Com um corpo escultural, samba no pé e super empoderada, ela levanta a bandeira que a mulher deve estar onde ela quiser! Assim, aos 60 anos a socialite carioca que é mãe, avó e sambista desfila como musa em umas das escolas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro - Unidos de Vila Isabel , que tem Sabrina Sato como madrinha de bateria e neste ano homenageou em seu enredo o maior ídolo e presidente de honra da agremiação - Martinho da Vila.
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Como surgiu o amor pelo samba? Antes de desfilar você já curtia?
Desde criança era apaixonada por carnaval e por me fantasiar, mas como morava em Porto Alegre assistia os desfiles da Sapucaí pela TV, lá era frequentadora dos bailes, blocos de carnaval. Eu era vidrada na cantora Rosemary que veio a ser musa da Mangueira por muitos anos. Quando mudei para Cidade Maravilhosa fui muitas vezes assistir, mas não conhecia ninguém do samba e tampouco sabia sambar. Mas eu já amava esta grande festa popular.
Você aprendeu a sambar aos 52 anos de idade. O que te levou para dança? Sentiu alguma dificuldade física ou mental quando iniciou esta atividade?
Foi tudo um grande acaso. Eu fazia spinning na academia e num sábado a sala lotou, espiei na sala ao lado e o professor me chamou pra entrar. Era uma aula dance mix. Eu amei! Naquela ocasião um colega de turma me disse que tinha aula de samba e me indicou uma professora perto de casa. Fui para aula e saí totalmente apaixonada e entregue aquele ritmo. Foi difícil no começo porque eu tinha dificuldade de rebolar e também memorizar as sequências. Então o problema era mais emocional de não desanimar , pois preparo físico eu tinha, sou ex-atleta e já fazia exercícios aeróbicos. Mas todo aprendizado é um processo lento e precisa de muita dedicação e assiduidade.
Você sempre desfilou como musa? Sempre saiu na Vila Isabel? Conte um pouco da sua trajetória carnavalesco
Comecei a desfilar em 2014 como musa e já no primeiro ano fiz uma dose dupla: sai no império Serrano (grupo de acesso) e no Império da Tijuca (grupo especial) aí fiquei 3 anos no Império da Tijuca. Em 2018 mais uma dose dupla, fui para a União da Ilha e também desfilei na Rocinha. No ano de 2019 fui para a Unidos de Vila Isabel onde estou até hoje. Em 2020 também desfilei no Império Serrano a pedido de um amigo querido, o Júnior Pernambucano ele foi meu carnavalesco no Império da Tijuca e temos uma amizade desde 2014. Por todas escolas por onde passei fiz amigos, frequento até hoje, tenho um enorme carinho e respeito. Aprendo com cada sambista que tenho a oportunidade de conhecer. Posso dizer que me sinto parte da Vila Isabel, me envolvi muito com a escola e com a comunidade. Tenho muito orgulho e prazer de fazer parte desta família comandando por homens de honra, que valorizam o carnaval e o povo do samba.
Aos 60 anos de idade você exala vigor e boa forma. Como lida com o corpo e com a idade?
Não é nada fácil, mas tenho uma super equipe de apoio, pois não há milagre nesse caso, até acredito quando se tem um bom DNA. Mas tenho dois personal trainees, treino 5(cinco) vezes por semana, eu me alimento corretamente e também conto com auxílio luxuoso da minha dermatologista maravilhosa, Dra. Márcia Linhares, que trabalha com procedimentos cosméticos leves. Faço reposição hormonal que no meu caso é obrigatória porque fiz histerectomia. Meu aeróbico faço com excelentes professores de samba e dança porque busco sempre me aprimorar nesta arte, nunca acho que sei o bastante, e confesso que não sou adepta a caminhadas, corridas.
Já sofreu algum tipo de preconceito por ser uma musa mais madura?
