Realizar o diagnóstico de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) costuma apresentar alguns desafios, já que parte dos sintomas, como esquecimento, dificuldade de concentração e agitação, também podem ser comuns em quem não tem o transtorno.
Roberto Kalil recebe, no “CNN Sinais Vitais – Dr. Kalil Entrevista”, os especialistas Erasmo Casella, neurologista do Instituto de Criança do Hospital das Clínicas em São Paulo, e Luisa Sugaya, psiquiatra da Infância e Adolescência também do Hospital das Clínicas, para falar sobre as dificuldades em relação ao TDAH. O programa será exibido neste sábado (19), na CNN Brasil.
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“Se não atrapalhar a vida do sujeito, não é um transtorno”, resumiu Erasmo Casella. Os sintomas do TDAH podem se assemelhar a características comuns das pessoas, principalmente em crianças, por isso é preciso um olhar atento e grande conhecimento do transtorno para chegar ao diagnóstico.
“Acho que é importante dizer que esses sintomas todos fazem parte, mas as apresentações são heterogêneas. Então, eu posso ter crianças que têm um perfil mais desatento, outras que são mais hiperativas e impulsivas, e mesmo dentro disso tem uma variabilidade grade”, explicou Sugaya.
“A gente não pode ter pressa em fazer o diagnóstico. Se você não conseguiu em duas horas e meia de consulta, vai usar mais duas e mais duas, para definir. Não é tão difícil você errar o diagnóstico, rotular alguém como TDAH sem que ele tenha. Mas o problema maior é o subdiagnóstico”, acrescentou Casella.
Segundo o neurologista, o subdiagnóstico ocorre principalmente em áreas mais pobres, com pessoas que não possuem acesso adequado à saúde.
“É um problema de saúde pública a falta do acesso dessas pessoas mais pobres de procurar um médico e conseguir um tratamento adequado. No caso de diagnósticos feitos tardiamente, em adultos, a falta de tratamento pode ter um impacto amplo na vida dos pacientes”, disse ele.
Há diversos trabalhos que relacionam o TDAH não tratado a um maior risco para o paciente se envolver em acidentes, no uso de drogas e até mesmo em crimes. No entanto, as implicações do transtorno também podem aparecer de maneira mais sutil, como dificuldade em se adapta a rotina de tabalho ou estudos.
“Eu acho que ainda existe estigma relacionado aos transtornos mentais, ainda existe desinformação e preconceito, e que a gente vai batalhando para esclarecer, entender que é um transtorno. Muitas vezes a gente escuta sobre as crianças: ‘Ah, não está interessado, não quer estudar, é preguiçoso’. E, na verdade, por trás disso está uma dificuldade”, acrescentou Sugaya.