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Banda Artehfato reúne composições maduras e espírito rebelde em álbum de estreia

Após 17 anos na estrada, banda alagoana lançou "Ato Vero"; confira entrevista com o vocalista Del Cavalcanti

Foi nos corredores do Colégio Marista, lá em 2004, que um grupo de amigos resolveu juntar as guitarras, as vozes, a vontade de mudar as coisas e sair pelos pubs e bares de Maceió, cantando e tocando Los Hermanos. Ali começava a Banda Artehfato, que apesar do tempo de estrada, há apenas um mês lançou seu primeiro álbum autoral, o maduro e inquieto 'Ato Vero', disponível em todas as plataformas digitais.

O primeiro álbum acaba exibindo como o tempo fez bem à banda, que cuidou de não deixar escapar a evidente necessidade de dizer algo, mudar, contar suas histórias - mas também se divertir no caminho.

‘Ato Vero’ conta com 10 faixas, entre elas a faixa homônima Ato Vero, presente na Playlist Indie Brasil do Spotify. O álbum discute a verdade, propondo desvendar o que é real. A faixa Me Leve, por exemplo, fala da busca por florescer na vida e da necessidade de movimento. Já Ato Vero, questiona a construção da verdade, dialogando com temas atuais como a disseminação de fake news e distorção de narrativas.

A banda também contou com diversas parcerias para construir esse primeiro trabalho. São essas: LoreB e Fernando Nunes (na faixa Porta), Bruno Palagani (Ato Vero, Me Leve), May Honorato (Canta), Junior Almeida (Me Leve), além dos músicos Leo Bulhões nas percussões e Janeo Amorim nos teclados.

O grupo é formado por Del Cavalcanti (voz, guitarra e violão), Laís Lira (voz), Flávio Vieira (contrabaixo) e Cleber Vieira (bateria) e traz consigo influências de Belchior, Oswaldo Montenegro, Los Hermanos e Flaira Ferro.

O álbum foi lançado há um mês, mas traz composições de 2013 até 2019. Um largo intervalo, mas justificado pelo vocalista Del Cavalcanti pela busca por encontrar sentido autoral para o projeto, de maneira tímida. Para escolher as canções que dariam forma ao Ato Vero, Del e Laís Lira listaram todas as canções compostas por eles e, somente na metade de 2020, fecharam o repertório. De acordo com os vocalistas, a seleção foi guiada pelo que fazia sentido para quem são e o que é a Banda Artehfato hoje. Confira a entrevista exclusiva de Del Cavalcanti ao Caderno B, da Gazeta de Alagoas.

Gazeta de Alagoas. O álbum chega após 17 anos desde a estreia da Artehfato. Por que tantos anos para lançar um disco?

Del Cavalcanti. Exato. Começamos em 2004, época em que estávamos terminando o colégio (Marista). Uns amigos se juntaram para montar uma banda e fazer cover do Los Hermanos. Era nossa proposta da época. Uns 3 anos depois que começamos a variar o repertório, mas ainda visando tocar em bares e pubs. O interesse (ou necessidade) em começar a escrever e criar nossas músicas só veio em 2013, ano das primeiras composições. Mas ainda de forma muito discreta e sem foco. Passamos ainda uns anos dividindo nossa atenção com um projeto paralelo de banda baile, que tomava a maior parte do nosso tempo e dedicação. Só em 2018 que resolvemos que seria a nossa prioridade, quando já tínhamos uma quantidade de composições e passamos a nos enxergar como banda autoral. Foi quando paramos para nos concentrarmos nos arranjos que vieram a formar o álbum.

E o que é Ato Vero?

Ato Vero pega emprestado o título de uma das canções. Apesar do nome em comum, vejo de forma diferente o sentido empregado na música e no título do álbum. A composição “Ato Vero” fala sobre o poder da palavra, de construir e de destruir, pois aquilo que é tomado como verdade tem uma capacidade imensurável de transformar o meio. Já o álbum, quisemos um nome que se comunicasse com o conjunto das canções, e as letras trazem parte das nossas verdades, nossas vontades, nossas incertezas, histórias e ideias.

