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As histórias de Arlindo Monteiro, escultor de Alagoas que teve arte usada em novela da Globo

Escultor revela projeto para contar a história do Brasil com esculturas de palito de fósforo

“Esse corpo moreno, cheiroso e gostoso que você tem. É um corpo delgado, da cor do pecado, que faz tão bem”. A música, gravada originalmente por Elis Regina, batizou e foi tema da novela Da Cor do Pecado, da Rede Globo, sucesso em 2004. No entanto, outro traço marcante da telenovela é lembrado até hoje: a abertura que mostrava todos os personagens da trama feitos com nada mais que palitos de fósforo.

Quem está por trás desse feito é o pernambucano, radicado em Alagoas, Arlindo Monteiro, que trabalha como escultor há 32 anos e, antes de ser artista, trabalhou como serralheiro e vendedor. Ele é um dos expositores da Feira de Verão, que ocorre em Maceió, até hoje, 26 de janeiro, na Praça Multieventos, na Pajuçara.

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Além de encontrá-lo por lá, o público pode apreciar e adquirir obras do artesão pelo Instagram, por meio do @esculturasempalitodefosforo. Ele também mantém, há 30 anos, um ateliê no Mercado do Artesanato, também na capital.

Inicialmente, as esculturas eram feitas com troncos de coqueiros e árvores que as pessoas cortavam e descartavam. “Como eu não tinha dinheiro para adquirir madeira nobre, eu usava esses materiais, desde que mostrassem durabilidade”, explica. Substituir a matéria prima, dos firmes troncos de coqueiro para frágeis palitos de fósforo, foi uma transição dolorosa, impulsionada pelo desejo de mudança.

“Um amigo chegou e me disse ‘cortaram dez coqueiros na praia da Avenida’. Quando isso acontecia, eu cortava em pedaços e levava até o mercado do artesanato, embolando no pé mesmo. Pedaços de 3 a 4 metros, pesando entre 250 a 300 quilos. Cheguei em casa com as mãos muito machucadas”, conta o artesão.

“Sabe aquela hora em que te bate um desespero e você começa a questionar porque quem trabalha sofre tanto? Nesse dia eu sonhei e vi Cristo entalhado em palito de fósforo, tentei reproduzir isso e, apesar de ter sido feito com todo carinho, não ficou muito legal”.

Mas o artista não se deixou abater com o resultado da primeira tentativa e, mesmo não estando totalmente satisfeito com a obra, a levou ao Mercado do Artesanato. Como se por uma ironia do destino, um homem ficou interessado justamente por aquele Cristo, que se fez real por meio de um sonho. O homem não só comprou a escultura, como também voltou no dia seguinte o presenteou Arlindo com materiais que o ajudariam na produção de suas obras.

DA COR DO PECADO

Bem no meio da Praça Multieventos, onde está ocorrendo a Feira de Verão, Arlindo Monteiro resolveu falar sobre como o destino lhe sorriu mais uma vez, 16 anos atrás, naquele mesmo lugar.

“Eu vi que o Hans Donner estava dando uma entrevista aqui. Pensei ‘Meu Deus, como seria importante me encontrar com esse cara’. Pois bem, foi isso mesmo que fiz. Estava na feirinha do artesanato, peguei várias de minhas esculturas, botei numa bolsa e fui de bicicleta até ele. Quando cheguei aqui na praça, ele estava parado em frente ao Relógio dos 500 Anos, desenhado pelo próprio Hans. Quando o avistei quase derrubei ele descendo da bicicleta”, lembrou.

Austríaco com cidadania brasileira, Hans Donner é um dos designers mais bem sucedidos do país e, inclusive, foi o responsável pela criação do logotipo da Rede Globo. A escultura “Relógio dos 500 Anos”, mencionada pelo artesão Arlindo Monteiro, foi uma obra comemorativa que teve réplicas instaladas em 28 cidades brasileiras. A de Maceió foi removida em 2006.

Arlindo defende que o tão desejado encontro entre os dois grandes artistas rendeu um diálogo digno de filme.

Hans: Bonito relógio.

Arlindo: É, Hans. Mas a minha sorte foi ter te encontrado aqui, você é um dos melhores designers do Brasil, se duvidar, um dos melhores do mundo. Você poderia me dizer alguma coisa pra melhorar a qualidade do meu trabalho?

Hans: Tu fazes o que, bicho?

Arlindo: Escultura em palito de fósforo.

O designer ficou surpreso com a resposta, questionou como que um homem de 1 metro e 80 poderia fazer algo tão delicado. Imediatamente, pediu para ver uma das obras.

“A primeira peça que tirei foi São Jorge, totalmente por acaso, não vi antes de tirar”, recordou-se Arlindo.

Hans: Como você sabia que eu sou devoto de São Jorge?

Arlindo não sabia. Não havia de saber algo tão particular de alguém que ele admirava à distância.

Hans: Ainda não sei seu nome, qual é?

Quando o artista respondeu, Donner relatou mais uma coincidência.

Hans: Arlindo é o nome do meu anjo da guarda. O cara que me colocou na Rede Globo chama-se Arlindo de Castro.

Os dois tiveram outros encontros e, em um deles, Arlindo Monteiro recebeu a proposta que marcaria para sempre sua carreira como artista: a missão de produzir a abertura da novela Da cor do Pecado.

NOVOS DESAFIOS

Nos próximos meses, o artista planeja contar a história do Brasil com suas esculturas em palito, desde o descobrimento. Seriam 21 mil esculturas.

“A ideia é expor a história no país inteiro, cobrando R$ 5,00 mais um 1kg de alimento não perecível, que seriam doados. Não tem cidade rica que não tenha pessoas pobres precisando de ajuda”, comenta o artista.

Arlindo diz que quer mostrar através de suas esculturas, que diante de uma matéria-prima tão simples você pode sobreviver com dignidade pelo trabalho.

FALTA APOIO GOVERNAMENTAL

Imagem ilustrativa da imagem As histórias de Arlindo Monteiro, escultor de Alagoas que teve arte usada em novela da Globo
| Foto: Ailton Cruz

O escultor diz se sentir abandonado pelo governo local. “O artista tem que ir até onde o povo está. Falta um local melhor pros artesãos venderem seus trabalhos, eventos como este [Feira de Verão], duram menos de um mês, e o que consigo vender nesse período é mais do que venderia em quase um ano no Mercado do Artesanato”, lamenta.

O Mercado do Artesanato, localizado no bairro da Levada, em Maceió, é um dos principais centros de exposição e comercialização de artesanato da capital alagoana. Há anos, no entanto, os artesãos que trabalham por lá reclamam da estrutura do local. Durante a pandemia, muitos relataram dificuldades para sobreviver.

Apesar de relatar o que ele chama de abandono, Arlindo Monteiro diz que “apesar das dificuldades”, ama a profissão e sua rotina.

“O que vou dizer agora não vale só para os artistas, mas sim pra qualquer ser humano. Faça o que você gosta, porque é aí que você fará a diferença’, finaliza.

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