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À espera do 2º filho, trisal fala sobre rotina em casa e poliamor

História de Gabi, Ju, Joe e Raoni, de Sorocaba (SP), começou em 2011 e logo ganhará novos capítulos com a chegada do segundo bebê

Se você é do tipo que condena tudo aquilo que é diferente, pode parar por aqui. Esta história é apenas para quem acredita que o amor pode se manifestar de diversas formas - e na casa da Gabi, da Ju, do Joe e do Raoni, em Sorocaba (SP), ele transborda.

A configuração não se parece em nada com o que determina a "família tradicional brasileira": são duas mães (Marilia Gabriela e Natali Júlia), um pai (Jonathan) e dois filhos: Raoni e a irmãzinha, que ainda está na barriga da mamãe Natali.

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Os primeiros capítulos começaram a ser escritos em 2011, quando a pedagoga e estudante de psicanálise Marilia Gabriela Camargo Rezende, atualmente com 27 anos, e o analista de sistemas Jonathan Dias Rezende, de 35, se conheceram e deram início a uma amizade.

Na época, Gabi mantinha uma relação monogâmica com uma mulher e sequer pensava que poderia se apaixonar por Joe. "Em 2012, acabei terminando meu relacionamento e nós dois começamos a namorar. Então, passamos a cogitar a ideia de ter uma parceira sexual e pensamos em incluir minha ex-namorada na relação", conta.

Depois de um ano de conversa sobre isso, a ex de Gabi aceitou fazer parte do triângulo amoroso, saindo individualmente com os dois. "Nós viajávamos, íamos ao cinema...tínhamos um laço muito forte. Até que, por vários problemas e falta de diálogo, acabou que somente ele e eu seguimos."

Bissexualidade

Mas foi só em 2014, ao conhecerem grupos de poliamor no Facebook, que Gabi e Joe descobriram que a maneira como se sentiam em relação à própria sexualidade era "normal".

"Eu sempre me sentia muito estranha sendo bissexual e o Jonathan foi me ajudando a aceitar isso, a ver que não havia problema nenhum em ser assim. Através dos grupos, descobri que o nosso desejo também existia em outras pessoas e que era super normal. O único problema é que ainda é um grande tabu para a sociedade", continua a pedagoga.

Foi então que Gabi soube que estava esperando um bebê. Raoni chegou ao mundo no dia 5 de junho de 2015, com doula e de parto natural.

"Entrei de cabeça nesse mundo da maternidade. Começamos a frequentar grupos de casais grávidos, optamos pelo parto natural e virei ativista do parto humanizado e da amamentação."

Pouco tempo depois, quando Gabi finalmente aceitou a própria bissexualidade, Joe e ela começaram a conversar sobre como seria legal ter uma parceira para viajar, ir ao cinema e fazer coisas do cotidiano, abrindo espaço para a chegada da técnica em enfermagem Natali Júlia Fortes Cardoso Silva, de 22 anos.

Conexão 'perfeita'

Os três se conheceram em novembro do ano passado, através do Tinder. Gabi e Joe tinham um "perfil de casal" no aplicativo e, na descrição, deixavam claro que já tinham um filho e que procuravam uma relação séria com uma mulher.

"Com a Ju, nossa vida mudou para a melhor, porque, depois de várias tentativas frustradas, encontramos alguém com os mesmos propósitos que os nossos. Conseguimos nos conectar de uma forma perfeita, nos apaixonamos, fizemos planos para ter uma família e pensamos no futuro", contam.

Legalmente, as uniões poliafetivas são proibidas e as que já existiam foram anuladas. Mas, apesar do desejo de oficializar a relação e ter os direitos reconhecidos perante a lei, o trisal vive uma rotina igual à de qualquer outra família "tradicional": eles levantam da cama cedo todo dia, tomam café da manhã e vão trabalhar.

"Cada um ajuda como pode. O Jonathan é responsável pelas contas pesadas, como aluguel. A Júlia comprou um apartamento e está guardando a renda para pagar a documentação e a liberação das chaves. Eu atualmente não trabalho", comenta Gabi.

Devido à pandemia de coronavírus, Júlia tem ficado em casa no momento. Por isso, Gabi e ela dividem as tarefas diárias, como cozinhar, cuidar das roupas e limpar a casa. Jonathan tira o lixo, separa a reciclagem e, quando sobra tempo, lava a louça depois do trabalho.

