Muito se fala, e se abusa, hoje do meio digital. Vivemos em uma era “eletrônica e moderna” moldada no mote de que a tecnologia entrou como modo facilitador do nosso meio de vida e de cuidado. Mas em que momento passamos do ponto? Estamos no ápice da geração Y, os nascidos no século XXI em um mundo em que a internet faz parte de toda a rotina diária, que começou a gerar família e filhos.
Mas antes de contextualizar as crianças, precisamos analisar o contexto dos pais. As duas gerações anteriores seguiam o padrão conservador e tradicional de família: o pai provedor trabalhava fora e a mãe ficava com as tarefas domésticas e cuidado com as crianças, contudo o mundo evoluiu e mudou, com as mulheres agora no mercado de trabalho, com quem ficariam as crianças? A carga de trabalho, stress, falta de tempo e recursos financeiros gerou uma nova e perigosa babá: a tela.
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Não vamos negar a eficiência assustadora da ferramenta, ela hipnotiza em poucos segundos, gera um silêncio absoluto e espaço o bastante para que os pais também fiquem inertes em seus próprios aparelhos. Entretanto, toda essa comodidade e facilidade, vai cobrar um alto preço em relação à saúde física e mental de todas as crianças, seja em curto prazo, seja na idade adulta.
Se antes era uma suspeita, com ainda pouca informação científica disponível, após a pandemia (com grande isolamento e uso abusivo de telas por grande período) os casos começaram a aparecer com mais transparência. Muitas revisões foram feitas sobre o assunto, em diversos países e em diversas faixas etárias, mas as conclusões foram sempre semelhantes: o uso de tela prejudica a fala, qualidade de sono, interação social, concentração, memória de trabalho e aumento de gordura corpórea.
Vale ressaltar que nestes trabalhos houve comparação entre os variados tipos de tela, e a televisão e o videogame não geraram prejuízos senão o prejuízo na qualidade de sono. Ou seja, o “grande mal” recai sobre os meios manuais de tela: os celulares e tablets. É então importante que, por mais que seja tentador e cômodo, retiremos as telas de nossas crianças. Sabemos que existem realidades e realidades, que o home office estimula distração da criança com sua tela, que às vezes falta uma rede de apoio, mas não vai valer a pena.
Precisamos nos policiar, precisamos voltar a ser exemplos de leitura e não exemplos de noites ou refeições com celulares nas mãos. Famílias são formadas com convívio e conversa, com vínculo próprio, com interesse e com brincadeiras. O uso de início “inocente”, deixará a criança mais estimulada, mais agitada, com menor sono e concentração. Resultado? Uma criança mais difícil de lidar e, por ser difícil, mais uma vez a tela vai ser usada como distração e o ciclo de destruição se reinicia.
Dr. Ricardo Cesar de Abreu Junior | @pediatriahumanizada
Médico Intensivista Pediátrico pela Universidade Federal de São Paulo.
Médico Pediatra pela Faculdade de Medicina do ABC.
Coordenador de estágio de residência médica em pediatria e graduação em Urgências Pediátricas da Faculdade de Medicina do ABC.
Entusiasta do atendimento médico individualizado e focado na humanização e bem-estar da criança e da família.
CEO da Clínica Sendo Criança - Clínica especializada em atendimento acolhedor, inclusivo e humano.