Reeleito governador de Alagoas em 2022, Paulo Dantas assumiu o cargo enfrentando o desafio de lidar com os prefeitos das duas maiores cidades do estado, João Henrique Caldas (JHC), em Maceió, e Luciano Barbosa, em Arapiraca.
Ambos se colocaram na oposição ao governo estadual, o que tensionou as relações não só na campanha eleitoral, mas também no início da gestão do segundo governo de Dantas (o primeiro foi por via indireta) em janeiro de 2023.
O atrito foi agravado pela forma como se deu participação de JHC e Luciano Barbosa na campanha eleitoral da reeleição de Paulo Dantas, o que alimentou um ambiente político polarizado.
Reeleito, o governador não demorou a tentar construir um contrapeso político nas câmaras municipais de Maceió e Arapiraca. Em ambas as cidades, formou-se um grupo de oposição aos prefeitos, incentivado, direta ou indiretamente, pelo Palácio República dos Palmares.
Contudo, o cenário mudou de maneira significativa ao longo do tempo, especialmente no caso de Arapiraca.
Luciano Barbosa parece ter percebido a importância de um diálogo institucional mais próximo com o governador. E desde 2023 trouxe de volta ou manteve em seu círculo de aliados nomes de peso da política alagoana, como o senador Renan Calheiros, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o senador Rodrigo Cunha e o deputado federal Paulão. E, no centro dessas articulações, Barbosa reatou laços com Paulo Dantas.
O governador, em diversas ocasiões, reiterou que sempre esteve aberto ao diálogo institucional e republicano com todos os prefeitos. A relação restabelecida com Luciano Barbosa exemplifica essa postura. Arapiraca nunca deixou de ser contemplada em projetos e investimentos do governo estadual, mas os investimentos parecem ganhar celeridade com a aliança entre Barbosa e Dantas. Um dos exemplos mais evidentes é o início das obras do Hospital Metropolitano na cidade.
Em Maceió, a situação é bem diferente. O prefeito JHC, desde o início da gestão Dantas, demonstrou resistência em estabelecer uma relação de cooperação com o governo estadual. Mesmo em momentos críticos, como a crise envolvendo o afundamento dos bairros da Braskem, o governador se colocou à disposição, mas o prefeito manteve uma postura de distanciamento.
Essa atitude se repetiu em diversas outras ocasiões, onde JHC se furtou a compromissos oficiais e preferiu manter o palanque político armado, mesmo após o fim da campanha eleitoral.
Em recente entrevista, Paulo Dantas fez uma avaliação sobre a vitória expressiva do governo em 78 municípios alagoanos, ressaltando o bom desempenho de sua gestão e da articulação política capitaneada pelo senador Renan Calheiros.
Dantas aproveitou o momento para comentar a relação com JHC, afirmando que o distanciamento não é responsabilidade dele. “Sempre mantive a porta aberta ao diálogo”, disse o governador, que classificou a postura de JHC como uma decisão unilateral de manter o clima de confronto.
Enquanto Luciano Barbosa escolheu o caminho da cooperação, colhendo os frutos dessa aproximação, JHC parece preferir manter o distanciamento, possivelmente pensando mais em sua trajetória política do que nos interesses imediatos de Maceió. Se essa estratégia surtirá o efeito desejado em 2026, ainda é cedo para dizer. O certo é que, por enquanto, Maceió perde com essa falta de diálogo, enquanto Arapiraca se beneficia da estabilidade e das parcerias em prol do desenvolvimento.
Assim, a diferença de diálogo entre Paulo Dantas, JHC e Luciano Barbosa reflete não apenas estilos de governança, mas também pode ser reflexo de diferentes ambições políticas. Resta saber como esses cenários irão evoluir até a próxima eleição e quais serão os impactos para o estado de Alagoas.
Veja o que disse Paulo Dantas em entrevista sobre a relação com JHC:
“Não me oponho e acho que o nosso diálogo entre o governo do estado e a Prefeitura de Maceió precisa ser melhorado. Sempre estivemos abertos a trabalhar juntos, mas não vemos o mesmo sentimento da gestão municipal maceioense. A creche da Grota do Cigano que foi recusada pelo prefeito JHC ou o recente episódio da retirada dos totens de segurança instalados pelo governo do estado, apesar de todas as formalidades cumpridas, são exemplos claros de que a gestão municipal prefere manter palanques armados. Eu defendo o diálogo, a minha trajetória política prova isso, e este é o caminho que verdadeiramente beneficia a população. Agora para o diálogo acontecer precisa que as duas partes queiram conversar. Eu garanto que há abertura do Governo do Estado, mas há da Prefeitura? “