Imagem
Menu lateral
Imagem
GZT 94.1
GZT 101.1
GZT 101.3
MIX 98.3
Imagem
Imagem
GZT 94.1
GZT 101.1
GZT 101.3
MIX 98.3
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no facebook compartilhar no linkedin
copiar Copiado!
ver no google news

Ouça o artigo

Compartilhe

HOME > notícias > CULTURA

Foliões, carnavalescos e grupos culturais de Alagoas lamentam carnaval sem folia, mas já se preparam para 2022

José Hilton Feitosa, da escola de samba Gaviões da Pajuçara, diz que este é o primeiro ano sem carnaval em 60 anos ininterruptos de folia

Estandartes guardados, figurinos inconclusos e o barracão silencioso da Escola de Samba Gaviões da Pajuçara, em Maceió, ilustram bem o vazio que estes quatro dias de carnaval - sem folia - representam para os amantes da festa de momo. A desforra, considerada por muitos a grande válvula de escape dos brasileiros, não ganhou as ruas em 2021 em decorrência da persistente pandemia do novo coronavírus.

José Hilton Lopes Feitosa, de 66, conhecido como Mestre Prego, conta que será a primeira vez, em 60 anos, que ele não estará nas ruas com seus bonecos gigantes e a alegria que só a festa da carne pode conferir. Filho do Mestre Netinho, primeiro fazedor de bonecos gigantes de que se tem notícia, José Hilton relata que essa época do ano é de grande movimentação em casa, no barracão da Gaviões da Pajuçara e na sede dos blocos dos quais participa: o Bloco Bonecos da Cidade e o Bloco do Prego. Este ano, porém, silêncio.

Leia também

“O sentimento que a gente traz é de tristeza. Não vai ter folia, não vai ter a emoção do preparativo, nem a emoção de sair nas ruas e brincar com os companheiros. É muita tristeza”, diz Prego, enquanto olha para os adereços inacabados que os integrantes da escola de samba usariam.

“Já tínhamos começado o trabalho na escola de samba [Gaviões da Pajuçara], até porque o nosso trabalho começa imediatamente quando acaba o carnaval anterior. Mas aí veio a pandemia e nos impediu de continuar. Paramos a fabricação de adereços, das fantasias, recolhemos tudo na maior tristeza. Nossas costureiras, nossos integrantes, todos tristes, até porque é nessa data que todos ganham o dinheiro do seu sustento”, narra o bonequeiro.

De acordo com José Hilton, as escolas de samba de Maceió estão na mesma situação, com muitas atividades paralisadas e aguardando a hora do anúncio mais esperado: que a pandemia, finalmente, acabou.

Escola Gaviões da Pajuçara prepara um centro cultural gerenciado pela agremiação
Escola Gaviões da Pajuçara prepara um centro cultural gerenciado pela agremiação | Foto: Reprodução/TV Gazeta

“Não tem como pensar em carnaval com tanta gente morrendo, com tanta gente doente. Conversamos com a secretária de cultura de Maceió [Mirian Monte] para montarmos um projeto que envolva todas as escolas de samba. Ela nos recebeu muito bem, nos recebeu com muito carinho, o que aumentou a nossa expectativa para 2022”, explica Prego.

Apesar de um apaixonado pelo carnaval, ele se diz contrário à ideia de fazer uma festa fora de época e afirma que isso não contempla as escolas de samba.

“Meu pai me deixou esse legado, de continuar com as festas de rua, os bonecos, depois veio a escola de samba. É a primeira vez desde a infância que eu não vou pular carnaval. Mas eu acho um absurdo a gente falar em carnaval este ano”, diz.

“Nossa maior saúde é estar vivo. Eu ainda nem me vacinei. eu acredito que o nosso prefeito terá bom senso e vai revogar isso de ter carnaval em setembro. Eu acredito. Eu vou aplaudir ele, as escolas de samba vão aplaudir e preparar um grande carnaval para 2022”, continua o mestre, que finaliza com um alerta.

“Só sabe o que é essa doença [Covid-19] quem teve ou tem alguém na família que teve. A gente não pode levar na brincadeira porque ano que vem teremos um grande carnaval, mas se perder a saúde, perdeu. Meus netos pegaram essa doença terrível. Só sabe quem pega”, finaliza.

PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Pesquisador e militante pelo carnaval de rua em Maceió, Carlito Lima defende união de blocos para festa em 2022
Pesquisador e militante pelo carnaval de rua em Maceió, Carlito Lima defende união de blocos para festa em 2022 | Foto: Reprodução

Carlito Lima, escritor, entusiasta da folia e pesquisador do carnaval de rua em Maceió, promoveu, no final do mês passado, um seminário online que discutiu com organizadores de blocos, eventos e escolas de samba da capital a realização do carnaval de 2022. Do evento “Preparando o Carnaval” surgiu um projeto que será compartilhado com a Fundação Municipal de Ação Cultural de Maceió (Fmac). Apesar de animado para o próximo ano, ele diz que não consegue fugir do sentimento de vazio dos dias sem folia.