Sim! Mas considero isso normal … não é comum ver mulheres maduras, brancas e que não nasceram no mundo do samba num lugar de destaque. Nossa sociedade valoriza a juventude, os peitos e bundas empinados, mas quando eu sinto o olhar de reprovação vou lá abro um sorriso e dou meu melhor: sambo o que sei e geralmente esse “pré-julgamento” muda. Já recebi aplausos e sorrisos de quem antes me fazia cara feia. Acho que a gente precisa saber chegar nos lugares, com cautela e respeito, sabe! E é muito bom pensar que posso ser um bom exemplo e ajudar a mudar esse preconceito de que só a juventude é bonita ... só jovens tem energia, alegria, disposição e etc..
Você é a maior representante do não etarismo no Carnaval. Como é a responsabilidade de carregar esta bandeira? Se sente sozinha neste movimento?
É uma linda responsabilidade porque a população está cada vez mais longeva e os jovens se tiverem sorte vão amadurecer e envelhecer. Não quero competir com ninguém, só estou querendo mostrar que temos valor, que somos exemplos em várias instâncias da vida. Estou mostrando que é possível ter uma vida longa, alegre e divertida e que uma mulher mais velha pode ser musa, pode ser sexy e sensual. Como disse o grande jornalista Escobar na transmissão do Carnaval da Globo: “Ser musa não é só sobre ter um corpo bonito e jovem. Ser musa é ter empatia, charme, classe e samba no pé e principalmente estar integrada a sua escola e na comunidade” Eu quero sempre me apresentar bem porque o carnaval é o maior espetáculo da terra e é coisa séria! Represento várias mulheres do Brasil e do mundo que estão aí cheias de energia, mulheres maduras que se reinventaram e têm histórias de superação para contar. Quando eu não tiver mais essa energia necessária para desfilar no chão eu vou parar, mas sem samba e carnaval não sei viver.
Sempre muito elegante em suas aparições, gostaríamos de saber como são os preparativos que antecedem o carnaval?
Adoro essa parte! Mas é uma função que requer tempo e dinheiro. Eu sempre escolho o que quero vestir, por me conhecer muito bem sempre sei o que fica bom em mim. Pesquiso e trago muita matéria-prima de fora do Brasil também. Mas também ouço opiniões dos profissionais que escolho para produzir meus figurinos, fantasia como o Leandro de Jesus, o Felipe Rangel. O Brasil tem um leque de grandes e bons profissionais nessa área.
Como você analisa as regras impostas pela sociedade para mulheres acima de 50 anos de idade?
Dizem que mulher madura não pode usar cabelo comprido, saia curta, brincos grandes, decotes, etc. Uma série de regras impostas que alguns até falam que faz parte da etiqueta da mulher madura. Eu acho que cada mulher é única e por isso não pode existir uma regra. A mulher deve usar aquilo que a faz bem, que a deixe bonita e feliz. Eu evito aquilo que acredito que me prejudica. Ter bom senso é importante. No meu dia a dia, longe da Sapucaí, eu me visto de forma mais discreta, não porque tenho 60 mas, porque não gosto de roupas que me expõe demais, procuro ser elegante e ter conforto.
Qual seu maior desafio como musa aos 60 anos de idade? Como você gostaria de ser vista e lembrada?
Meu maior desafio é chegar bem preparada na Sapucaí, para contribuir com a apresentação da minha escola e também representar com maestria as mulheres maduras que me seguem, que se espelham em mim. Escuto até de mulheres mais jovens que gostariam de chegar na minha idade com a minha disposição e alegria. Fico feliz! A vida realmente deve ser vivida com leveza e amor. Gostaria de ser lembrada como uma mulher sambista, dedicada, apaixonada pelo carnaval e que levanta a bandeira da mulher madura. A gente não morre depois dos 50 anos de idade, muito pelo contrário, a vida hoje começa aos 50 e podemos fazer de tudo: começar uma faculdade, dançar, casar.
Um recado que você gostaria de deixar para as mulheres acima de 50 anos?
Se você tem vontade de aprender ou fazer algo, comece! Não se preocupe muito com o tempo que vai levar pra ter o resultado desejado, não se preocupe com opiniões preconceituosas. Apenas se dedique e faça com muito amor.
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