
A derrota no clássico para o CSA escancarou uma das maiores dificuldades do futebol moderno: entender a cabeça do torcedor. O CRB, que na quarta-feira fez uma partida equilibrada contra o Vitória – com direito a vantagem no placar em duas ocasiões – recebeu elogios da sua torcida, mesmo com um elenco em construção e apenas 30 dias de trabalho sob o comando técnico de um novo treinador. Mas, no clássico contra o rival, a história foi bem diferente.
O desgaste físico acumulado, a sobrecarga de jogos intensos e a falta de rotação no elenco começaram a cobrar seu preço. Lesões de jogadores importantes, como David e Rafinha, e o evidente cansaço de nomes como Nathan Melo e Yan Souto mostraram que o time, mesmo com boa vontade e entrega, ainda sente o peso da temporada apertada e de um elenco limitado.

Em um momento recente, Thiago Silva, zagueiro do Fluminense e astro do futebol brasileiro, trouxe uma reflexão que se encaixa perfeitamente na realidade do CRB. Após um empate do seu time, ele desabafou: “Quando você é obrigado a jogar sem estar preparado fisicamente, é impossível não errar.” Essa frase reflete não apenas a experiência de um jogador de ponta, mas também a realidade de times que enfrentam calendários apertados e desafios estruturais. No caso do CRB, ficou evidente que não há mágica, nem atalho. O tempo de trabalho é um dos fatores cruciais para evitar falhas, lesões e, claro, resultados negativos – algo que ficou claro nas últimas partidas.
O torcedor, naturalmente, exige respostas imediatas. Mas é necessário refletir: em um time em formação, a cobrança por resultados sem dar ao elenco tempo para evoluir pode ser um caminho tortuoso. A falta de reforços em posições-chave, como a zaga , laterais e o meio-campo, coloca em xeque a estrutura do time, que já enfrenta dificuldades para se ajustar. A ausência de um substituto à altura de Falcão e Guilherme Romão, as limitações de jovens como Mateus Pureza, ainda em adaptação ao profissional, agravam a situação. A transição da base para o time principal, aliás, tem sido um desafio, com o desempenho de Pureza no clássico, por exemplo, gerando dúvidas.
Curiosamente, o CRB que jogou de igual para igual com o Vitória é o mesmo que foi superado pelo CSA. No entanto, é difícil não reconhecer que o rival, hoje, está mais avançado nos aspectos táticos, físicos e organizacionais. E, enquanto o Galo ainda busca encontrar seu equilíbrio, surgem pontos positivos – como a boa associação entre Danielzinho e Gegê, e o talento de Nathan Melo, que foi justamente o alvo da estratégia adversária devido à sua qualidade na saída de bola. A evolução de Yan Souto também é visível, enquanto a permanência de jogadores como Léo Pereira, Mateus Albino, Gegê e Anselmo Ramon tem sido fundamental para a estruturação da equipe.
Talvez o erro tenha sido a excessiva confiança, que impediu a comissão técnica de traçar estratégias mais assertivas para neutralizar o rival, que encarou o clássico como uma verdadeira final. E agora, com a expectativa pela chegada de reforços como Segovia e Meritão – além de possíveis laterais para dar mais equilíbrio e rodagem ao elenco – o time do CRB terá a chance de ajustar seus pontos frágeis.
Como bem disse Thiago Silva, a falta de preparo físico, em um calendário apertado como o atual, leva a erros inevitáveis. O futebol não tem varinha mágica, e transformar um time em apenas 30 dias de trabalho é tarefa árdua, ainda mais quando os recursos são escassos.
E talvez resida exatamente aí o maior desafio do CRB: buscar o equilíbrio entre o sonho de um time forte e a dura realidade das limitações do elenco no momento.