Um mês depois do lançamento, como vocês enxergam o Ato Vero e como tem sido a recepção do público?

Costuma-se falar de uma obra como um filho, o que não deixa de ser. Mas temos dito que foi Ato Vero que nos deu vida, que nos permitiu nascer enquanto banda autoral. Por ser o primeiro álbum, somente agora pudemos sentir o gostinho de mostrar às pessoas que nos acompanham as nossas canções gravadas. Até então, só apresentávamos uma ou outra nos shows. E é uma grande satisfação receber retornos individuais do nosso trabalho, perceber quem gosta de cada música, ouvir um áudio de um filho de amigo cantando um refrão ou um comentário de alguém sobre um verso específico, que sempre surpreende. Então, enquanto os outros prestigiam as músicas, a gente está no momento de degustar as reações, e estamos bem felizes com o que temos recebido.

O período da pandemia impactou vocês de alguma maneira? E a esse trabalho?

Quando a pandemia começou, já estávamos com a maioria das músicas escolhidas e boa parte dos arranjos criados. Num primeiro momento, o isolamento atrapalhou, pois tivemos que interromper os ensaios e os shows, dos quais estávamos guardando uma parte dos cachês para a gravação. Aos poucos, aprendemos a trabalhar à distância, aproveitamos o edital emergencial da Lei Aldir Blanc para conseguirmos os recursos restantes para a conclusão do trabalho. A vivência de todas as questões relativas à pandemia também ressignificou muitas canções do álbum para nós.

Você pode destacar três faixas e detalhar seus significados e processos pra gente?

A faixa número 9 do álbum, Me Leve, composição minha com Laís, fala sobre a necessidade de movimento, quando mesmo diante das inseguranças, nós sabemos que permanecer no mesmo lugar não interessa mais. Ela foi escolhida como single, e a lançamos duas semanas antes do restante do álbum. Além disso, conta com duas participações bem especiais, Junior Almeida (voz) e Bruno Palagani (bandolim), que contribuíram muito para o clima e o resultado alcançado.

A música Canta que, dentre outras, fala das nossas decisões, inclusive enquanto artistas, dos rumos que tomamos e dos medos que enfrentamos no caminho. Na gravação, Laís canta em dueto com May Honorato, que nos deu a felicidade de ter sua voz no álbum.

A canção Porta, que traz elementos do nosso cotidiano e manifesta um desejo por leveza na vida, tem me oportunizado ouvir e ler muitos comentários lindos. Na gravação do álbum, canto acompanhado da voz leve de LoreB, e a linha de baixo foi gravada pelo mestre Fernando Nunes.

Em retrospectiva, que aspectos mudaram na Artehfato desde a estreia?

Posso responder “todos”? (risos) Em 2004, éramos adolescentes saindo da escola. A mentalidade era tocar para se divertir, não tínhamos um pensamento muito sério sobre o trabalho. Daquela época, conservamos o nome da banda e dois integrantes. Hoje queremos criar, estudar, produzir, cabe diversão sim, mas como forma e não a única finalidade. Temos algo para mostrar e nosso sentimento é de que acabamos de começar este trabalho.

E na cena musical local, como ela mudou nesses anos todos e como vocês se localizam nela hoje?

Vemos uma cena local efervescente. Talvez essa percepção seja por termos passado a olhar e pensar como classe há relativamente pouco tempo. Mas pela quantidade de trabalhos sendo lançados, os que estão por vir nos próximos meses, pela alta qualidade do que está sendo apresentado, e especialmente pela articulação que, aos poucos, vejo amadurecer, afirmo que Alagoas entrará com força no mapa musical do Brasil. Podemos já observar a quantidade crescente de trabalhos locais participando de festivais fora do estado, e concorrendo em alto nível. Nós nessa cena? Sentimo-nos honrados e mais instigados do que nunca.