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As filhas do mangue vão a Cannes

Stella Carneiro leva o cinema alagoano ao festival francês com longa selecionado na ‘Fábrica dos Cineastas’


				
					As filhas do mangue vão a Cannes
Reprodução

Em mais uma vitória para o audiovisual alagoano, a cineasta Stella Carneiro foi uma das selecionadas para a mostra “La Factory Des Cinéastes” (A Fábrica dos Cineastas) no Festival de Cannes. O filme que abriu as portas para essa conquista foi o longa-metragem ‘As Filhas do Mangue’, ambientado no bairro da Massagueira, em Marechal Deodoro.

Stella foi uma das oito selecionadas entre mais de 60 inscritos na competição. Formada em Cinema pela FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), em São Paulo, e com mestrado em roteiro internacional, ela já dirigiu o curta ‘Golden Shower’ e deve estrear em breve como diretora do longa.

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‘As Filhas do Mangue’ é um drama com toques de comédia que narra a história de uma família negra composta por um pai e quatro filhas que vivem em uma comunidade ribeirinha na Massagueira, a meia hora de Maceió. A cineasta explica que o filme é inspirado em suas próprias vivências, apesar de se tratar de uma trama fictícia.


				
					As filhas do mangue vão a Cannes
Reprodução

“Reflete o ambiente em que cresci e minha condição de filha mais velha de seis. Meu pai foi demitido sem justa causa por perseguição política, e minha mãe assumiu o papel de provedora por anos, enquanto ele lutava na justiça. Ele acabou ocupando o papel de ‘dono de casa’, como brincávamos”, conta Stella.

Ela ainda relata que o filme retrata uma tradição familiar onde o filho mais velho se vê responsável pelos irmãos mais novos, algo que aconteceu tanto com ela quanto com seu pai.

“Meu pai é negro e o segundo mais velho de oito irmãos, enquanto eu sou a filha mais velha de seis. Ambos compartilhamos essa responsabilidade de cuidar dos mais novos como se fossem nossos filhos. Nossa casa sempre foi cheia de risadas e também de conflitos. Queria fazer um filme que mostrasse essa relação com meu pai e minhas irmãs”, explica.


				
					As filhas do mangue vão a Cannes
Reprodução

“Eu sou contra fazer filme chato. Eu acredito que a experiência de estar na sala de cinema é uma experiência muito poderosa”, opina Stella, ao comentar que, apesar de abordar temas identitários, como negritude e feminilidade, o foco do filme vai além. “O filme é sobre uma família complicada que se ama muito. O restaurante deles na Massagueira é um lugar de brigas, mas também de muitas risadas. O coração do filme está nisso”, afirma.

O projeto foi desenvolvido em parceria com o produtor e também diretor alagoano Rafhael Barbosa. Ele é associado da A.P.A.N. (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro) e será o produtor do projeto. Stella ressalta a parceria de longa data com Barbosa. “Rafhael é uma pessoa que admiro muito. Quando me perguntaram por que ele seria o melhor produtor, disse que ele é forte, competente e cuida dos seus. Não vejo como realizar ‘As Filhas do Mangue’ sem ele”, destaca. A dupla estará em Cannes no ano que vem, apresentando o filme.

Durante o programa do festival, o desafio de Stella será a produção de um curta-metragem com o cineasta português Ary Zara, sua dupla selecionada. O tema do curta ainda não foi definido, mas Stella já está adiantada por conhecer seu parceiro.


				
					As filhas do mangue vão a Cannes
Reprodução

“Tive a honra de conhecer o Ary Zara pessoalmente. Ele é uma pessoa maravilhosa, cheio de criatividade, e seu último filme teve Elliot Page como produtor. Não poderia ter uma dupla melhor”, celebra Stella, que filmará o curta no Ceará.

Ao falar sobre o cenário audiovisual em Alagoas, Stella mostra otimismo. “O cinema alagoano tá bombando. Esse ano tivemos ‘Sem Coração’, da Nara Normande, que foi para o Festival de Veneza e está na Netflix. Com as leis de incentivo, como a Paulo Gustavo e a Aldir Blanc, vários projetos estão acontecendo”, conclui.

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