Um menino chamado Raimundo, careca de um olho azul e outro preto, não tinha amigos, falava sozinho e teve que criar para si um país: Tatipirun. Essa e outras cinco histórias escritas por Graciliano Ramos ganham vida nova no espetáculo “O Fuxico de Graça”, da Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de Alagoas (ETA/Ufal), que será exibido gratuitamente pelo Youtube, nesta quarta e quinta-feira (29), às 19h30.
A encenação contém trechos e contos do Mestre Graça que se transformaram em esquetes teatrais. A maioria dos textos foi adaptado de maneira coletiva e, assim como o espetáculo, sob a direção da professora Carla Antonello. O elenco é composto por formandos do curso de Arte Dramática.
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Feita por fragmentos, a peça traz seis adaptações das obras do escritor alagoano e, consequentemente, adentra a complexidade humana nas grafias de vida do povo alagoano. Para a diretora, dois pontos merecem destaque: a releitura das obras por jovens atores do estado e o desafio de fazer teatro em tempos pandêmicos.
“Teatro se faz ao vivo, não tem como errar e gravar de novo. Todos sabemos disso. E acho que essa é uma grande mudança que enfrentamos nesta produção, que nos permitiu explorar a produção audiovisual dentro do curso de teatro”, diz Antonello.
“Mas acredito que o maior destaque para esses atores é a forma, é o que conseguimos produzir, algo tão significativo, em meio a tudo que ainda estamos vivendo. Tem muita cultura alagoana neste projeto, os alunos se apropriaram da linguagem, dos tipos e modernizaram, trouxeram outras propostas, repaginaram Graciliano, sem recorrer a clichês”, adiantou a diretora.
Em 2019, Carla Antonello passou três meses lendo e investigando, ao lado da colega Clarice Costa, a obra de Graciliano Ramos. O projeto “Tecendo Literaturas” resultou na adaptação de “Ideias Novas”, peça inacabada do célebre escritor alagoano. Mas parece que o interesse da professora e pesquisadora pela obra de Graciliano continua grande e rendendo frutos.
“Como estamos tendo que trabalhar à distância, selecionamos os contos e dividimos em seis núcleos. Cada núcleo escolheu o que queria trabalhar da obra de Graciliano e, daí, temos essas cenas que duram entre 15 e 20 minutos e poderão ser vistas no Youtube”, contou a diretora do espetáculo, pontuando que os estudantes se aprofundaram na construção dos personagens.
As adaptações são divididas em dois episódios, cada um com três esquetes. “O papagaio Falador”, esquete que abre o espetáculo, foi extraída do famoso “Alexandre e outros heróis’’. No elenco estão: Elaine Neto, Neto Portela e Pedrinho Maceió.
Em seguida, poderemos explorar outros olhares da “Terra dos Meninos Pelados”, cuja adaptação ficou a cargo de Clarice Costa (UFG) e Takaiún Correia (Ponto de Cultura Justina Goiânia/GO). O elenco é formado por Laís Paiva, Juliana Sena e Regiane Rodrigues.
A primeira noite será encerrada por “Moqueca”, monólogo de Guto Delima. “Moqueca é uma cachorra, também extraída de ‘Alexandre e outros Heróis’. É mais um animal imaginado por Graciliano, que cercava sua literatura pelos bichos, como a famosa Baleia”, lembrou Antonello.
O segundo dia, 30 de setembro, será aberto pela esquete “Minsk”, mais um bicho de Graciliano. A história do periquito fala sobre amizade, perdas e outras tantas questões exploradas com maestria pelo Mestre Graça nessas narrativas aparentemente despretensiosas. No elenco: Lanne Trindade, Thomas Harrisson, Fábio Cheshire e Bruno Olli.
Em seguida, “Duplo Paulo” promove o inacreditável encontro de Paulo (Insônia) com o fazendeiro Paulo Honório (São Bernardo). Interpretados por Darlan Neris, dois dos mais complexos personagens da obra de Graça. “Sabemos que há coisas pesadas e densas na obra, mas os alunos surpreenderam com a maneira como transformaram isso e exploraram os sentidos dessas obras”, pontuou a professora.
Para encerrar “O Fuxico de Graça”, a esquete “Insônia” exibirá um segundo olhar sobre a famosa obra do escritor alagoano. No elenco estão Bárbara Noely e Wanessa Silva.
“A busca por encontrar caminhos viáveis para realizar as encenações também nos mostrará cenários alagoanos belíssimos. Até comentei que, quando passar a pandemia, quero visitar esses lugares que eles nos trazem como plano de fundo e que acabam contando histórias também”, diz Antonello.
“Graciliano tem uma frase que diz que os personagens são pedaços de nós mesmos. Acho que o convite é esse para o público, conhecer essas releituras da obra de Graciliano Ramos, que é universal, mas que fala tanto de Alagoas e perceber, identificar os nossos pedaços ali”, finaliza a diretora Carla Antonello.
A preparação corporal para o espetáculo é de Reginaldo Oliveira; figurino, cenografia, adereços e maquiagem são assinados por Alex Cerqueira; Geová Amorim fez a preparação vocal do elenco e Anne Luz, Aline Almeida e Angélica Louise colaboraram com a montagem. A peça traz músicas originais de Toni Edson e Pedrinho Maceió. Para assistir, basta acessar o canal da ETA Ufal no Youtube.
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