Ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Rodrigo Pimentel afirma que as mílicias dominam a venda do coco nas praias mais famosas da cidade. Segundo o ex-militar, que integrou a PMRJ entre 1990 e 2004 e é autor do livro que deu origem ao filme Tropa de Elite, a “máfia do coco” estabelece os preços do produto e define áreas de atuação de cada grupo.
“Lá no Rio de Janeiro tem uma máfia do coco. Você só pode comprar coco nos quiosques da praia da Barra, Ipanema, Copacabana, de fornecedores específicos. Se você tenta vender coco ali, o cara que comprar o teu coco vai ter o quiosque queimado”, disse Pimentel em sua rede social.
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O ex-militar atribui às milícias o alto preço cobrado pelo coco nas praias do Rio, em comparação com o preço do produto em outros estados. “Tanto é que o coco do Rio de Janeiro é um coco de R$ 8, R$ 9, você vai consumir um coco no Nordeste é R$ 3, às vezes mais barato que isso”, observou.
De acordo com Pimentel, ex-policiais e criminosos participam de um esquema de extorsão que obriga os vendedores a comprarem o coco dos mesmos fornecedores, supostamente ligados às milícias cariocas.
“A máfia do coco estabeleceu o preço, estabeleceu o território que você não pode invadir, através do medo da extorsão, de milícias, eventualmente ex-policiais ou bandidos mesmo. Qualquer produto que você venda sem nota fiscal, sem recolher imposto, que eu preciso de um território, vai ter mortes. Então a milícia do Rio de Janeiro domina hoje o coco”, afirma.
“A exclusividade do coco nas areias cariocas: um jogo de poder. Nas praias de Barra, Ipanema e Copacabana, vender cocos pode significar entrar em um território perigoso, dominado por milícias. O alto preço do coco no Rio, que pode chegar a R$9, reflete o controle rígido e as práticas de extorsão que assolam os comerciantes locais”, diz Pimentel, na publicação.
O livro Elite da Tropa foi lançado em 2006, assinado por Pimentel, em parceria com Luiz Eduardo Soares e André Batista. O filme Tropa de Elite, baseado na obra, foi lançado em 2007. O ex-militar nega que o personagem principal do filme tenha sido inspirado nele mesmo e diz que o Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, foi criado a partir de eventos ocorridos com ele e outros PMs.
O ex-militar ingressou na PMRJ aos 19 anos e pediu sua exoneração aos 33. Foi integrante do Bope entre 1994 e 2000. Hoje, atua como consultor de segurança, profere palestras e mantém um canal no YouTube onde comenta histórias de colegas de farda e apresenta dicas sobre como evitar ser vítima de criminosos.