O coração estava tão apertado que a fala saiu misturada com choro. O ônibus que caiu de um viaduto em João Monlevade arrancou dois pedaços do Marcos Teixeira. A prima Amanda, de 16 anos, morreu no acidente junto do irmão caçula dele, Marcondes, que deixou Alagoas e estava indo para São Paulo assinar um contrato de emprego num mercado.
Marcos saiu arrasado depois de reconhecer o corpo no Instituto Médico Legal (ML) de Belo Horizonte.
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"Só acreditei porque fiz a visualização, tô mal, muito mal mesmo, não é fácil perder um ente querido assim e agora não vou ver ele mais, não tive a chance de ver ele vivo mais".
O trabalho dos médicos legistas terminou na tarde deste domingo (6). Os exames não encontraram nenhuma marca que pudesse indicar o uso de cinto de segurança na hora em que o ônibus despencou do viaduto. Segundo os legistas, as mortes foram causadas por politraumatismo.
A família que liberou o primeiro corpo do IML decidiu levá-lo de carro pra Alagoas, 1.400 quilômetros de estrada e um dia e meio de viagem.
Ainda na tarde de domingo, a Defesa Civil de Minas Gerais confirmou que dois aviões da Força Aérea Brasileira vão transportar os corpos até o município de Paulo Afonso, na Bahia, que fica mais perto da cidade alagoana de Mata Grande, onde o ônibus da tragédia partiu.
Segundo a Defesa Civil, o voo está marcado para esta segunda-feira (7), as 12h, no Aeroporto da Pampulha, na capital. Uma aeronave C-130 vai levar as vítimas, enquanto os parentes serão transportados em outro avião da FAB, o C-99.
Dona Natalina do Nascimento Corrêa conta que cansou de advertir o irmão Ednaldo dos riscos da viagem com um ônibus que não estava regular.
"Ele veio duas vezes. Puxava a orelha dele, porque isso não está certo. Eu não vinha nem se fosse de graça, porque está errado".
Ednaldo era pedreiro, tinha 57 anos e dois filhos. Ele ia para São Paulo resolver assunto da aposentadoria. Morreu em Minas, deixou a irmã desolada e inconformada. Dona Natalina quer saber cadê a responsabilidade dos donos da empresa que provocou tanto sofrimento.
"Ele falava que vinha porque era mais barato, que as condições financeiras não estavam boas, só que a fatalidade que aconteceu, né? A Assistência que a gente teve aqui, foi da Polícia. A empresa não ajudou em nada. A empresa não deu nada".
O ônibus da empresa Localima caiu de um viaduto conhecido como "Ponte Torta", no km 350 da BR-381, em João Monlevade, na Região Central de Minas Gerais. O acidente aconteceu por volta das 13h30 desta sexta-feira (4). Há suspeita de falha no freio do veículo.
Depoimento
A Polícia Civil informou que representantes da empresa estiveram no IML na tarde deste sábado (5), mas não foram intimados formalmente para prestar depoimento, que deve acontecer nesta segunda-feira. O motorista do ônibus ainda não foi localizado.
Por volta das 21h deste domingo, o Ministério da Defesa emitiu nota, confirmando a realização do traslado. Informou que as aeronaves serão disponibilizadas para transportar o corpos, parentes de vítimas e sobreviventes. Vítimas que seguirem para São Paulo serão levadas por meio terrestre.