“O sentimento é de muita frustração, mas o motivo é muito forte. Eu sou favorável a não realização do carnaval e de só voltarmos às ruas quando estivermos vacinados, quando pudermos aglomerar”, afirma.

Segundo o pesquisador, o carnaval de rua de Maceió voltou a ter vida no ano passado, quando diversos blocos tomaram a orla da capital, não nas prévias, mas nos dias de carnaval.

“Acredito que é importante, este ano, refletir sobre o trabalho que estamos fazendo, desde 2015, com o Bloco da Nêga Fulô. É um trabalho pela reativação do carnaval de Maceió nos dias de carnaval, que há mais de dez anos acabou. No ano passado, conseguimos retomá-lo, com participação de vários blocos tradicionais, escolas de samba, desfile de bois e blocos afro. Aí vem a pandemia interromper esse movimento. Neste momento, continuamos mobilizados para que no próximo ano estejamos firmes e unidos”, diz.

“Mas bate uma saudade danada, sabe? Esses caras ficam me mandando ‘zap’ com vídeos bonitos dos carnavais que passaram, aí a gente ouve aquele frevo e bate uma angústia grande. Mas o que nos resta? Que venha logo o próximo carnaval e que a gente possa se aglomerar. Agora, nosso pensamento tem que estar voltado para a vacinação”, conclui Carlito Lima.

“EM 2022, SAIREMOS PORTANDO MÁSCARAS DIFERENTES, CARNAVALESCAS"

"Comendadora confete de cetim" do bloco Filhinhos da Mamãe diz que momento é de otimismo e fé em dias melhores
"Comendadora confete de cetim" do bloco Filhinhos da Mamãe diz que momento é de otimismo e fé em dias melhores | Foto: Ailton Cruz

Não fosse a pandemia, o bloco Filhinhos da Mamãe teria ganhado as ruas pelo 38º ano. A falta do bloco, de acordo com Maria Beatriz Brandão Sá, uma das fundadoras, deixa um grande vazio na capital alagoana, já que o desfile tradicional reúne de autoridades a artistas, colorindo com fantasias o Jaraguá, bairro histórico de Maceió.

Juliana dos Anjos é uma dessas animadas foliãs que acompanha os cortejos dos Filhinhos da Mamãe. Ela diz que, assim como a falta do Jaraguá Folia, não poder sair no bloco amplificou um sentimento de impotência.

“A gente sabe que precisamos fazer isso mesmo, ficar em casa, não se aglomerar, controlar essa ansiedade de abraçar os amigos. Mas bate uma dor quando penso no bloco dos artistas, quando penso no Escurinho é Mais Gostoso [outro bloco] e quando penso que não podemos fazer nada, além de se conformar”, relata a contadora.

“Todo ano tem aquele mistério, será que o Filhinhos da Mamãe vai sair? Será que vão conseguir botar o bloco na rua? Esse ano a certeza de que não ia sair foi muito pesada”, completa Juliana, relembrando, ainda, a folia dos bloquinhos do Jaraguá.

“Os bloquinhos do Jaraguá são uma coisa de outro mundo, a energia, o calor, até mesmo os beijos para quem tá solteiro, tudo faz falta. Vai fazer falta em todos os meses de fevereiro, já que estamos só vivendo de TBT de carnaval”, completa Juliana.

Um dos mais antigos de Maceió, bloco Filhinhos da Mamãe fez falta para os foliões da capital
Um dos mais antigos de Maceió, bloco Filhinhos da Mamãe fez falta para os foliões da capital | Foto: Reprodução

Para Maria Beatriz Brandão Sá, a Tizinha, mesmo com o vazio carnavalesco de 2021, o momento pede otimismo. Ela, inclusive, recorre à história do bloco Filhinhos da Mamãe para inspirar a juventude nos próximos carnavais.

“Depois de um ano de pandemias, o desejo era de cair na brincadeira e na folia dos blocos, principalmente, como filha dileta, primogênita, reverenciando a Mamãe. Mas, fazer o quê? Ficar quietinha, bem comportadinha, e rezar! Pedir a Deus que nos dê ânimo para aguardar, com firmeza, tudo isso passar! E vai passar!”, afirma a foliã, que afirma contar os dias para o próximo ano.

“Não gosto de Carnaval fora de época! Em 2022, sairemos portando máscaras diferentes, carnavalescas, e cantando, alegres, em coro com os irmãozinhos: ‘Yes, Mamãe, Mamãe, Yesssss’”, finaliza Tizinha, condecorada no bloco como Comendadora Confete de Cetim.

App Gazeta

Confira notícias no app, ouça a rádio, leia a edição digital e acesse outros recursos

Aplicativo na App Store

Relacionadas