O relatório da investigação responsável pela Operação Alegria, realizada na manhã desta quinta-feira (8), aponta que o ex-diretor do complexo penitenciário Nelson Hungria, Rodrigo Malaquias, era o principal alvo e articulador do esquema de corrupção. Ele cobrava R$ 50 mil para que os detentos não fossem transferidos do presídio.
Rodrigo Malaquias foi preso no apartamento dele, uma cobertura no Barreiro, e levado para a sede da Polícia Federal. Os agentes apreenderam documentos e também um carro e uma moto de luxo no endereço.
Leia também
A força integrada de combate ao crime organizado de Minas Gerais cumpriu, na manhã desta quinta-feira (8), 28 mandados de prisão preventiva e 45 de busca e apreensão em Belo Horizonte e mais 14 cidades do estado. A operação, que reuniu policiais federais e do estado, foi realizada para combater organização criminosa que se instalou em unidades prisionais do estado.
O advogado Fábio Piló, que já foi presidente da Comissão de Assuntos Carcerários da OAB, também foi preso por envolvimento no esquema. Segundo investigações, ele teria enviado um áudio ao ex-diretor da penitenciária após um preso ser baleado por um policial penal. "A meta é sumir com este cara", disse, fazendo referência ao policial. Malaquias respondeu: "Piló, cauterlamente, ele está afastado. Cabê, acabou". (Veja mais detalhes de negociações no vídeo)
Outro preso envolvido no esquema é o delegado Leonardo Estevam Lopes. Ele teria negociado uma transferência de preso com uma advogada. A transferência não aconteceu. Mas a participação do delegado foi o bastante para que ele fosse enquadrado no crime de corrupção passiva.
O que dizem os envolvidos
O advogado de Rodrigo Clemente Malaquias, Leandro Martins, disse que vai se manifestar após ter conhecimento dos autos do inquérito.
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) falou que não compactua com os desvios de conduta de seus servidores e tem atuado, com prioridade e dentro do que prevê a lei, no combate a ações criminosas. "Os profissionais presos nesta manhã não conjugam dos valores dos mais de 17 mil servidores que, diariamente, possuem a missão de custódia e ressocialização de cerca de 60 mil internos em Minas."
Segundo a Sejusp, Rodrigo Clemente Malaquias exerceu a função de diretor-geral da Penitenciária de Contagem I (Nelson Hungria) entre 22/12/2017 e 18/06/2020, quando foi destituído do cargo de chefia. "Policial penal de carreira, Rodrigo Malaquias encontra-se atualmente em usufruto de férias regulamentares sem alocação em unidade específica", disse a pasta.
Em nota, a OAB disse soube, na manhã desta quinta, da operação envolvendo a suposta participação de advogados. "A OAB/MG repudia veemente todos os atos de corrupção e está acompanhando a operação. Já foi determinada a instauração de processo administrativo e, caso fique comprovada a participação de advogados, a Seccional Mineira aplicará todas as sanções cabíveis.
A Polícia Civil foi questionada sobre a investigação de atuação do delegado na ativa Leonardo Estevam Lopes no esquema, mas respondeu apenas o seguinte: "A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) manifesta que, por meio da Ficco, realizou as investigações que culminaram na Operação Alegria, em conjunto com a PF, Depen Federal e Depen Estadual. A Corregedoria da PCMG participou do cumprimento dos mandados. Quatro policiais penais e um delegado da PCMG foram presos. A PCMG não confirma nomes, em obediência à Lei de Abuso de Autoridade".
O advogado, Fernando Magalhães, que faz a defesa dos advogados Fábio Piló e Luis Astolfo Sales Bueno disse que provará nos autos que a prisão de ambos é contrária a todos os preceitos legais. "Buscavam a tempo tratativas para oferecer esclarecimentos que envolvem os mais altos cargos afetos à gestão governamental em especial a Secretaria de Segurança Pública. Diante de tal, ficamos estarrecido mas permanecemos confiantes na justiça. Buscaremos a breve solução. Cremos ainda que a OAB-MG e Federal não silenciará diante dos fatos e preservará o direto de seus assistidos".