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28 Dias de Silêncio

Relatos de uma das viagens mais relevantes de uma viajante, a interna

Se você tivesse que escolher a experiência mais marcante dentre todas as vividas, qual você escolheria? As festas? Os lugares mais badalados e visitados? Talvez o contrário, os mais raros e menos conhecidos? Pois é, eu escolhi esta e viajei para um dos lugares mais raros e usando um dos veículos mais incomuns do mundo. O lugar? DENTRO DE MIM. O veículo? O SILÊNCIO.

Por ter visitado mais de 100 países antes dos 30 anos, eu confesso que já encarei muitas experiências diferenciadas ao redor do mundo. Ganhei histórias para contar e pude aprender e evoluir cada vez mais, conforme fui convivendo com diferentes estilos de vida, culturas e mentalidades. 

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Porém, de todas essas aventuras, uma das mais significativas aconteceu em Chiang Mai, na Tailândia, onde tive a oportunidade de viajar para dentro de mim mesma e reaprender a importância de viver o momento presente com consciência e atenção plena.

Naquela época, estava passando por uma fase de questionamentos quanto à minha carreira. Foi em 2014, quando estava vivendo em Bangkok e decidi passar um final de semana em Chiang Mai, cidade ao norte da Tailândia. Peguei um ônibus de 12 horas para chegar até lá. A ideia era voltar em 2 dias, mas no caminho, fiz amizade com uma mexicana que estava indo a um templo para viver a experiência da Vipassana — uma das técnicas mais antigas de meditação, e ficar 28 dias em silêncio. 

Lembro de ter achado interessante, mas nunca me imaginei fazendo algo do tipo, ainda mais eu, que adoro me comunicar. Após alguns acontecimentos pessoais do final de semana, tive vontade de ficar em silêncio por uns 3 dias, para ver se encontrava respostas sobre os próximos passos da minha vida dentro de mim. Decidi ir conversar com o monge do templo chamado Wat Rampoeng e ele me informou que o programa teria duração mínima de 10 dias e máxima de 28!

A próxima turma começava dentro de 2 dias e geralmente as pessoas se programam durante meses para participar — decidi começar e tentar a imersão de 10 dias inicialmente, afinal, caso não gostasse, eu poderia sair a qualquer momento e o monastério funcionava à base de doações — eu não precisei pagar nada para estar lá, poderia decidir com quanto gostaria de contribuir ao final do programa. 

Quando me dei conta, eu já estava no centro de meditação, acordando às 4h da manhã, diariamente, sem acesso à internet ou telefone por praticamente um mês inteiro. O intuito era aprender a valorizar nossa fala, audição e tato.  Todos nós tínhamos que usar roupas brancas, tomar banho frio e não podíamos usar maquiagem. 

Passei 28 dias meditando em silêncio por praticamente todo o tempo. A exceção eram os nossos cinco minutos diários de diálogo com o monge local, um momento para entender sobre como estávamos nos sentindo e receber novas orientações para a prática. Por ser o único espaço do dia em que podíamos conversar, dávamos muito valor a cada palavra dita, assimilando o impacto que elas provocavam e exercitando nossa empatia e escuta ativa. 

Dia após dia, repetimos a mesma rotina: tomar café da manhã, meditar, almoçar, meditar, conversar com o monge, meditar novamente e dormir. O almoço era a nossa última refeição, já que conforme a tradição budista, não podemos comer nada sólido após às 12h. Com exceção de água, suco ou leite de soja, ficávamos de jejum até a manhã seguinte, o que agregava ainda mais valor a cada alimento ingerido, com a intenção de nutrir o corpo, sem dar oportunidade para a gula ou então para o consumo em ritmo acelerado. Afinal, Vipassana é isso mesmo: viver o momento presente e apreciar da melhor forma tudo o que ele tem para oferecer.

Uma das coisas mais interessantes de toda essa experiência foi perceber a minha capacidade de resiliência e disciplina diante de tantos desafios. No primeiro dia, meditamos sentados em posição de lótus por 5 minutos, em seguida, caminhávamos de maneira consciente por mais 5 minutos. Repeti essa sequência várias vezes ao longo das práticas e, a cada dia, somavam-se mais alguns minutos na série. Segui assim até atingir 60 minutos de cada, chegando a meditar de 12 a 14 horas ao dia. Antes disso, nunca havia me desafiado dessa forma e foi muito gratificante perceber o que nosso corpo consegue fazer quando o incentivamos a ir além e também o quanto a nossa mente é importante neste processo. 

Tive várias memórias de infância, sentimento de gratidão por pessoas que foram tão importantes na minha jornada de vida e alguns arrependimentos também, sempre lembrando de processá-los com amor e compaixão comigo mesma. Afinal, agimos de acordo com nosso nível de evolução e consciência até então.

Quando cheguei ao décimo dia, me senti tão emocionada, em paz e plena, que decidi seguir até os 28 dias de programa completo. Nos dois últimos dias, vivi o que eles chamam de “determination period” (Período de Determinação), em que fiquei isolada no quarto por duas noites seguidas, sem poder dormir, nem tomar banho. Esse espaço servia para assimilar tudo o que vivenciei ao longo dessa experiência, permitindo que o subconsciente pudesse expressar as mensagens mais importantes sem a interrupção do sono ou do banho. Ali, o objetivo era processar cada um dos 26 dias vividos até então, já com a mente limpa de informações externas. 

Então, segui a mesma rotina de antes, porém, desta vez sem descanso nem diálogo. Fiquei com muito sono, mas foi um período essencial para entender tudo o que encontramos no silêncio que está dentro de nós e que, muitas vezes, não podemos processar por estarmos sempre rodeados de estímulos externos (barulhos, informações, estímulos visuais, mídias e sociais).

Através das inspirações, conheci uma nova versão da Luiza, mais calma, consciente e em paz. Descobri em mim um espaço seguro, ao qual eu posso recorrer sempre que necessário — e que todos temos dentro de nós.

Reconectei-me com meus valores, minha essência e meu propósito, independentemente de expectativas sociais ou de pressões externas. Foi assim que, sem nem suspeitar, a Vipassana se tornou exatamente o que eu estava precisando em um momento de tantas dúvidas: uma viagem para dentro de mim.

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