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Injúria racial: funcionária de pizzaria depõe contra Wassef

Duas testemunhas ouvidas pela Polícia Civil confirmaram versão da vítima, que relatou ter sido chamada de 'macaca'

A atendente de uma pizzaria, em Brasília, reafirmou em depoimento à Polícia Civil, nesta quinta-feira (12), que foi vítima de injúria racial praticada por Frederick Wassef, ex-advogado da família do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Duas testemunhas ouvidas durante a tarde confirmaram a versão da funcionária.

A mulher, que preferiu não dar entrevista, esteve na 1ª Delegacia de Polícia, na Asa Sul, que investiga o caso. Ela relatou que foi chamada de "macaca" após Wassef reclamar que a pizza "não estava boa". Segundo a atendente, o crime ocorreu no último domingo (8), em uma loja da Pizza Hut.

Por volta das 20h, Frederick Wassef esteve na 5ª Delegacia de Polícia, no centro da capital, e registrou uma ocorrência por denunciação caluniosa. Ele nega o relato da mulher. De acordo com o advogado, "tudo que foi dito pela funcionária são mentiras e calúnias".

O advogado disse ainda que é "vítima de uma farsa e armação montada". Ele afirmou que o caso visa "futura ação indenizatória para ganhar dinheiro".

Segundo Wassef, "o Brasil foi induzido em erro e enganado por uma fraude que diz que eu chamei de negra e macaca e que eu não queria ser atendido por ela". O advogado disse que a mulher "mentiu deliberadamente, orientada, treinada e instruída por terceiros que, inclusive, patrocinaram esta fraude".

Análise das câmeras de segurança

O delegado responsável pelo caso, Marcelo Portela, informou que a Polícia Civil vai analisar as câmeras de segurança da pizzaria, para confirmar a presença e a conduta de Frederick Wassef.

"Somente a partir da junção de todos os elementos poderemos chegar a alguma convicção", disse o delegado.

Injúrias frequentes

De acordo com o relato feito pela atendente, que consta do boletim de ocorrência, Wassef "é um cliente frequente do estabelecimento, porém é conhecido por se tratar de uma pessoa arrogante e que destrata os funcionários".

Ela contou à polícia que, em outubro, o advogado já tinha feito agressões verbais dizendo ofensas como: "não quero ser atendido por você, você é negra e tem cara de sonsa e não vai saber anotar o meu pedido".

Ainda de acordo com os relatos da atendente, "com o intuito de explicar os tamanhos das pizzas, lhe mostrou as caixas vazias como mostruário. Neste momento, Frederick jogou a caixa ao chão e disse para ela pegar. A vítima contou que ficou constrangida e se sentindo muito humilhada, mas pegou a caixa e se retirou", diz o boletim de ocorrência registrado pela mulher.

Funcionária tentou evitar Wassef

Ainda de acordo com os relatos, quando a atendente viu Wassef chegar, no último domingo, dia do caso que resultou no registro da queixa, ela falou para o gerente da pizzaria que não queria atendê-lo. Na ocorrência, o gerente contou aos policiais que, sabendo do problema anterior, deixou a funcionária no caixa.

A vítima, então, conta que foi ofendida no caixa. Ela afirmou aos investigadores que o advogado perguntou se a mulher teria comido a pizza e ela respondeu que não. Com a negativa, de acordo com o boletim de ocorrência, Wassef teria dito em voz alta: "Você é uma macaca! Você come o que te derem."

Por meio de nota, o advogado do grupo Pizza Hut, Bernardo Fenelon, informou que acompanhou a vítima no momento do registro da ocorrência policial (leia íntegra da nota mais abaixo). De acordo com ele, "os fatos são inaceitáveis" e a cliente "espera que a justiça seja feita".

Racismo e injúria racial

De acordo com a legislação brasileira, o crime de racismo é aplicado quando a ofensa discriminatória é contra um grupo ou coletividade. Por exemplo, impedir que negros tenham acesso a estabelecimento comercial privado.

Já com base no Código Penal, injúria racial se refere a ofensa à dignidade ou decoro, utilizando palavra depreciativa referente a raça e cor com a intenção de ofender a honra da vítima.

Leia íntegra da nota de Frederick Wassef

"Tudo que foi dito pela funcionária do Pizza Hut são mentiras e calúnias contra minha pessoa. Sou vítima de uma farsa e armação montada. Sou vítima de denunciação caluniosa que foi organizada sob orientação de terceiros, visando futura ação indenizatória para ganhar dinheiro através desta fraude arquitetada.

Não chamei ninguém de macaco. A funcionária não é negra e mentiu, afirmando que eu a chamei de negra e por isso não queria ser atendido por ela. Foi fazer um boletim de ocorrência três dias após o fato narrado, levou fotógrafo para tirar sua foto na delegacia fazendo o B.O [boletim de ocorrência] e divulgou para a imprensa imediatamente.

Existem seguranças na porta do Pizza Hut, a poucos metros ao lado da pizzaria, que ali ficam permanentemente para fazer o protocolo da Covid 19, na entrada do shopping. Se fosse verdade o que a funcionária afirmou falsamente, teriam me prendido em flagrante e filmado com celulares. Outra mentira é que outros funcionários teriam testemunhado o narrado por ela. Ela estava sozinha no caixa e ninguém estava perto. Apenas parei no caixa para pagar a conta e fui embora. Vou comunicar a polícia deste crime de denunciação caluniosa do qual fui vítima."

Leia íntegra da nota da Pizza Hut

"Em razão dos recentes episódios de agressões verbais e físicas, bem como de discriminação racial/social, ocorridos na unidade da Pizza Hut localizada no Píer 21, em Brasília, por parte de um cliente contra funcionários da loja, a Pizza Hut Brasil vem a público manifestar seu absoluto repúdio aos fatos ocorridos e seu apoio aos funcionários agredidos e ao franqueado da referida unidade.

A Pizza Hut Brasil vem dando todo o suporte para os colaboradores e parceiros agredidos para que os mesmos façam valer os seus direitos e para que sejam tomadas as medidas necessárias para evitar que tais atos se repitam, entre as quais a comunicação dos fatos para as autoridades competentes mediante o registro de um boletim de ocorrência contra o agressor."

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