Você já se perguntou por que comportamentos muitas vezes parecem se perpetuar por
gerações? “Como pode essa pessoa cair nesse tipo de relacionamento, tendo visto a sua
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mãe sofrer por igual motivo uma vida inteira? Ou mesmo vendo as consequências disso
ao longo de toda historia, na TV, nos jornais, nas novelas?”
Ao longo dos séculos várias abordagens buscaram explicar o fenômeno de transmissão
geracional dos comportamentos. Seria isso genético? Social? Psicológico?
Um grande passo em direção às respostas foi dado por Gustav Jung, pai da psicologia
profunda, quando apresentou em seus estudos o conceito de inconsciente coletivo e seu
potencial transmissivo.
Inconsciente coletivo? Mas o que é isso?
É a camada mais profunda da nossa psique preenchida por conteúdos arquetípicos:
elementos que carregam predisposições para a revivência individual de experiências com base
na herança de componentes de experiências longevas da humanidade. Mas, no que tange ao
recorte familiar, como essa influência se estabelece?
A resposta, segundo o mesmo autor, é mais simples do que parece: o exemplo.
“A criança identifica-se com o ambiente onde vive, e de modo especial
com os pais. Para dar ideia do quanto é estreita a fusão da psique infantil
com a psique dos pais, basta dizer que um cliente de Jung, incapaz de
recordar seus sonhos, foi, na primeira fase do tratamento, analisado através
dos sonhos de seu filho de 8 anos. O menino sonhava os problemas eróticos
e religiosos do pai” (NISE DA SILVEIRA, Jung vida e obra)
Talvez nos seja mais fácil enxergar, pegando como analogia o exemplo da cultura maior;
essa cultura para além da familiar, marcada por influências sociais. Esta nos faz
incorporar uma série de comportamentos; desde a forma como nos cumprimentamos, se
é por dois beijinhos, se é nos curvando como na cultura japonesa, até o modo como
sentimos. Se somos mais expansivos, como os brasileiros, ou retraídos, como os alemães,
em termos gerais.
Isso se expressa em um comportamento "geracional" que passa pelo exemplo de geração
para geração, reforçado por diversos dispositivos culturais.
Eu posso romper esse conteúdo incorporado, por exemplo, e sair cumprimentando as
pessoas igual a um japonês? Posso, mas vai me soar estranho, não é? Por ser algo
antinatural, durante um tempo irei ter lapsos ao cumprimentar de outra maneira, até que
esse elemento novo se integre à minha consciência.
Ou seja, o ambiente parental, mesmo quando nocivo, incorpora-se de forma inconsciente
a nós, influenciando nossa resposta primeira/instintiva. Neste mesmo sentido, podemos
explicar o comportamento questionado no início desta nossa abordagem, de alguém
arriscar-se em relacionamentos complicados, mesmo com todos os alertas externos no
sentido contrário. Ela poderia fazer diferente? Poderia, mas soaria antinatural, por
contrariar a sua experiência dentro da cultura familiar de origem.