Cercado por histórias como a do Saci, Curupira e Boto Cor-de-Rosa, o mês de agosto também deve ser lembrado como um período para ressaltar a importância da oralidade e daquelas histórias que passam de geração em geração, constituindo o que especialistas chamam de identidade. O Dia do Folclore, celebrado neste 22 de agosto, é também uma oportunidade de falar sobre alagoanidade e de tudo o que nos faz sentir o chamado pertencimento.
O primeiro uso do termo “folclore” ocorreu na Inglaterra. A palavra surgiu da união entre “Folk” (povo) e “Lore” (conhecimento e história), definindo, assim, o significado de “conhecimento do povo” ou “cultura popular”. Segundo o professor, pesquisador e antropólogo Edson Bezerra, autor do Manifesto Sururu, o termo surgiu em uma época de grande processo de industrialização na Europa, durante o qual a cultura popular estava sob uma grande ameaça de apagamento histórico.
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“Esse termo folclore é um termo que surge no século XIX, lá na Inglaterra, quando alguns estudiosos dos campos das ciências humanas observaram que as formas do que se chamava de cultura popular, de folclore, estavam desaparecendo diante do processo de industrialização. Então, a escola do folclore surge daí”, comenta Edson.
Em reuniões familiares, o folclore tem o poder de conectar as pessoas por meio de histórias, mitos e lendas. Toda família, por exemplo, tem aquele tio que jura de pés juntos que já viu um lobisomem e faz questão de contar a história com mais detalhes do que é possível conferir em um livro de Graciliano Ramos.
Essas histórias estão enraizadas em um grande processo de sincretismo religioso. Um dos exemplos mais claros disso é a lenda de origem nordestina: a “Comadre Fulôzinha”. A lenda trata de uma cabocla de longos cabelos negros e de espírito zombeteiro. Ela vive na mata e é conhecida por defender a fauna e a flora de quem entra na floresta para desmatar e caçar. Gosta de ganhar presentes como papa de aveia, fumo e mel. Na história dessa comadre, é possível notar a influência da religião indígena, sendo a cabocla comparada a uma entidade protetora da natureza, além de possuir características dos santos de religiões afro-brasileiras.
Além das lendas, os folguedos são uma parte importante da cultura popular alagoana. Embora sejam lembrados principalmente no mês de agosto, o folclore possui ramificações durante todo o ano, como nos festejos carnavalescos e juninos. Os folguedos são festas essencialmente folclóricas que celebram aspectos da vida cotidiana e histórias tradicionais por meio da dança, música, teatro e outras formas de manifestação.
Entre os principais folguedos alagoanos, alguns se destacam, como a Chegança, o Guerreiro e o Pastoril. A Chegança é um folguedo marítimo em que os participantes vestem trajes de marinheiros e simulam combates navais utilizando espadas e cantando cantigas tradicionais. O Guerreiro mistura dança, música e teatro. Sua celebração é em homenagem aos Reis Magos e costuma ser apresentada durante o período natalino. O folguedo Pastoril, também ligado às festas natalinas, é uma representação teatral e musical do nascimento de Jesus, geralmente apresentada em datas próximas ao Natal.
A permanência do folclore na atualidade se deve, em grande parte, à transferência de conhecimentos, que geralmente ocorre de uma figura mais velha, como avôs ou avós, para uma mais jovem, como netos e netas. Para Cármen Lúcia Dantas, museóloga e pesquisadora da cultura alagoana, o folclore é: “A transmissão do saber de um povo de forma espontânea, que passa de geração em geração. Sua origem não tem um momento definido, uma vez que a continuidade da sua prática é que vai consagrando seu uso e sua aceitação em uma comunidade. É, também, uma construção de hábitos, costumes gerados em sociedade, e Alagoas tem essa construção plantada em sua História, em sua formação socioeconômica através do tempo”, diz a pesquisadora.