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Bailarinos da Cidade de Deus conquistam bolsa de estudo fora do país

'Garotada enfrenta tiroteio pra chegar em aula de balé', diz professora

Três bailarinos estão prestes a deixar a Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, para conquistar os Estados Unidos e a Itália por meio do balé. Selecionados para bolsas integrais de estudo, os jovens deram início a uma arrecadação de dinheiro para pagar as despesas no exterior e, finalmente, realizarem os próprios sonhos.

Alunos de uma academia que foi improvisada em um quarto de uma casa da comunidade, Daniel Coelho, de 19 anos, Ana Carolina Baptista, de 15 anos, e Gabrielle Bezerra, de 16 anos, contaram ao G1 os desafios que enfrentaram para chegar até a conquista, como ensaios em meio a troca de tiros.

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"Quem diria que um jovem da comunidade sonhador, sonhando em ser bailarino, pudesse chegar no primeiro mundo, [com] a oportunidade de [estudar em] uma grande escola? É história na CDD hoje. Não só um, agora três de uma vez e todos os outros que estão sonhando em fazer a prova do ano que vem para chegar lá também", disse a coreógrafa, bailarina e professora Valéria Martins.

Daniel e Ana Carolina foram selecionados para a Companhia Ajkun, nos Estados Unidos, enquanto Gabrielle foi escolhida para um workshop na Itália. A menina tem ainda a chance de ir Nova York com os amigos.

Para chegar até a bolsa, o caminho foi longo e repleto de obstáculos. O trio, que tem uma rotina intensa de treinos, passava cerca de seis horas, de segunda a sexta-feira, nas aulas de dança.

"Eu estudo de manhã até 12h, depois vou pra casa, almoço e venho pra academia. São umas seis horas de aula por dia. Foi muito treino e muito ensaio pra gente realmente conseguir", disse Ana Carolina.

Passado o treinamento, as bailarinas precisavam fazer uma apresentação ao vivo, de forma remota, para a companhia, mas, no momento da prova, houve um tiroteio e a acabou a energia elétrica.

"A gente fez juntas a prova. Foi muito engraçado, porque a gente teve que fazer duas provas. Na primeira faltou luz, saiu tiro, mas a gente estava lá tentando. Arranjamos uma luz, colocamos uma luz lá e a gente conseguiu fazer a prova", lembrou Gabrielle.

Diferente das meninas, que passaram pelas etapas em setembro deste ano e têm viagem marcada para janeiro de 2022, Daniel Coelho recebeu a bolsa em outubro do ano passado. Com a pandemia do novo coronavírus, a viagem foi adiada para julho de 2021. Para ele, o atraso foi um aliado, já que teve mais tempo para juntar dinheiro. Interessados em ajudar podem entrar em contato pelas redes sociais.

"Durante o dia eu vendo coisa, faço algumas vendas tentando buscar o dinheiro para poder conseguir [viajar]. A minha expectativa está a mil. É um sonho que vai ser realizado, minha vontade é enorme é de estar lá participando. É um mundo diferente, a gente não está acostumado a viver isso. Nós vamos ver outras pessoas, aulas diferentes, oportunidades diferentes", afirmou Daniel.

A professora Valéria contou que, para ela, todos os alunos são super-heróis e também fazem parte da família. Durante a pandemia, a professora chegou a arrecadar cesta básica para alguns que estavam em condições financeiras difíceis.

"Imagina uma garotada que enfrenta tiroteio pra chegar em uma aula de balé, em um ensaio? Pra mim, eles são super-heróis. A galera da comunidade tem um coração mais entregue. Eles são mais apaixonados, dão mais valor, então eu acabei me apaixonando", disse Valéria.

Na escola da coreógrafa, 50% dos 45 estudantes são bolsistas, enquanto outros pagam entre R$ 15 e R$ 50. Para ela, o que importa é a vontade de aprender.

"A academia é um quarto que a gente abriu um pouco, puxou para varanda. É um 'puxadinho'. Por ser na comunidade, eu comecei a cobrar metade do valor das outras academias. Hoje, eu tenho crianças que pagam R$ 15 reais, outras R$ 30 e R$ 50. Tenho 50% que não pagam nada, mas não deixam de fazer. Então a gente pede uma água sanitária, ajuda a limpar a escola. A gente faz mutirão para limpar" contou a professora.

A bolsa de estudos na companhia americana não representa somente uma oportunidade de carreira para os bailarinos da Cidade de Deus, mas também uma chance de melhorar a vida deles e de suas famílias.

"Eu fui o único da minha família a ter mais estudos, um futuro, um caminho, um propósito para traçar, então acaba isso sendo um pouco novo para eles. Acaba que eles não têm muita expectativa como eu tenho. Eles estão esperando eu realizar esse sonho, estão botando toda fé em mim. É uma ponte para eu poder pra melhorar a vida da minha família", contou Daniel.

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