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Artistas alagoanos refletem sobre políticas públicas e desafios do setor cultural

No período eleitoral, quem trabalha com arte e criatividade elege o que deve ser prioridades para futuros gestores

Campanhas eleitorais são cercadas por promessas, mas também por diálogos e esperança. É isso o que artistas alagoanos afirmam ao relatar as expectativas para a gestão cultural dos próximos quatro anos. Em Alagoas, um dos mais potentes celeiros culturais do Brasil e que abriga diversos folguedos populares, fazedores de cultura querem mais valorização do setor e apoio aos artistas, que ainda amargam as perdas decorrentes da pandemia.

Entre as demandas que eles esperam que sejam priorizadas pelo próximo gestor da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-AL) estão uma política realmente séria de editais, mais diálogo com quem produz cultura, e a implementação da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, que, segundo eles, existe apenas no papel.

O mestre de coco Jurandir Bozo afirma que Alagoas está em dívida com a cultura e que há demandas antigas consideradas importantes para estruturar o setor. "A cultura popular é hoje o segmento da arte que mais se encontra vulnerável dentro de Alagoas. A política de editais é muito positiva, mas na cultura popular isso tem se estreitado e deixado muitos mestres de fora, praticamente excluídos do processo".

De acordo com Bozo, um exemplo disso é a Lei Aldir Blanc, que teria 150 prêmios de 10 mil reais para os mestres, mas os premiados não chegaram nem a 60, pois muitos não fazem ideia de como participar desses processos. Esse é um desafio da próxima gestão.

A queixa da dificuldade dos editais também é da classe teatral. O ator Jamerson Soares tem percebido o aumento da reclamação da burocracia para realizar inscrições nos processos seletivos, que muitas vezes possuem critérios desnecessários, confusos e informações fora de ordem.

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Ainda se recuperando dos impactos negativos da pandemia, os atores e atrizes também anseiam por mais políticas públicas voltadas ao fazer teatral. A falta de investimento nos artistas locais e a propagação da ideia de que “todo artista é vagabundo” dificulta a evolução do cenário cultural de Alagoas, alega o ator.

“Tem muito artista que rala noite e dia para conseguir o seu pão no dia seguinte. E é triste quando ele é desmerecido por quem não acredita que a arte pode quebrar fronteiras e trazer a revolução. Esperamos que mais leis e editais sejam publicados, mais apoio e auxílio sejam dados, que as políticas sejam voltadas para o acompanhamento do artista iniciante”, conjectura Jamerson Soares.

“Também seria interessante se fosse criado um fundo de recursos apenas para os artistas alagoanos. É cansativo ficar explicando o quão necessário é assistir a um filme, um espetáculo de teatro, de dança. A sociedade também tem que fazer a parte dela de entender que o artista é um profissional do artesanato humano, é ele que reflete sobre o mundo, suas inquietações e ideias, e é a partir do assistir, do ir a um espaço cultural, que se produz catarse, um tipo de transformação, matéria para compor sentido ao mundo. Arte dá cor a esse mundo cinza”, ressaltou o ator.

Outra questão abordada pelos fazedores e incentivadores da cultura local é a falta de diálogo com os profissionais. Muitas vezes, iniciativas não acontecem — ou ocorrem, sem que exista uma conversa entre quem produz e quem é responsável por gerir as políticas públicas voltadas ao setor.

O presidente da Academia Alagoana de Letras, Alberto Rostand Lanverly, afirma que é necessário que as instituições que incentivam e cuidam da cultura alagoana sejam ouvidas. O Conselho Estadual de Cultura precisa ser mais valorizado e fortalecido, para que as decisões tomadas por ele sejam referendadas pelo executivo que irá assumir o governo de Alagoas a partir de janeiro.

“Estimamos que quem assumir a cadeira do governo no próximo ano, dê ênfase a esses pontos da cena cultural. Um Estado que tem como um dos seus pilares de sustentação a cultura, tem muito mais facilidade de desenvolvimento. Nós temos algumas instituições culturais fortíssimas e é preciso ter mais diálogo com elas, temos ideias, cabeças pensantes, mas executar é complicado. Quanto mais diálogo com os fazedores de cultura melhor”.

Para o artista e militante Igbonan Rocha, é preciso que os próximos gestores lutem também pelas demandas do povo preto e os profissionais da cultura periférica, instituindo ações permanentes, que incentivem, promovam e sistematizem projetos nas próprias comunidades. Além disso, projetos culturais que sejam estratégias para a promoção da educação nos seus diversos segmentos também poderiam fazer parte de um plano de gestão na Secult/AL, defende Igbonan.

“Eu sinto falta, tanto no legislativo estadual quanto no federal, de representantes afro-brasileiros, que lutem pelas demandas do nosso povo no que tange à cultura, religião, assistência social e muitas outras necessidades que só nosso povo entende e necessita. Como escreveu Caetano Veloso: cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

*Estagiária sob supervisão da editoria de Cultura