sexual. A obra chega acompanhada de um audiolivro com declamações da autora, ao som das musicistas Manu Preta e Miran Abs. A editoração, capa e projeto gráfico são assinados por Bruca Teixeira.

“Nesse processo de construção do livro, fui muito feliz ao encontrar outras mulheres criativas, inteligentes, potentes, que também têm histórias de protagonismos. Eu acompanhei a trajetória dessas mulheres e fui escolhida por elas. Então, quando nós mulheres reconhecemos esse potencial umas das outras, acho que o resultado é muito maior do que aquilo que se espera. A Bruca Teixeira, a Manu Preta, a Miran Abs, a Sal Bernardo, a Mayra Costa, todas as mulheres colaboraram para que esse projeto acontecesse”, ressalta Ísis.

FAZENDO HISTÓRIA

Não faltam planos para Ísis. Artista em tempo integral desde o começo da pandemia, ela usou o período de isolamento para deixar fluir os sentimentos - que viraram poesias que devem ser conhecidas em outros projetos da escritora e atriz. Por enquanto, ela convida os alagoanos a conhecer o abismo e a primavera de uma mulher alagoana.

“Um misto de sensações e sentimentos me vem à pele. Faço parte do grupo mais desumanizado e oprimido pela sociedade cisnormativa. Ser uma mulher trans no Brasil é desafiar as estatísticas de morte, violência e exclusão”, conta Ísis, ao ser questionada sobre a sensação de ser a primeira pessoa trans a publicar um livro em Alagoas.

“Ser uma mulher trans adulta, que teve acesso ao estudo formal, que teve a possibilidade de trabalhar na área de sua formação, que é acolhida pela família e amigos, me coloca numa posição de lutar e abrir caminhos para as outras que não conseguem chegar onde cheguei”, ressalta.

“Ser a primeira mulher preta e trans a ter seu trabalho artístico reconhecido e valorizado nos faz acreditar em novas possibilidades e histórias para as mulheres trans e travestis. Represento a voz de muitas que não conseguem se expressar e ocupar outros espaços”, finaliza a escritora.

App Gazeta

Confira notícias no app, ouça a rádio, leia a edição digital e acesse outros recursos

Aplicativo na App Store

Relacionadas