Direito de amar

As famílias de Jonathan e Júlia aceitam normalmente a relação a três, mas Gabi ainda enfrenta resistência: os familiares dela não comentam sobre o assunto e não querem conhecer Júlia.

"Apesar da sociedade ter evoluído, em alguns quesitos ainda somos bem atrasados e, muitas vezes, o diferente acaba sendo julgado. Então, não saber nada sobre o poliamor acaba sendo um tabu e as pessoas julgam como 'putaria'", comentam.

Gabi e Júlia se consideram bissexuais e Jonathan heterossexual, mas o conceito de poliamor para eles é muito mais amplo: "É ter o direito de amar quem quiser e quantas pessoas o coração permitir", explicam.

Família completa

Para a família ficar 100% completa então só faltava um pequeno detalhe: um segundo exame positivo de gravidez. Ao contrário da gestação de Gabi, a de Júlia foi minuciosamente planejada, inclusive com testes de ovulação. A previsão de nascimento do bebê é só para dezembro deste ano, mas o nome já foi escolhido: Aurora.

"Já sinto muito amor por esse bebê que virá. Sei que esse sentimento cada dia será maior e que ele crescerá com uma família grande e cercado de amor. De brinde já veio até um irmão mais velho, como em qualquer outra família", explica a técnica em enfermagem.

"A minha sensação de ser mãe, no nosso contexto familiar, é a mesma das demais mães: o amor maior do mundo. A diferença é o quanto o Raoni recebe de amor. No caso duplicou, porque ele tem duas mães para poder dar carinho, suporte e base para ele crescer e ser um adulto melhor para a sociedade", completa Gabi.

Com tantos adultos em casa, tem sempre alguém disponível para Raoni, que recebe atenção em "triplo". Nas horas livres, os pais buscam fazer atividades educativas com ele para ajudá-lo a desenvolver autonomia e vínculos.

"No banho, sempre um de nós auxilia, quem estiver livre, mas as refeições são em família. Na hora de dormir, Jonathan ou eu contamos histórias e ficamos na cama com ele até ele pegar no sono. Depois vamos para o nosso quarto e dormimos os três juntos", conta a pedagoga.

A família explica que, para Raoni, o conceito de ter duas mães e um pai é natural. "Criança não vê preconceito, somos nós adultos quem complicamos as coisas."

"Por enquanto, ele chama a Júlia pelo nome e raramente de 'tia'. Não damos nomenclatura para ele seguir, deixamos ele se sentir à vontade com tudo. Começamos explicando que amamos a Ju, que ela seria a namorada do papai e da mamãe, que iria morar na nossa casa e seríamos uma grande família. No início, ele achou que ela iria morar aqui porque não tinha casa, mas depois entendeu que era porque nos amava e o amava", lembra Gabi.

Na hora de dar a notícia da gravidez de Júlia, o trisal conta que tomou cuidado para que o menino entendesse a situação. "Em momento algum ele ficou confuso. Pelo contrário, faz vários desenhos que colorem a nossa casa com os dois juntos e começou a separar brinquedos e coisas para esperar o nascimento da irmãzinha."

Por enquanto, segundo os pais, Raoni não tem tido problemas com preconceito, mas, caso aconteça no futuro, estará preparado para poder explicar o contexto familiar em que vive da maneira dele.

"Eu gostaria de mostrar para as pessoas que o nosso relacionamento não nos muda como mãe ou pai. Na minha visão, estarmos felizes tanto sexualmente como afetivamente reflete de maneira positiva na criação do Raoni."

'Trisuau'

Para que as pessoas pudessem conhecer um pouco mais sobre poliamor e acompanhar o dia a dia da família, Gabi, Ju e Joe criaram o perfil "Trisuau" no Instagram e no YouTube.

Nele são divulgados conteúdos sobre diversos tipos de relacionamentos não monogâmicos, dificuldades sociais e núcleo familiar. O convívio diário da família e o acompanhamento da gestação e do parto de Júlia também serão explorados.

"Nosso objetivo é mostrar para a sociedade que existem diversas formas de amar e que, no final das contas, elas são todas iguais. O que importa é o carinho e o respeito de todas as partes envolvidas", finalizam.

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