Sobre todas as coisas que há para serem ditas para as mulheres é significativo começar pela cobrança. E por que esse artigo está direcionado apenas para elas? Ao decorrer do mesmo, torna-se mais claro.
Não é surpresa para ninguém que desde que o mundo é mundo as cobranças são maiores para as mulheres. Quando sua existência era vista como tendo a única função de gerar uma vida, era cobrada por gerar a vida perfeita, um filho perfeito, sem condições que o limitassem. Quando foi possível trabalhar, a execução teria de ser perfeita. Caso contrário, ficaria confirmado de que a perfeição só provém do homem. Quando casadas, esposa perfeita, saiba cozinhar, lavar, passar, caso contrário, morrerá sozinha. São tantos tópicos que é obvio que em um algum momento, mesmo sem nada nós cobrando (pelo menos não diretamente) essa cobrança partiria de nós mesmas. O corpo perfeito, o relacionamento perfeito, a saúde mental perfeita, profissional perfeita, isso não parece impossível? Parece, porque é. Na prática clínica, é comum receber mulheres que se sentem frustradas. Frustradas porque o relacionamento acabou e não deram tudo de si, culpadas porque viviam uma situação de dependência e não conseguiram sair a tempo antes de estarem totalmente traumatizadas e feridas. Insatisfeitas porque não conseguem cumprir as quinzes funções que colocam em sua agenda, mesmo sabendo que é humanamente impossível cumprir todas.
Muitas circunstâncias existentes são dignas de deixarem todos pensativos e reflexivos, isso é fato. Porém, particularmente, as situações em que a mulher é exposta a episódios de violências, seja qual for ela, e ainda sim se sentem culpadas como se tivessem culpa nisso, são as que mais me intrigam. Como pode ser possível, ser a vítima, e ao mesmo tempo se sentir a vilã? Não parecem coisas contraditórias?
Quando me propus a seguir a psicologia, tive a certeza de que queria ter meu foco de atendimento em mulheres pois de alguma maneira sentia que, esse peso, essa cobrança, a culpa, permeia quase cem por cento desse grupo. Fala-se muito sobre poder feminino, e é nítido que toda mulher tem a sua força, mas algumas ainda não a desenvolveram plenamente, não a descobriram, e é por isso que esse artigo é direcionado a mulheres, a todas aquelas que se libertaram, se descobriram e para aquelas que estão no caminho. Não se esqueça pelo caminho, não abra mão de você por ninguém, conquiste sua independência financeira e seja independente. Não é um caminho fácil, são muitas ideias distorcidas construídas ao longo do tempo sobre o que é ser mulher, qual sua função, o que é certo ou errado, mas estamos no caminho, é possível.